quarta-feira, 30 de agosto de 2017

Na vizinhança

Dei um passeio pela minha vizinhança e vi duas casas que tinham vestígios de terem inundado: uma tinha ventoinhas à porta, outra tinha a carpete ao pé do passeio à espera de ser recolhida. Eram ambas casas antigas, construídas em final dos anos 40, segundo informação disponível no Zillow.

As casas da minha rua e adjacentes, foram construídas meia década mais tarde e já se nota que houve uma diferença no planeamento urbano. Os lotes são mais pequenos e há ruas secundárias (cul-de-sacs e circle drives) que saem da rua principal. A rua principal está num plano mais baixo do que as casas e as ruas secundárias e há uma ligeira gradação nos cruzamentos da rua principal com as ruas secundárias, que é quase imperceptível quando não chove, a não ser que estejamos a andar de bicicleta, como disse uma vizinha minha.

Não sei quando é que a gradação nas ruas foi introduzida, mas os cul-de-sacs e circle drives apareceram no pós-Segunda Grande Guerra Mundial e serviam vários propósitos: para os construtores, permitiam construir mais casas, especialmente em sítios onde os lotes não eram regulares; para os donos das casas permitiam que as pessoas não estivessem expostas ao trânsito das ruas principais. Eram ruas especialmente procuradas por famílias que tinham crianças, pois presumia-se que os miúdos podiam brincar à vontade na rua, sem se preocupar com o trânsito normal.

Actualmente, como os lotes de terreno nesta zona da cidade são caros, quando há nova construção, são casas grandes, que ocupam uma maior parte do lote (isto contribui para inundações) e que são construídas sobre postes de cimento, já a contar com inundações e as casas novas têm escadarias na porta principal.


Planeamento urbano dos anos 40 em que as ruas estão em grelha. Nesta rua as casas antigas inundaram.


Planeamento urbano dos anos 50: há uma rua principal e ruas secundárias em meio-círculo ou cul-de-sac. As ruas secundárias estão a um nível mais alto do que a rua principal e a chuva escorre para a rua principal. Nesta zona, as casas não inundaram.

O seguro de inundação, nos EUA, existe porque o governo federal o subsidia, mas o seguro de inundação é separado do seguro de riscos da casa. Há vários problemas com o seguro de inundação, a começar pelo facto de os mapas de inundações estarem desactualizados. Não é comum as pessoas terem seguro de inundação, a não ser que o governo ou o banco que financia a aquisição de propriedade o exija. O governo exige seguro de inundação se a pessoa compra a casa com uma hipoteca garantida pelo governo e se há risco considerável de a casa inundar durante o período da hipoteca. De resto, se a pessoa consegue financiar a aquisição da propriedade sem assistência do governo e sem que o banco exija seguro, obter seguro fica ao critério do proprietário.

No condado de Harris, onde fica Houston, apenas 15% das propriedades têm seguro de inundação. Ontem fui jantar a casa de uma vizinha e a filha dela, que vive numa outra zona da cidade, estava a falar do seguro de inundação e disse que tinha comprado porque tinha visto um economista dizer, na TV, que não fazia sentido viver em Houston e não ter seguro de inundação. O economista estava a falar por causa das inundações que atingiram a cidade em Maio de 2015. Se todos tivessem seguro de inundação, os custos de ter seguro seriam mais baixos para todos porque seriam espalhados por mais propriedades. Assim, como muita gente não compra, as propriedades com maior risco acabam por determinar o custo do seguro o que é um incentivo para que menos pessoas tenham seguro.

Mas isto é como em tudo: depois do leite derramado não há nada a fazer. As pessoas queixam-se de que as seguradoras exigem muito dinheiro pelo seguro, mas o preço do seguro é um indicador de risco: se é caro, é porque há grande probabilidade que a seguradora vá ser chamada a assumir responsabilidades, por isso a seguradora quer ser compensada por esse risco. Quando o seguro é caro, a seguradora está a dizer-nos que o risco é alto.




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