quinta-feira, 30 de abril de 2015

A Uber

No fim-de-semana passado, usei pela primeira vez a Uber, em Houston. Foi muito fácil. Pedi o serviço através do meu telefone. O telefone deu a minha localização e o serviço deu-me o carro que estava mais próximo de mim. Como havia muita procura, o preço base tinha sido aumentado em 50%, de $4 para $6 e depois, sobre este, incidia uma taxa por milha percorrida. O ajuste no preço, por um lado, reduz a procura, mas também serve como incentivo para que mais carros saiam para atender clientes, ou seja, para que a oferta aumente. Se mais carros aparecerem, então não haverá excesso de procura e o preço é reduzido.

Antes de dar o OK final, a app informa-nos do preço que vai ser cobrado. Quando se entra no carro, é o telefone do condutor que dá a rota que o condutor deve seguir para nos levar. O preço final é decidido centralmente com base na rota. Depois, um recibo é enviado para o nosso email. Foi fácil de usar o serviço e, se eu precisar outra vez, irei decerto usá-lo, até porque o pagamento é feito por cartão de crédito o que me dá jeito, pois eu nem sempre trago dinheiro na carteira. O serviço UberPop, que foi o que eu usei, não é permitido em Portugal.

Contrasto esta experiência com um serviço de táxi que tive em 2006, em Portugal. Fui do aeroporto para uma pensão não muito longe, à noite, e custou €17 euros. Como eu já não ia a Portugal há cinco anos, eu não tinha um bom ponto de referência, mas pareceu-me muito caro. No dia seguinte custou apenas €6 para ir da pensão à estação de ferro e vi logo que o condutor me tinha enganado na noite anterior. Eu, em Portugal, sou um alvo--ainda por cima tinha um ruivo de olhão azul e 1,96 m ao meu lado, que anunciava ao mundo "Estrangeiro, estrangeiro, roubem-me!". Eu devia ter pensado nisso quando me casei... Quando sabem que eu venho dos EUA, há umas almas criativas que desatam a pensar em como me podem lixar. Já me aconteceu mais do que uma vez. Mas se fosse só eu a ser lixada, ainda era o menos. Era, naquela altura, normal ser-se enganado por taxistas em Portugal e julgo que, mesmo hoje em dia, ainda há enganos. Por isso pergunto-me por que razão é que o tribunal bloqueou a Uber em Portugal. Como é que os carros não são seguros se todos os carros têm de passar uma inspecção e têm de ter um seguro para andar na estrada e os condutores da Uber têm licença profissional?

Agora a Associação de Taxistas quer pedir uma indemnização à Uber--isto é juntar a fome à vontade de comer. Uma indemnização porquê? Quando um comerciante abre um talho também tem de receber a bênção dos outros talhos e/ou indemnizar os outros talhos por iniciar actividade? E quem é que indemniza os clientes que foram roubados por taxistas com menos escrúpulos? E antes que me comecem a insultar, informo-vos que o meu pai trabalhou como taxista durante algum tempo.

Portugal é um país onde a iniciativa privada inovadora é constantemente bloqueada. As instituições do estado, que deveriam proteger os cidadãos de abusos e ilegalidades, são elas próprias usadas para roubar os cidadãos. Basta pensar no caso das SCUTS, nas contas mal explicadas de impostos que se recebe em casa (eu já recebi), no preço da energia, etc. Sinceramente, não há vergonha!

Será que há algum político, que nos queira explicar o que pretende fazer com este abuso de poder se for eleito? Podem prometer o que quiserem em impostos e subsídios, mas enquanto o estado for usado como uma máquina de repressão, o país não irá crescer por aí além. Precisamos urgentemente de um Robin dos Bosques porque o que há mais é candidatos a Sheriff de Nottigham...

