quinta-feira, 11 de julho de 2013

Os modelos dos economistas

Há uma clivagem metodológica entre duas gerações de economistas académicos. Economistas da geração de Vítor Gaspar desenham soluções com base em modelos que apenas funcionam bem no Excel. Já economistas mais velhos, como Cavaco, são bons a encontrar soluções com base em modelos que apenas funcionam bem no papel.
A propósito da crise política que vivemos, no artigo que escrevi para o The Conversation, escrevi a dado passo,
On a positive note, in spite of the turmoil, the political system in Portugal is still working. All polls indicate that institutional parties should have no difficulties in forming a government at the next elections.
Parece-me que com a decisão de Cavaco, especialmente se esta se concretizar na forma de um compromisso de Salvação Nacional, isto poderá deixar de ser verdade. Portugueses descontentes com a governação deixarão de ter um partido institucional em quem votar. Poderá ser o caos político nas próximas eleições. 
Se assim não for, então não há dúvidas de que o povo português tem muito mais bom senso do que os políticos que o governam.

7 comentários:

  1. A solução que Cavaco parece estar a propor é a que foi posta em prática na Grécia em 2011 - um governo com o apoio dos principais partidos e já com eleições previstas a menos de um ano. Mas o bónus de 50 deputados ao partido mais votado permitirá ao gregos dizer que "a Grécia não é Portugal" - se o BE e o PNR tiverem a mesma votação que o Syriza e a Aurora Dourada, será mais dificil formar um governo em Portugal do que na Grécia.

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  2. Caro Luís,
    Não estou certo que o comentário que coloquei há momentos tenha sido bem colocado. Vou repetir. Se sair em duplicado pf. corte o primeiro.



    "All polls indicate that institutional parties should have no difficulties in forming a government at the next elections." - vd. - aqui


    Como?

    Recorro ao "Margens de Erro" e a sondagem mais recente citada aponta para PS: 33.9%, PSD: 23.7%, CDU: 13.2%, CDS-PP: 9.1%,BE: 8.9% .

    Outros resultados: 57% (contra 33%) acham que "um governo de coligação entre o PS, o PCP e o Bloco de Esquerda" não "seria capaz de responder aos desafios que Portugal está a viver", 40% acham que "chegaremos a Junho de 2014" "melhor"ou "muito melhor", enquanto que 32% "pior" ou "muito pior", 66% acham "devem-se fazer as eleições no seu período normal" (contra 31% que querem legislativas com autárquicas).


    Não. Não concordo que os partidos não teriam dificuldades em formar governo, que pudesse governar. Mas, para além disso, existe todo um conjunto de condicionamentos, que CS referiu ontem, que tornam não recomendáveis as eleições em Setembro próximo.



    Também não concordo que um governo de coligação alargada restrinja a possibilidade dos portugueses descontentes com a governação de terem um partido institucional em quem votar. Todos os partidos têm um conjunto relativamente estável de votantes fiéis. Os restantes, flutuantes, que decidem os resultados das eleições são, regra geral, mais perspicazes, porque não são ideologicamente marcados, para analisar o comportamento de cada partido dos coligados.



    Do meu ponto de vista, a decisão de CS só peca por tardia, o que a torna a solução mais complicada.

    CS não deveria ter dado posse ao segundo governo (minoritário) de Sócrates quando já era muito evidente o crescimento incontido das dificuldades estruturais da economia portuguesa, nem do governo de Passos Coelho sem a integração nele do PS, negociador e primeiro subscritor do acordo com a troica.



    Coligações fazem-se em quase todo o lado. Em Portugal falham porque os políticos portugueses, em geral, têm da democracia um conceito de confronto permanente onde não há lugar para qualquer consenso.



    Aliás, é por demais evidente que, frequentemente, subordinam as suas convicções políticas às suas tácticas politiqueiras. Geralmente defendem enquanto governo o que atacaram enquanto oposição.

