segunda-feira, 9 de janeiro de 2023

Medo do desconhecido

Ao fim de 15 votações, o Kevin McCArthy foi eleito Porta-Voz da Câmara dos Representantes. A votação deu-se na madrugada de Sábado e, para o conseguir, teve de dar bastantes concessões aos discordantes, ou seja, enfraqueceu o cargo que agora ocupa. Talvez ele achasse que o mais difícil era a eleição e o resto arranja-se, mas esta parte foi decerto a mais fácil. Alguém tinha de ocupar o cargo para o GOP, logo desse ponto de vista é indiferente que seja ele. 

Para os últimos dois Porta-Vozes do GOP, nem tudo foram rosas. Tanto John Boehner como Paul Ryan tiveram forte apoio inicial e as coisas deram para o torto.  Ambos saíram do Congresso e da política depois das suas más experiências. McCarthy parte de uma posição mais frágil que os outros dois, logo o é quase certo que também acabe mal. 

Na Quinta-feira, escrevi um e-mail à minha vizinha de Houston, a tal que tem 97 anos, prestes a fazer 98, a perguntar o que ela achava da saga do McCarthy. "Our country is in disarray," respondeu e disse que gostaria de ter estudado mais Cidadania (Civics) porque havia muitas coisas que se passavam e que ela não entendia. Ela é uma consumidora voraz de notícias e até lê a revista The New Yorker todas as semanas, para além de ter vivido momentos tão dramáticos da história americana, logo estranho que ela se ache tão perdida, mas não é a única.

Contei a minha surpresa no Zoom semanal com as amigas de Houston porque, na minha ideia, a minha vizinha viveu a Segunda-Grande Guerra, o assassinato do Kennedy, o Movimento dos Direitos Civis... Comparado com isso, nós somos uns privilegiados, mas elas disseram-me que hoje há muito mais notícias e as pessoas sabem tudo o que se passa no mundo. Para além disso, a comunicação social era mais decente e os malucos de antigamente andavam de cones de alumínio na cabeça, não andavam a tentar derrubar o governo, explica-me uma das amigas que entrou agora para a década de 60. 

Desisti de defender o meu ponto de vista, de que vale falar no Ku Klux Klan, ou na indecência que foi o óbito do poeta Robert O'Hara no NYT. Este enviesamento é normal; temos tendência para romantizar o passado e, porque sabemos o que aconteceu no passado, achamos que era muito mais certo do que o nosso presente que ainda tem um futuro indefinido, ou melhor, desconhecido. 

    

1 comentário:

  1. Luís Aguiar-Conraria9 de janeiro de 2023 às 07:59

    Rita, porque é que os democratas não viabilização a candidatura de Kevin em vez devo obrigarem a ceder à ala mais louca dos republicanos?

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