10 comentários:

  1. Rita:
    Deixo-lhe 2 experiências minhas com táxis.
    Em 2003 (há tanto tempo e ainda não me esqueci), num dia tórrido de Agosto, estando de férias em Caminha, fomos passear a Vigo. No regresso, estávamos tão cansado que não nos apetecia regressar a pé até à estação dos comboios.
    Chamámos um táxi com algum receio do preço, mas não havia alternativa.
    Era ainda um bocado longe, estávamos no alto do Castro que deu origem à localidade.
    Apareceu um taxista, simples, bem vestido, simpático, mas muito comedido na conversa.
    Pagámos 2,31€.
    Em Lisboa, só a bandeirada era na altura, salvo erro, 2,00€ ou 2,20€.
    E para aquela distância nunca pagaríamos menos de 5€ em Lisboa.
    Enquanto aguardávamos a hora do comboio fiquei a observar os taxistas, tão intrigado fiquei com o preço. Conversavam calmamente, sem lamentos nem insultos a políticos e a toda a gente, como fazem cá, sem discussões de gritaria sobre futebol.
    Fez no Natal um ano fui às compras a Lisboa e tinha deixado o carro no Feijó (Cova da Piedade-Almada) na oficina de um amigo a fazer uma pequena reparação.
    Estava tão carregado que decidi perguntar o preço de atravessar a ponte 25 de Abril e ir até à oficina, isto desde perto da Gulbenkian, junto à Praça de Espanha, portanto, praticamente à saída para a ponte.
    30 ou 32€, disse-me um taxista.
    Meti os pesados sacos de compras na bagageira e fui.
    Ao chegar não tinha dinheiro para pagar, pedi-lhe que aguardasse um momento que ia pedir emprestado ao meu amigo da oficina.
    Para que não pensasse que tinha um esquema de fuga planeado, tirei os sacos da bagageira e pu-los no chão no passeio.
    Ao regressar achei estranho o taxista estar a tirar um dos sacos de dentro da bagageira para o chão, eu não me tinha esquecido de nenhum.
    Paguei, 39€, bastante mais do que me disse, havia filas na ponte, foi a explicação.
    Fui conferir as compras do saco faltava uma no valor de 10€.
    Mais palavras para quê, era um «artista» português.


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    1. A reputação dos taxistas portugueses não é famosa. É uma ideia que se generalizou e a verdade é que oiço a toda a gente histórias deste género. Infelizmente, no relato do Manuel Silva, o primeiro caso parece ser a excepção e o segundo a regra. Da fama eles não se livram

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    2. Eu tive uma boa experiência no ano passado com um taxista no Entroncamento. Muito simpático, prestável, e preocupado com o meu bem-estar e da minha bagagem. Há pessoas muito boas na profissão, mas é pena que haja umas maçãs podres que estragam tudo. E é pena que a Associação de Táxis não seja mais proactiva em retirar as maçãs podres do sistema.

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  2. Se a Uber foi proibida em Portugal não foi por os juízes não gostarem de inovação, foi simplesmente por a Uber estar fora da lei. Em Portugal há uma lei que regulamenta o serviço de táxis e a profissão de taxista, e a Uber viola essa lei. A lei poe ser modificada, claro, mas, enquanto não o fôr, nada há a fazer.
    Ademais, suspeito fortemente que a Uber constitua uma fuga ao fisco, que os "taxistas" dela não declarem quanto ganham pelo serviço. Eles são pagos através de carregamentos nos cartões de crédito deles, não em numerário. Suspeito fortemente que não tenham que não declarem nas declarações de IRS quanto ganham. Porque a Uber é como a prostituição, não é ilegal mas também não está regulamentada, não é uma profissão "oficial", e portanto não se declara quanto se ganha nela.

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    1. Completamente absurdo o que diz, Luís. Os taxistas fogem ao fisco todos os dias ou não sabia? Como é que o pagamento em numerário previne a fuga ao fisco e uma transacção completamente electrónica, que tem um rastro, permite a fuga ao fisco? Não são os motoristas da Uber que recebem o dinheiro; o dinheiro é pago à Uber e depois dado aos motoristas. Se a AT quiser ver se há fuga ao fisco, facilmente pode arranjar provas contra a Uber e os seus motoristas; já para provar fuga ao fisco com um taxista normal é muito difícil.

