segunda-feira, 25 de outubro de 2021

Continuação

Continuando com os meus episódios da vida americana, dado que pensar em Portugal, é demasiado deprimente. Um dos livros que tenho andado a ler tem um título engraçado e chama-se "How to read literature like a professor." Um dos capítulos é dedicado ao acto de partilhar refeições, que é umas das formas que nos aproxima uns dos outros, daí a simbologia da última ceia de Cristo, rodeado das pessoas que supostamente lhe eram mais póximas. Comer pode significar tanta coisa...

A semana passada, como foi me causou um bocadinho de ansiedade por causa de regressar ao trabalho após férias -- já viram o preço de futuros do algodão? Ai, caramba! -- achei por bem fazer algo engraçado no Sábado de manhã, como por exemplo beber mimosas e comer. Desde que o Sr. Trump perdeu as eleições que há sempre uma garrafa de champanhe no frigorífico, logo só faltava o sumo de laranja que disse aos meus vizinhos terem de ser eles a tratar. A comida ficaria sob a minha tutela, só que na altura em que organizei o evento não tinha qualquer ideia do que preparar para o brunch.

Há umas semanas, um colega meu escreveu "tortilla de patata" num dos róis de mensagens das nossoas video-conferências, o que achei muito engraçado de dizer em voz alta. Afinal era engano, ele pensava que estava a escrever para um dos colegas e aquela era uma piada entre os dois, mas acabou por ser para toda a gente. Mas talvez por causa disto, e também porque vi a série espanhola Valéria no Netflix, fiquei com a tortilla de patata na ideia e achei que seria um bom prato para confeccionar, pois não tem cereais, nem lacticínios, logo posso comer, e é um prato normal, ou seja, sabe a comida de gente, apesar da minha dieta restritiva.

Fui investigar como se fazia, enquanto idealizava o resto do menu. Quando fiz compras as ideias ficaram claras e decidi que haveria um prato de acepipes: tomatinhos cereja, pimento encarnado assado, azeitonas Kalamata, pickles de pepino, salame soppressata, salame tradicional, presunto, e bolinhas de mozzarela marinadas em azeite, especiarias e ervas de cheiro. Do lado dos doces, teríamos fruta (uvas, amoras, e framboesas), e uns pães acompanhados de compota de airela de montanha (lingonberry).

Apesar da tortilla de patata só ter quatro ingredientes, é um bocado difícil de fazer, mas, segundo o que li na Internet, o segredo é cozer as batatas em azeite e separadamente dourar a cebola, depois escoar e misturar com os ovos, e deixa-se estar tudo durante 15 minutos à temperatura ambiente. A outra etapa bicuda é a de cozer a tortilla porque corremos o risco de os ovos ficarem com a consistência de borracha -- as omeletes também têm esse problema. Sabem quem fazia omeletes excelentes? O meu ex-marido e a minha mãe. A mim falta-me o gene da omelete, logo fiquei com medo que me tivesse escapado o da tortilla.

Quando fomos para comer, pedi desculpas antecipadamente se a tortilla estivesse uma desgraça, mas estava deliciosa. Aliás, estava tudo excelente, e estivemos ali quase duas horas a comer, beber, e contar histórias. A minha vizinha só dizia "I missed my Rita..." porque antes de eu ir de férias, ela tinha ido com a família, logo já há tempos que não tínhamos um convívio animado. Para a semana é Halloween e já está marcado outro evento que ela organizou. Comprometi-me a fazer um bolo de abóbora. Só me falta decidir como irei vestida -- a única fantasia que tenho é uma de diabinha, logo talvez deva diversificar o portefólio, mas não há nada de mal em ser diabinha.

Entretanto fica aqui o meu prato de cerâmica portuguesa cheio de acepipes. Ora digam lá se não é um prato bonitão?

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