quarta-feira, 13 de outubro de 2021

Leis do não

Em 2015, no dia do meu aniversário, conheci uma senhora que tinha o mesmo aniversário que eu, mas que nasceu 43 anos antes de mim. A ocasião era mesmo o seu jantar de aniversário, que por também ser o meu, levou a que eu fosse convidada. Ela e eu temos várias coisas em comum para além da baixa altura: ambas vivemos em cidades chamadas Fayetteville e eu vivi numa rua de nome Sweetwater, enquanto que ela viveu numa cidade com esse nome. Ontem fomos almoçar juntas porque ela tornou-se parte do meu grupo de amigos de Houston.

Conversar com pessoas mais velhas nos EUA é muito engraçado porque elas ouvem-nos e tratam-nos como se fossemos iguais. Mesmo o meu ex-sogro, que agora tem 82 anos, conversa comigo e faz-me perguntas, genuinamente interessado na minha opinião. Aquela ideia que os mais velhos devem ser colocados num pedestal em que têm a última palavra em tudo é aqui bastante estranha. A minha vizinha que tem 96 anos, esta senhora que tem 92, e o meu ex-sogro todos andaram na universidade -- ele até chegou a fazer um doutoramento, apesar de serem todos de origens humildes e até de regiões rurais.

Nessa altura, quando estas pessoas se formaram, os EUA não eram considerados a potência que são hoje e até se pode dizer que a infância destas pessoas foi bastante marcada pelo período pós-Grande Depressão e depois a Segunda Grande Guerra Mundial, alturas em que a comida escasseava e os recursos eram desviados para o esforço de guerra. Mesmo assim, a educação desta geração não foi sacrificada. No entanto, não nos podemos esquecer que estas pessoas minhas amigas são uma minoria: a maioria dos americanos apenas frequentava o ensino secundário, que foi bastante promovido entre 1910 e 1940.

Ontem na nossa conversa de almoço falámos de várias coisas, inclusive sexo e a forma como as mulheres encaram relações amorosas. Dizia a minha amiga que conhecia várias mulheres que tinham parceiros apenas para satisfazerem as suas necessidades sexuais e algumas até tinham mais do que um, o que me fez recordar alguns dos artigos que saem na revista The Atlantic sobre a sociedade e o sexo. Muitos desses artigos argumentam que as mudanças sociais de atitude relativamente a relações e sexo são iniciadas pelas mulheres: elas é que mudam o "contrato social" quando lhes convém. Mesmo assim, há certas coisas que se mantêm: muitos homens, independentemente da idade, preferem mulheres na casa dos 20 anos, já as mulheres preferem homens que têm idade mais próxima às delas, de acordo com os dados recolhidos por páginas de Internet de encontros amorosos.

Talvez fosse mais fácil contrariar estas predisposições dos homens e das mulheres quando as pessoas se encontravam pessoalmente e se criava alguma atracção física, mas agora, que muitas pessoas se conhecem online e as preferências são declaradas antecipadamente, parece que entrámos num período em que é mais difícil chegar a um compromisso. Em vez de leis da atração, receio que o que prevalecerá será potencialmente as "leis do não".

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