sexta-feira, 16 de junho de 2017

O toque de "merdas"

Hoje, a Amazon anunciou que ia comprar a cadeia de mercearias Whole Foods. A Whole Foods teve bastante crescimento há uns anos, mas ultimamente tem estado estagnada e não tem conseguido atrair clientes para as suas lojas. Um dos problemas é que a estratégia da Whole Foods foi copiada e ampliada: agora é banal as mercearias e supermercados terem produtos biológicos, locais, de maior valor nutricional, etc. Também se assistiu à multiplicação de mercearias gourmet, entregas de frescos ao domicílio, serviços de assinatura de refeições (o cliente recebe os ingredientes necessários mais a receita para preparar as refeições em casa).



No programa do Marketplace hoje de manhã, discutia-se o que estaria a Amazon a planear fazer com a Whole Foods. A pessoa que foi entrevistada avisava os outros analistas para terem cuidado com a Amazon. É que, quando a Amazon apareceu, muitos deles diziam que uma livraria online não tinha grandes perspectivas de sucesso ou rentabilidade: as pessoas até estavam a deixar de ler livros, logo o mercado estava a encolher, diziam os analistas videntes. Só que o Amazon não só teve sucesso, como revolucionou o mercado a retalho americano, e até mundial.

Ocorre-me falar nisto a propósito do investimento em energias renováveis em Portugal, que está a ser criticado por causa das rendas das empresas. Há quem diga que foi um enorme erro porque não faz sentido Portugal investir em renováveis porque as turbinas são feitas na Alemanha, logo aquilo não gera nenhum valor para Portugal. Ora, produzir electricidade é um bocado como vender livros ou couves. Qualquer idiota o pode fazer, mas quem tem talento sabe-o fazer criando valor acrescentado.

A produção de energia renovável em Portugal faz sentido, a meu ver, pois num futuro não muito distante, as renováveis irão dominar. No entanto, se Portugal investir cedo, pode desenvolver tecnologia de gestão e optimização da produção da energia; se investir tarde, acaba por ter de comprar essa tecnologia ao estrangeiro, para além das turbinas. Acho que é sabido que Portugal tem engenheiros competentes e precisa de indústrias nacionais onde os ocupar, em vez de os mandar emigrar para a Alemanha. As renováveis, por terem um grande custo fixo inicial necessitam do apoio do estado. Isto não é só em Portugal, também acontece noutros países. Custos fixos altos são considerados barreiras de entrada no mercado, o que é uma falha de mercado.

O fiasco do investimento nas renováveis em Portugal e o preço caro da electricidade não tem a ver com o investimento em si fazer ou não sentido; tem a ver com governos incompetentes: nem sabem negociar com as empresas, nem sabem negociar com a UE. Os portugueses deviam, ao fim de tantos anos, perceber que os governos portugueses estão cheios de pessoas incompetentes e de poucos escrúpulos, o que resulta sempre em investimentos ruinosos para o país. O Rei Midas transformava em ouro tudo o que tocava; os governos portugueses têm o toque de Midas ao contrário -- chamemos-lhe o toque de "merdas".

2 comentários:

  1. Tal e qual.
    Sempre que os governantes, centrais ou locais, assinam contratos, a probabilidade de ficarem ameaçados os contribuintes é muito elevada. Por incompetência e falta de escrúpulos dos tutores do Estado mas também pela impunidade que a justiça, por incompetência ou conivência, consente.

    No caso da EDP como é que podem ser revistos contratos que são activos de uma empresa vendida aos chineses quando esses activos já faziam parte da entidade vendida?
    Se das negociações entre os representantes da EDP na altura e os representantes do Estado resultaram perdas para os contribuintes e consumidores, é fundamental que sejam apuradas responsabilidades. Mas desse apuramento não pode legalmente resultar a redução dos activos vendidos aos chineses. E, por tabela, a todos aqueles que se tornaram accionistas da empresa.

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  2. O crescimento constante da proporção de energia produzida por fontes renováveis, incluindo dias completos abastecidos por essa via e até exportação líquida de energia, não é nenhum fiasco.
    Têm que ser apuradas responsabilidades é a quem entregou rendas, ditas excessivas, do Estado português ao Partido Comunista Chinês.

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