sábado, 12 de novembro de 2016

O campeonato até agora...

A vitória de Trump deu mais uma machadada na credibilidade das polls. Nesta altura do campeonato, temos de nos questionar se a metodologia das polls está errada ou se as próprias polls afectam os resultados. Será que ao prever uma vitória para Clinton, os eleitores não sentiram um maior à vontade para fazer um voto de protesto, o que não retirou força a Trump, mas retirou a vantagem que Clinton demonstrava ter nas polls? Isto seria consistente com o número de pessoas que não votaram em Trump, nem Clinton, mas ficaram chocadas com a vitória de Trump.

A mesma coisa aconteceu com o Brexit, onde muita gente votou a favor porque não pensava que iria ser esse o resultado -- estavam a contar que um número suficiente de outros votassem a favor porque assim o previam as polls, logo descontaram o risco da opção que não queriam. Isto também é consistente com os resultados das eleições portuguesas, onde muitos dos que votaram em branco, ou não votaram, ou votaram em partidos menores, como forma de protesto, acharam mal que o PS tivesse formado uma Geringonça.

Resumindo e concluindo, é preciso investigar se as polls se tornaram uma variável explicativa do resultado final da eleição. Parece-me também que o voto de protesto, quando a opção não-favorita é má, pode acabar por ser um tiro nos pés.

5 comentários:

  1. Rita, se calhar o mais importante é ver porque é que tanta gente votou Trump com a convicção de ser ele o melhor candidato. O que talvez não ande muito longe de porque é que o Brexit ganhou. Que se calhar tem a ver com o porquê de vários candidatos depreciativamente chamados de populistas pelo establishment bem pensante virem a ganhar terreno em vários países. E, nota, cinjo-me apenas àqueles países com sociedades maduras e onde o sistema democrático nas suas infinitas possibilidades e matizes tem sido ferramenta adequada ao progresso.

    As pessoas estão fartas duma série de coisas e são precisamente estes candidatos que parecem ter melhores condições para responder a esses anseios. E, nota, nada disto é novo. Na Europa começou no final dos 1990s! Os próximos grandes testes serão as eleições Holandesas em Março de 2017 onde Geert Wilders muito provavelmente ou vence ou fica em segundo lugar. Se vencer penso que se continuarão a procurar os motivos nos sítios mais estrambólicos. E a seguir as eleições em França em Abril. Nestas penso que Marine LePen não vencerá a segunda volta (embora daqui até lá...) mas irá dar um enorme abanão na política Francesa e Europeia.

    Nada disto acontece apenas pelo voto de protesto ou porque as polls enviezam o voto dos eleitores assim ou assado. Há razões concretas e objectivas para as pessoas votarem desta forma. Talvez seja mais, muito mais abrangente, começar por aí em vez de pelos motivos que acabam por ser minoritários no bolo total.

    Já algumas vezes temos falado, Rita, nos motivos pelos quais eu saí da Europa e do Ocidente em geral. Talvez nessas conversas estejam algumas pistas. Sou uma pessoa como as outras. A diferença é que eu pude sair, virar-me por mim próprio e proteger-me a mim, à minha fazenda e ao meu futuro. Os que não podem fazer o mesmo têm apenas uma arma: o voto. O voto com o qual manifestam inequívocamente a sua insatisfação com a forma como os países vêm sendo governados. Talvez se devesse começar por aqui...

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  2. Rita, ontem escrevi o comentário acima. Nem de propósito, ao dar a minha voltinha pelos jornais, encontro esta notícia no Observador:

    http://observador.pt/especiais/agora-ja-nos-ouvem/

    É do melhor que tenho lido sobre o assunto. Este jornalista não vai em busca de teorias disto e daquilo, de motivos etéreos nem de formas para manipular o eleitorado em futuras eleições. Limitou-se a ir falar com as pessoas. E está aqui, certamente não tudo mas seguramente uma grande parte de porque é que Trump teve uma votação tão expressiva, porque é que Hillary não alcançou os seus objectivos e, por fim, porque é que Donald Trump acabou eleito President of the United States.

    - Aborto;
    - Obamacare;
    - Imigração ilegal;
    - Livre porte de armas;
    - Casamento Gay;
    - Divisão racial fomentada por Obama;
    - Ditadura do politicamente correcto;
    - Comércio internacional;
    - Valorização do trabalho e do mérito individual;
    - Rejeição da subsidio-dependência;
    - Suspeição duma mulher como POTUS;
    - Rejeição do «sense of entitlement» dos jovens;
    - Independência do Presidente em relação aos seus doadores.

    Tantos motivos reais e objectivos obtidos de forma tão fácil: simplesmente saindo à rua e falando com as pessoas. Apenas isto. Que é, parece-me, o que faz realmente falta para entender a vitória de Donald Trump mas também fenómenos semelhantes em vários países.

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    1. Temo que não seja essa a razão. Se esse movimento fosse tão expressivo, teria derrotado o Obama há 8 e 4 anos.

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    2. Temo que não seja essa a razão. Se esse movimento fosse tão expressivo, teria derrotado o Obama há 8 e 4 anos.

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    3. Primeiro que tudo, estes movimentos levam muito tempo a consolidar-se. São posições contra o que os media mainstream tentam ensinar as pessoas a pensar. Ninguém gosta de ser ridicularizado, enxivalhado, escarnecido e assumir este tipo de posições não é particularmente fácil. Donald Trump abriu a caixa de todos esses sentimentos emudecidos e permitiu-lhes, finalmente, ter voz. Acontece sempre isto. Na Europa as sementes do descontentamento começaram a germinar há quase vinte anos! Andando para trás no tempo, o NSDAP levou doze anos a chegar ao poder. Até mesmo em Portugal, a I República com todos os seus mandos e desmandos, a sua loucura, as suas greves e sabotagens, a sua desorganização, até mesmo essa coisa levou 16 anos a cair pese embora ter havido várias tentativas pelo meio. Lenin andou a perorar ao longo de quase 25 anos até finalmente chegar a revolução em 1917. Todos estes movimentos contra o establishment, sejam eles violentos e desemboquem em ditaduras, ou pacíficos desembocando em governos que enfrentam pacificamente a ordem estabelecida, levam sempre muitos anos a prosperar e desembocar nalgum lado.

      Por outro lado, Obama tinha uma máquina propagandística muito bem oleada e conseguiu realmente convencer as pessoas. Se reparares, o segundo entrevistado diz que sempre votou democrata mas que, por fim, sentiu-se enganado por Obama e optou por Trump para ver se finalmente tem a mudança no sentido que deseja e que tinha contado ter anteriormente. Se reparares, mesmo Obama teve menos votos em 2012 do que em 2008.

      No fim de tudo, estão aqui duas pessoas a dizer os motivos pelos quais votaram convictamente em Trump. A alguns destes temas já tinha aludido há algumas semanas em conversas que fomos tendo por aqui. A América descrita por aquele engenheiro reformado é precisamente uma das Américas que conheci razoavelmente. Há várias. Mas esta é uma delas e, pese embora ser precisamente a América que ao longo dos anos foi perdendo a voz em prol das elites urbanas com espaço mediático, esta América também existe. Aliás, no Estado onde vives não te é minimamente difícil encontrar esta América.

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