segunda-feira, 8 de julho de 2024

A culpa é do Senhor

Na entrevista de Biden com George Stephanopoulos, a tal que ele deu para tentar convencer a malta que ainda esta mentalmente competente, Biden indicou que só sai da presidência quando Deus Nosso Senhor lhe disser para sair, como se o cargo lhe pertencesse por direito divino. Trump também acha que tem direito à Presidência independentemente da vontade do eleitorado. E quando Trump avança ideias deste tipo, invoca-se que os EUA são uma república e não uma monarquia, que o presidente serve pela vontade do eleitorado, que os resultados das eleições devem ser respeitados, etc. Ainda não vi ninguém invocar estas razões para refutar o que Biden disse. Talvez a culpa seja do Senhor, que ainda não enviou o memorando nem a Biden, nem aos jornalistas.

sexta-feira, 5 de julho de 2024

Menos mal

A ideia de Biden como candidato viável está quase a zero, o que me apraz bastante por várias razões. Por uma questão de humanidade, ele deve reformar-se porque já não está em condições físicas, nem mentais. Não é que seja o primeiro PR a estar assim, mas quando Reagan já estava fora do prazo não havia notícias 24/7 e dava para o esconder a verdadeira realidade. Agora não dá. Votei nele, mas achei-o sempre um candidato medíocre e como Presidente não o acho grande coisa. Quanto à economia estar bem, está bem apesar dele, não por causa dele. O mundo que Biden vai deixar é mais perigoso do que o que Trump deixou.

Há duas semanas fui a Houston e tive oportunidade de falar com as minhas amigas. Já não acham o Biden uma boa ideia e nem acham que ele consiga vencer Trump. No ano passado, discordavam de mim tão ferozmente que deixei de participar nas reuniões de Zoom semanais. Que tenham mudado de ideias diz-me que há pessoas que poderão votar nele, apesar de não o acharem capaz.

Depois de Houston, dei um pulo ao sul do Texas, estive em Corpus Christi e andei por lá de carro, cheguei a passar por Harlingen, que é bastante próximo da fronteira com o México. Aliás quem me lê deve estar prestes a ficar ao corrente desta região porque o furacão Beryl está a caminho de onde estive. Na minha viagem vi apenas um poster pró-Trump e pró-MAGA, o que achei bastante engraçado e também surprendente.

Engraçado porque era um poster ao pé de uma empresa que processa o algodão depois da colheita (separa o caroço da pluma) e quando Trump foi presidente o preço do algodão caiu bastante depois de ele iniciar a disputa comercial com a China. Apesar de não achar lógico que se vote em Trump, acho surpreendente que se veja tão pouco apoio, ou talvez ainda seja cedo. Talvez as coisas comecem a ficar mais interessantes daqui a uns dois meses--sim, já estão, mas isto tem potencial para muito mais.

Com a reviravolta do apoio a Biden, é natural que se vá prestar mais atenção à bota que os Democratas terão de descalçar, pois isto é uma oportunidade de demonstrarem que são moralmente superiores aos Republicanos. Pessoalmente, nem acho que seja uma questão de apenas arranjar outro candidato, pois o Biden deveria ser afastado da Presidência o quanto antes porque demonstrou publicamente que está incapacitado para o cargo. Mas se Kamala Harris chegasse a Presidente, isso seria quase que nomeá-la candidata e não me parece que o queiram fazer. E isso vale por duas razões pelas quais acho Biden um mau Presidente, pois não preparou ao sua Vice-Presidente para uma sucessão, nem sequer mentalizou o país que é necessário haver uma mulher presidente.

quarta-feira, 3 de julho de 2024

Direito por linhas tortas

A última decisão do SCOTUS (Tribunal Supremo) a gerar polémica é a de Segunda-feira que afirmou que, em princípio, um presidente está imune de ser processado por actos oficiais, mas pode ser processado por actos que caem dentro da esfera privada enquanto cidadão. A decisão da maioria foi escrita por John Roberts, o Presidente do SCOTUS, que, apesar de ter sido nomeado por um Presidente Republicano, nem sempre se alinha com a ala conservadora do tribunal. A opinião discordante e os jornalistas vêem isto como uma ampliação dos poderes do Presidente, o que, caso Trump seja reeleito, acham prejudicial para o país.

Concordo com o Roberts e discordo bastante da reação quase histérica que assolou o país. Durante a primeira Presidência de Trump, ele referiu várias vezes que tinha imunidade plena, dado que era Presidente. Ou seja, do ponto de vista do comportamento dele não irá haver qualquer mudança, dado que ele não fazia distinção entre assuntos oficiais e privados antes--era tudo oficial.

Mas com esta decisão, Roberts abriu a porta para que o Presidente seja processado não só quando um acto é do foro privado (ou seja, nem tudo o que o presidente faz é oficial, uma contradição direta da filosofia de Trump), mas também quando há dúvida que um acto possa não ser oficial; esta área cinzenta antes era quase uma de imunidade presumptiva e agora já não é.

Se tivermos de gramar com Trump outra vez, é certo que o irão arrastar pelos tribunais ainda mais do que antes.