sexta-feira, 10 de fevereiro de 2017

Vã glória...

Como um nosso leitor me acusou de não publicar comentários, lá fui eu ver os comentários. Já não ia lá há meses. Encontrei um muito engraçado, que acabou no SPAM, a gozar comigo por causa das minhas contas poupança-reforma. Diz assim: "Para a pequena burguesia desta pessoa que acha que vangloriar-se das suas contas fidelity de classe média baixa e' muito impressionante." A pessoa que escreveu isto não deixou o nome, mas acho que o que disse é pertinente.

Para eu vos dar uma boa ideia do que é estar nos EUA, tenho de falar nas contas poupança-reforma porque faz parte do que é viver nos EUA e é uma parte muito importante. É lógico que eu podia falar de tudo isto do ponto de vista teórico, mas julgo que falando do ponto de vista pessoal posso dar-vos a ideia do que é ser emigrante, das coisas que eu aprecio no país que me acolheu, e do que me atraiu aos EUA, pois quando eu vim para aqui da primeira vez, e até da segunda, não foi com intenção de ficar.

Sempre gostei bastante da forma como os americanos falam do planeamento da reforma e foi logo uma das primeiras coisas que notei. Ainda no outro dia pensei que tenho de vos falar nos livros e nos programas de rádio sobre este tema. Aqui, falar deste tópico é sinal de responsabilidade, não é sinal de arrogância. Para além disso, ter opções de investimento combina muito comigo porque, não sei se já repararam, mas tenho uma certa fobia de gerir mal o dinheiro e de acabar na pobreza. Não acho que seja suficientemente grave para eu ir ao psi, mas é uma pequena loucura minha que está perfeitamente controlada, por enquanto. [Não acham que tenho imenso medo de doenças psiquiátricas? Há quem tenha medo de cancro; eu tenho medo de ficar maluca -- é perfeitamente razoável.]

Por falar em maluquices, em Portugal, há uma certa esquizofrenia relativamente ao dinheiro: as pessoas julgam os outros pelas roupas, carros, férias, etc.; fugir a impostos é bem-visto; enganar quando se pode é quase um desporto nacional; mas falar da forma como nós fazemos o planeamento das nossas poupanças é vangloriarmo-nos e um sinal de sermos de "classe média baixa". Porque é que devemos ter vergonha do que planeamos fazer com o produto do nosso trabalho? Notem que um dos grandes problemas da macroeconomia portuguesa é mesmo o país ter poupanças tão fracas, que precisa de se endividar junto ao exterior -- mas essa lição é do FAlex e do LA-C.

Suponho que, para o nosso leitor, quem tem dinheiro não precisa de planear nada porque já o tem; quem planeia é quem não tem. Tente-se explicar isso ao Warren Buffett de forma a ele não nos achar uns idiotas completos -- acho impossível!

Não percebo a necessidade de classificar alguém numa classe, a não ser que se esteja a dizer que há classes de pessoas que deviam estar caladas ou ter vergonha de não pertencerem a outra classe. Mas quem acha isso não tem grande classe.


2 comentários:

  1. A poupança, o instrumento "judeu", é, em Portugal e desde o final dos anos 70/princípio dos anos 80, mal-vista, exactamente pelas razões que aponta.

    É um labéu de "classe-baixa". Quem triunfou na vida exibe - é suposto exibir - despreocupação com o dinheiro. É um sinal de estatuto, como o relógio, o fato, o carro ou as férias.

    Quem poupa tem preocupações com o dinheiro. Se as tem, é porque não teve o sucesso necessário para deixar de as ter.

    É um raciocínio tão infantilmente lógico como corrupto e inquinado. Mas demonstra a sociedade adolescente em que ainda vivemos.

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    1. Olha… O Alexandre (ou sua sombra, suponho) está de volta! Bem vindo… E com que sabedoria! É mesmo isso, digo eu…

      É que esta treta de haver sexagenários infantis, e também com metade dessa idade, a dizerem, compulsivamente, de que gostam e não gostam, sem necessidade alguma, tem muito que se lhe diga…

      Que tristeza… (e obrigado, porque sim.)

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