sexta-feira, 18 de setembro de 2015

Carta aos emigrantes

Caros emigrantes,

Não percebo a vossa indignação. Todos os dias, quando abro a caixa de correio, recebo muita correspondência não-solicitada. É uma praga. Parece que vocês estão indignados porque alguma da correspondência não-solicitada que receberam vinha de Portugal, mais propriamente, do PSD/CDS--isto indigna-vos.

Deixem que vos diga que vos indignais por pouco. Eu estou indignada por não poder votar porque o Consulado de Portugal recusou a recensear-me--férias da empregada. Estou indignada que o estado português não proteja a minha informação de companhias que me querem fazer mal e me insultam, uma tal de NOS. Estou indignada porque a Polícia Judiciária não responde aos meus e-mails. Estou indignada porque a senhora que me entregou o meu cartão de cidadão não o activou e, quando eu usei os PINs, ficou bloqueado. Estou indignada porque enviei um email ao Portal do Cidadão e ninguém me respondeu.

Mas não é apenas na minha vida privada que encontro motivo de indignação. Estou indignada que o estado português seja o cobrador de empresas privadas. Estou indignada que a Justiça portuguesa seja lenta e sirva os interesses de empresas que roubam os portugueses. Estou indignada porque os partidos portugueses estão cheios de pessoas corruptas e de má índole, que esbanjam os recursos do país. Estou indignada porque a Assembleia da República não defende os interesses do país...

Por isso, caros emigrantes, eu troco a vossa indignação pela minha! Aliás, até dou a minha morada voluntariamente a todos os partidos portugueses para me mandarem correspondência não-solicitada (não se esqueçam de usar selos giros!), se esse for o preço a pagar para se resolver os problemas dos cidadãos portugueses com o estado português.

Com os melhores cumprimentos,
A emigrante Rita

P.S. Arquivem isto em "Problemas do Primeiro Mundo"

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