quarta-feira, 20 de fevereiro de 2019

Dia 50

Quando andei na faculdade a tirar o curso de economia -- ai Deus Meu, comecei o curso há quase 29 anos, para onde é que foi o tempo? --, ensinaram-nos que 5% era a taxa natural de desemprego. Naquela altura era muito difícil observar taxas de desemprego pelos 5%, mas agora é bastante comum. O mercado de trabalho está mais flexível: é fácil montar um negócio online e com oportunidades de emprego tipo Uber, arranjar uma ocupação não depende do resultado de uma entrevista com o patrão, mas da nossa vontade de nos inscrevermos.

A taxa de desemprego, em Portugal, ainda não está nos 5%, mas o Ministro da Administração Interna pensa que está baixíssima, com o país a precisar de 50 a 75 mil imigrantes por ano, pelo menos. Não sei onde é que ele pensa que vai desencantar tanta malta porque nem os refugiados gostam de ficar muito tempo em Portugal. Até a mim não me apetece aí ir e já estou a planear alternativas à minha reforma em Portugal. Vou para aí fazer o quê, servir de alvo para os burlões? Não, obrigada.

É chato não ter ninguém com quem falar português, nem há livros audio -- uma inovação que nunca chegou a Portugal --, mas convenhamos que o Facebook foi inventado por um americano para a minha conveniência. E há um rapaz brasileiro que tem uma conta no Instagram que é espectacular: nas histórias, ele lê contos, poemas, fala de livros, etc. É o Paulo Roberto Farias, que é actor e escritor.

Há um outro detalhe importante: os americanos gostam muito de mim. Por exemplo, fui ao banco fazer o empréstimo para comprar a minha casa e as senhoras que trataram da papelada ficaram super-impressionadas comigo porque eu era uma pessoa muito responsável, uma mulher com boas poupanças, tinha a papelada toda em ordem e sabia o que tinha e não tinha, e até lhes dei a comprovação de emprego sem elas sequer terem de me pedir. Não esperava tanta admiração pelo que fiz, pensei que era o normal que se esperaria de quem vai ao banco, mas elas elogiaram-me tanto que até fiquei um bocado acanhada.

Ah, uma curiosidade. Então, logo na primeira reunião, a senhora avisou-me logo: se prestares informações falsas, ficas em sarilhos. Obviamente, que não presto -- eu sou portuguesa, mas não sou portuguesa. Ter uma senhora assim na CGD teria dado jeito há uns anitos, mas também o enquadramento legal não ajuda, dizem-me. (Esta senhora que me atendeu já era avózinha, o marido tinha-se reformado e ela era o ganha-pão da família. Super-simpática e até me disse para eu passar pelo Banco para a cumprimentar, sempre que estivesse nas redondezas. Nunca na vida uma senhora com esta idade teria um emprego semelhante num banco português.)

Voltando à taxa de desemprego de Portugal, em 2018, estabilizou em 6,7%. Gostaria de saber qual o plano para lidar com esses 6,7%. Bem sei que poderia ir falar com o João Cerejeira, que até foi entrevistado recentemente pelo Público, mas era mais giro se os membros do Governo falassem com mais profundidade do assunto, quem sabe podiam produzir um relatóriozito a explicar o que acham do desemprego português e que ideias têm para melhorar a situação. Estamos em ano de eleições, não é? A altura ideal para apresentar propostas giras.





2 comentários:

  1. A Rita diz que se "(...) os membros do Governo falassem com mais profundidade do assunto,(...) a explicar o que acham do desemprego português e que ideias têm para melhorar a situação", isso seria bom.
    E eu digo: não será perigoso pôr o governo português a pensar nisso? Não será melhor aconselhá-lo a nada fazer? Digo isto por que alguns governos, quando mexem nestas coisas, só fazem asneiras.
    Aproveito para a aconselhar, a si, a não desistir de Portugal. E que pense, a sério, em vir acabar os dias no nosso país, onde muito tinha para ensinar, contando aos nossos jovens o que viu ao longo da sua vida, sobretudo nessa terra que a acolheu, e que é uma vida cheia e interessante, como me parece.

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    1. Olá! Obrigada pela simpatia. Não sei se consigo regressar a Portugal. As pessoas são muito complicadas. Dizem que querem uma coisa, mas depois fazem tudo ao contrário do que devia ser. Mas a ideia de um monte no Alentejo é bem apelativa...

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