    Se o PS ganhasse as eleições em Setembro teria o PSD e o CDS à perna replicando a mais que esperada táctica do PS logo que, estupidamente, PC&PP desvincuram o PS das responsabilidades executivas do acordo que o anterior governo negociou.



    Portugal confronta-se com uma crise que não será ultrapassada enquanto continuarem as práticas políticas do passado. CS, com o discurso de ontem, forçou uma saída que é uma reprimenda forte ao PSD e ao CDS e uma oportunidade ao PS para governar em Setembro do próximo ano um país menos destroçado.



    Mas, o resultado final, evidentemente, depende sobretudo da capacidade dos partidos abdicarem parcialmente dos seus interesses privativos colocando os interesses do país acima deles.

    No fim de contas, só a obnubilação partidária pode explicar que, perante uma ameaça externa (troica, credores, FMI, UE) não haja uma união natural na capacidade de defesa dos sitiados. E digo capacidade natural porque é instintiva em todas as espécies, e a espécie humana não é excepção, a tendência para a reunião do grupo perante qualquer ameaça externa.

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    1. "Como?

      Recorro ao "Margens de Erro" e a sondagem mais recente citada aponta para PS: 33.9%, PSD: 23.7%, CDU: 13.2%, CDS-PP: 9.1%,BE: 8.9% ."

      Se se fizer distribuição proporcional de OBN pelos partidos com representação parlamentar fica-se com 38.18%, 26.69%, 14.86%, 10.25%, 10.02%.

      Não haveria qualquer dificuldade em atingir maioria absoluta com um governo de Bloco Central. Seria até possível, mas aqui é mais duvidoso, atingir maioria só com PS e CDS-PP.

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  3. "Não haveria qualquer dificuldade em atingir maioria absoluta com um governo de Bloco Central."

    Mas é isso que, no fim de contas, pretende CS. Que os partidos que subscreveram o acordo com a troica se ponham de acordo sob a forma de o cumprir até Julho do ano que vem e se comprometam a viabilizar um governo a partir de Setembro de 2014, quaisquer que sejam os resultados eleitorais, de modo a safarem o país da encrenca em que nos meteram.

    Leio no seu último post que "Pedir aos políticos que se deixem de politiquice, ou seja, que deixem de tentar ganhar eleições, é pedir aos políticos para irem contra a natureza das coisas."

    Não entendo.
    CS não pede aos políticos que deixem de tentar ganhar eleições. Tanto assim que propõe que elas se realizem em Setembro do próximo ano pelas razões que circunstanciadamente expôs.
    E não parece incompatível que os políticos mostrem o que valem e façam parte de uma coligação alargada. Se assim não fosse, o seu exemplo de governo de bloco central não faria sentido. Salvo melhor opinião.

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  4. "Mas é isso que, no fim de contas, pretende CS. Que os partidos que subscreveram o acordo com a troica se ponham de acordo sob a forma de o cumprir até Julho do ano que vem e se comprometam a viabilizar um governo a partir de Setembro de 2014, quaisquer que sejam os resultados eleitorais, de modo a safarem o país da encrenca em que nos meteram."

    Ou seja, quem quiser responsabilizar o governo pelo mau desempenho económico terá de votar no BE, PP, PNR. Essa solução tinha sido adequada no ano passado (o mais tardar) quando ainda havia 3 anos para as eleições. Assim, a 11 meses de eleições, o risco é imenso.

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  5. "Assim, a 11 meses de eleições, o risco é imenso."

    A 8 meses do fim da intervenção da troica, se as eleições se realizassem em Setembro não teríamos um novo governo antes do fim de Outubro, sem OE até Março de 2014, sem negociação em tempo útil dos empréstimos que se vencem em 2014, o risco seria menor?

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    1. Sim, seria. E ainda menor seria se deixasse estes ficarem, sem mais conversas -- afinal foi ele que os mandou entenderem-se e foi ele que disse que queria Paulo Portas no governo --, e em 2014 convocava eleições antecipadas e pronto. Anunciar eleições a 11 meses é a melhor forma de garantir que vão andar todos em campanha eleitoral.

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