domingo, 6 de novembro de 2016

Votei assim...

No final de Outubro, fui ao Skeeters comer um hambúrguer com batata frita, acompanhado de um copo de Cabernet Sauvignon. (Rica vida a minha, mas há uma razão egoísta pela qual vos disse isto.) Depois de terminar o meu jantar, recebi um telefonema acerca das eleições presidenciais para participar num painel de intenções de voto. Qual a probabilidade de eu votar -- não havia probabilidade nenhuma porque eu voto sempre, logo é uma certeza -- mas lá disse "muito provável". Perguntaram-me da filiação partidária e eu disse "Independente", depois em quem ia votar e eu disse "Hillary Clinton", se ia votar num partido e eu disse "Democrata". Ouvi do outro lado da linha um suspiro de exasperação como se a senhora que me telefonava estivesse farta de ouvir a mesma resposta. É a única resposta lógica. Os meus candidatos republicanos são medíocres ou malucos.

Por exemplo, a Devon Anderson, que é a District Attorney aqui do condado, é Republicana e está para ser reeleita. É uma gaja supimpa, tão supimpa que defendeu a decisão de um juiz mandar prender uma vítima de violação porque a vítima era bipolar e teve um ataque de ansiedade quando estava a testemunhar e deu a entender que, se calhar, não voltaria a testemunhar. A vítima não tinha residência no condado e, se saísse do condado e não testemunhasse, o violador sairia em liberdade -- essa foi a explicação da Sra. Anderson para o que foi feito. Diz que não havia alternativa à prisão.

Mas a história não termina aqui: quando foi presa, a papelada da vítima foi mal processada pela prisão, e ela entrou no sistema como suspeita de um crime sexual. Dentro da prisão, a mesma onde estava o homem que a violou e onde passou um mês, foi atacada por um outro preso e por um guarda e foi-lhe negada medicação. Viva o Texas! Estas coisas custam-me dinheiro, pois a vítima levantou um processo em tribunal, e muito bem, contra o estado. Espero que ganhe uma boa indemnização, mas assim haverá menos dinheiro para arranjar as estradas e ainda nem há dois meses eu tive de pagar $2000 para reparar o meu carro na oficina. (Não me digam para eu comprar um carro novo porque, em Houston, os carros novos têm de ir à oficina ao fim de um ano ou dois, dado que as estradas são tão más. E também há as minhas preferências pessoais e eu detesto carros novos. As pessoas que andam sempre a trocar de carro não sabem gerir o seu dinheiro.)

Então a minha intenção era votar Democrata em tudo e foi o que fiz.

Como vivo num condado que tem mais de 400.000 habitantes, o estado do Texas permite-me votar antecipadamente sem restrições, mas as regras mudam de estado para estado, como podem ver numa tabela neste site; há estados que não permitem o voto antecipado.

Para votar no Texas é preciso identificarmo-nos: eu usei o meu certificado de eleitor (voter registration certificate) e a minha carta de condução, mas as regras de identificação são uma bocado confusas e, por vezes, o pessoal que está nas mesas de voto pode não explicar bem o que é preciso mostrar. O Texas é um estado que tem a má fama de dificultar o voto de minorias e de pessoas com pior nível de educação, logo de pessoas que estão mais sujeitas a não ter os documentos necessários.

Se se fizer uma busca no Google, encontramos a seguinte informação para o Texas:
ID requirements

If you have one, bring one of the following. The ID must be current, or be expired for less than 4 years:


  • Texas driver license issued by the Department of Public Safety
  • Texas election ID certificate
  • Texas personal ID card
  • Texas license to carry a handgun
  • US military ID card with your photograph
  • US citizenship certificate containing your photograph (doesn’t need to be current)
  • US passport
If you don’t have any of these, you’ll need to (1) sign a sworn statement that there is a reason why you don’t have any of the IDs listed above, and (2) bring one of the following:
  • Valid voter registration certificate
  • Certified birth certificate
  • Current utility bill (conta de água, electricidade, etc.)
  • Government check
  • Paystub or bank statement that includes your name and address ("paystub" é o extracto do nosso salário, que é emitido pelo nosso patrão)
  • Copy of or original government document with your name and an address (original required if it contains a photograph).
Fonte: Google

Depois de ter participado na amostra das intenções de voto, comecei a sentir uma ligeira paranóia: e se me acontecesse alguma coisa e eu não conseguisse votar? O melhor era ir votar logo. Então fui votar no Sábado, dia 29 de Outubro. Vesti-me de vermelho, branco e azul -- até me maquilhei -- e lá fui eu.

