domingo, 7 de outubro de 2012

Espanha à espera do resgate

No primeiro debate com Obama, Mitt Romney referiu o caso de Espanha para ilustrar aquilo que não quer para os EUA. Segundo o candidato mórmon-republicano, a Espanha gasta 42% da sua riqueza com o Estado, o mesmo acontecendo neste momento nos EUA – Obama não contestou os dados.
À primeira vista, o principal problema de Espanha não é o peso das despesas do Estado. Segundo dados do Eurostat, em 2011, os gastos públicos em Espanha ascendiam a 43,6%, abaixo da média da União Europeia, que supera os 49%, sendo a França, a Bélgica, a Dinamarca e a Finlândia os campeões nesta matéria, com o Estado a pesar mais de 53%. O problema é que os gastos públicos espanhóis são em larga medida ineficientes e, sobretudo, são incomportáveis para o rendimento gerado pelo país. E, como relembrou Romney, numa situação de recessão, as contas públicas não se equilibram com aumentos de impostos.
A referência a Espanha como exemplo de um fracasso não é, todavia, novidade. Sarkozy fez o mesmo recentemente na campanha eleitoral para as presidenciais em França. Obviamente, este tipo de comentários não são fáceis de engolir num país que até há meia dúzia de anos era apontado como um milagre. Andar de cavalo para burro é sempre uma experiência dolorosa.
Na quinta-feira, Luis Maria Linde, Governador do Banco de Espanha, e um economista respeitado em Espanha, chamou a atenção, no Congresso, para a enorme probabilidade de não se cumprir o défice público de 6,3% previsto para este ano. Em relação ao orçamento de 2013, considera optimista a previsão do governo de queda do PIB de apenas 0,5% - sendo, na sua opinião, 1,5% o valor mais realista. Em consequência, as receitas fiscais também devem estar sobrestimadas, sugerindo Linde “medidas de ajuste adicional”. Ainda esta semana, um ex alto dirigente da Moody’s afirmou que a Espanha tem o maior problema de dívida soberana desde o caso da Alemanha em 1931.
Entretanto, paira a ameaça de independência da Catalunha, que, embora improvável, tornou evidente para toda a gente o fracasso de um modelo autonómico, consagrado na constituição de 1978, e elogiado durante anos por muitos. De repente, os espanhóis descobriram um Estado ingovernável, um labirinto de competências e autoridades, que devora milhares de milhões só em despesas de funcionamento. A reforma deste modelo é agora motivo para discussões acaloradas.
Como se tudo isto não bastasse, segundo dados do Ministério de Empleo, referentes a Outubro de 2011, 22% da população encontra-se abaixo do limiar da pobreza – essa percentagem era de 18% em 2007. Por seu lado, na época de maior crescimento, a taxa de desemprego rondava os 8% e agora ronda os 25%.
E é neste estado calamitoso que a Espanha se prepara para receber a terapia de choque da troika. Para nosso bem, esperamos que resista ao tratamento.

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