domingo, 8 de julho de 2018

Até Deus

Arthur Miller escreveu uma peça de teatro, "The Crucible", sobre os julgamentos por bruxaria que ocorreram em Salem, Massachussetts, em 1692 e 1693. O objectivo da obra era fazer um paralelo entre esse episódio trágico da história dos EUA (note-se que os julgamentos precedem a fundação do país) e a perseguição de comunistas levada a efeito pelo governo americano (finais da década de 40 e década de 50). Apesar da natureza cíclica da história, há sempre o mesmo desfecho: as coisas más pertencem ao passado e há quem acredite que não são passíveis de se repetirem.

Há uma frase na peça de Miller da qual eu gosto muito: "Until an hour before the Devil fell, God thought him beautiful in Heaven." (Uma hora antes do Diabo sucumbir, no Céu, Deus achava-o belo.) Não é só que as coisas corram mal de um momento para o outro, quando antes corriam tão bem que nada nos levava a crer que a mudança estivesse prestes a acontecer, é também que até Deus, com a sua capacidade de omnisciência, é incapaz de adivinhar a tragédia. E se ele não consegue, que esperança podemos ter nós, comuns mortais?

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