[Uma nota pessoal: eu sou uma pessoa que se emociona muito com estes rituais da Democracia (Há pessoas que acham que os EUA não são democráticos por causa do Colégio Eleitoral.) porque penso sempre no grande privilégio que é poder viver numa altura em que posso votar, quando as mulheres, durante centenas de anos, até milénios, foram consideradas inferiores aos homens.(OK, eu acho que ainda somos, a julgar pela forma como falam de nós. Só a ideia de sugerir que, nós, mulheres, votamos em Hillary Clinton porque votamos com a vagina ou somos feministas, como já ouvi, demonstra que há quem ache que nós não temos capacidade de avaliar um candidato pelos méritos do candidato ou do que nós queremos para o país. Eu consideraria isto um insulto, mas a pessoa que profere estas ideias demonstra o seu nível de ignorância e preconceito, logo não é bem um insulto a mim; é mais um confissão.). Quando tenho oportunidade de votar, sinto o peso de toda essa gente que lutou para que eu tivesse esse direito e parte da razão porque voto é também para honrar essas pessoas que lutaram por mim e pelos meus direitos. Já sei: sou uma idealista romântica. No espectro de todas as coisas que se pode ser, ser uma idealista romântica não é mau de todo.]

Havia muitos cartazes e bastantes pessoas em Bayland Park, onde fui votar no Centro Comunitário, e tive dificuldade em encontrar um sítio para estacionar. À medida que me aproximei do edifício, conheci alguns dos candidatos: uma juíza, uma senhora que concorria ao distrito escolar, os apoiantes de um representante estadual, etc. As paredes exteriores do Centro Comunitário e os passeios de acesso tinham setas coladas a indicar-nos a porta à qual nos devíamos dirigir. Lá dentro havia uma fila enorme, cerca de 30 minutos. Como já tinha ouvido dizer que a espera para votar podia ser longa, precavi-me e levei qualquer coisa para ler e nem dei conta de o tempo passar.

Após entrar na sala de voto, não era permitido usar o telemóvel, logo não tenho fotos para vos mostrar. Dirigi-me a uma pessoa que verificou a minha identificação, tirou um autocolante da máquina com os meus dados (nome, morada, número de eleitor etc.) e colou-o num papel, ao pé do qual tive de assinar. Depois deu-me uma cópia do autocolante com a minha informação e mandou-me ir a outra mesa. Entreguei a minha informação e deram-me uma senha com um código e disseram-me para escolher uma máquina livre e votar.

Na máquina, digitei o código e escolhi a língua (inglês, espanhol, vietnamita, chinês), depois apareceu a lista de todas as coisas nas quais devia votar. Acho que ocupava uns 8 écrans, mas eu seleccionei a opção que me permitia votar Democrata para toda a gente. Depois verifiquei cada écran e cheguei ao final e votei nos referendos. E pronto, votei assim...

Os materiais da campanha

Alguns panfletos que me deram no caminho

Quase ao pé do edifício

Instruções para acertar na porta de entrada

A fila ocupava várias salas e o átrio

Todas as actividades do centro foram canceladas para dar lugar à votação antecipada

Um papel informava que, chegando a esta porta, estávamos a 27 minutos de votar


6 comentários:


  1. Força Rita!

    Estou muito longe daí, mas se a a Hillary ganhar eu bebo um copo a pensar em si!
    Se ela ganhar no Texas, bebo uma garrafa inteira!
    (Eh!Eh! Fique sabendo que nunca me embebedei. Nunca!)

    Bjs
    (se me permite)

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Pode preparar a garrafa e não tem limite de tempo para bebê-la. :-)

      Eliminar
    2. Tenho, tenho. Vai a garrafa inteira sem tomar fôlego pelo meio.

      Eliminar
    3. Pois eu pago um jantar a todos vós se a Clinton ganhar no Texas (baseio-me nas sondagens e não em estados emocionais).

      Eliminar
  2. A democracia tem destas coisas; um ganha, os outros perdem. É a essência do processo democrático pelo qual, no contexto Americano, tenho o maior respeito. Perdoar-me-ão, porém, não me juntar aos vossos festejos antecipados. Não porque suponha que Trump irá ganhar, não por isso. Surpreender-me-á muitissimo se tal acontecer. Mas porque a oponente não é, de todo, o candidato que vejo melhor para os EUA (mas isso pouco me importa) e para o mundo. Hillary será muito ruim e já deu provas disso. Lamentarei a sua vitória.

    Permitam-me umas maldadezinhas avulsas:

    1) Rita, as estradas de Houston não são tão más como desejavel! Se fossem realmente ruins o teu carro estaria avariado e não terias podido ir votar! :-)

    2) Caro Rui, espero sinceramente que se fique apenas pelo copo. Como mal menor! Seria muito mau se realmente tivesse motivos para beber a garrafa inteira. :-S

    É a vida. Win some, lose some.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Desculpa, mas o meu carro foi arranjado há menos de dois meses, logo o ponto número 1 está errado. Mas eu iria votar a pé ou de Uber.

      Falaremos daqui a 4 anos e veremos se a economia americana estará mesmo de rastos. Sabes, os fulanos da campanha do Trump não o deixam usar o Twitter. Coitado...

      Eliminar

Não são permitidos comentários anónimos.