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  3. Gostava de perceber como é que tanta gente tem a certeza absoluta que a Uber viola a lei, quando os próprios afirmam que, e passo a citar: "Todos os parceiros ligados à plataforma da Uber em Portugal possuem licenças que permitem o transporte comercial de pessoas com motorista privado. Estes parceiros já operavam em Portugal antes da chegada da Uber, e a nossa plataforma liga-os à nossa comunidade de utilizadores."

    Fernando Serrasqueiro, deputado do PS, reuniu com representantes dos táxistas e da Uber. Resultado? "Disseram-nos que utilizam a legislação em vigor e que se sentem confortáveis com essa legislação." E mais, "a Uber não pode ser ilegal. Quem pode ser ilegal é quem presta serviços [à Uber]. Estas [empresas] é que podem não estar licenciadas para o fazer."

    Diz-se muito que só os táxis podem fazer transporte comercial de passageiros em veiculos ligeiros. A ser verdade, gostava que me elucidassem qual é o enquadramento legal que permite a uma empresa vender tours de jipe pela serra de Sintra, ou se acham que isso é igualmente proibido.

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  4. O problema que eu vejo na Uber é que eles se recusam a admitir o que são - uma empresa de táxis (o argumento que se trata de pessoas que dão boleias a outras, e que o pagamento é pelo serviço telefónico e não pela viagem é um simples jogo semantico), e como tal não faz sentido que sejam sujeitos a leis diferentes das dos taxis - a lei geral dos táxis é que talvez esteja errada, mas enquanto essas leis existirem não faz sentido que se apliquem a uns e não a outros.


    Dito isto, não me parece que a analogia com a prostituição (ou com provavelmente milhões de outras coisas - se calhar até comentar em blogs - que são legais simplesmente porque não são ilegais) seja a mais indicada, porque a atividade a que a Uber se dedica (serviços de táxis) está efetivamente regulamentada (o problema é exatamente esse); acho que uma analogia mais correta seria se, no contexto de uma sociedade em que a prostituição fosse regulamentada (ou proibida) surgisse um negócio que tentasse esquivar-se à lei dizendo "isto não é prostituição - os clientes pagam é pelas bebidas, não pelo que ele e senhora que lhe faz companhia enquanto bebe eventualmente façam depois"; seja como for, não me admirava que no pagamento em numerário haja mais fuga do que no pagamento em cartão.

    Por norma, empresas em que haja uma grande sepraração entre patrão e empregado (mesmo quando tentam fingir que o "empregado" é outra coisa qualquer) fogem menos ao fisco, exatamente porque os mesmos mecanismo formais que são necessários para o empregado não roubar ao patrão tornam dificil fugir ao fisco.

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    1. Talvez fosse bom rever as leis dos táxis. É que dá-me a ideia que as leis dos táxis são a criação de um monopólio. Os táxis não fizeram lóbi para que estivessem sujeitos a uma legislação menos restritiva; o que eles querem é que a legislação que lhes é aplicada seja usada para eliminar a concorrência.

      Ora, se a legislação actual é assim, porque é que anda toda a gente a falar de Portugal precisar de uma economia mais competitiva e, sempre que aparece competição, abre-se a época de caça ao competidor?

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    2. Rita, concordo consigo, é urgente rever as leis dos táxis porque as atuais estão completamente desatualizadas.

      Precisamente por a legislação ser assim é que andamos todos a dizer que Portugal precisa de uma economia mais competitiva. A maioria da regulamentação em Portugal é muito pouco discutida e é feita numa perspetiva de "advogados" que precisam que ela seja confusa e pouco clara para terem trabalho.

      Contudo, concordo com a decisão do tribunal, continuamos a ser um estado de direito pelo que empresas que operam em Portugal, sejam elas multinacionais americanas com um hype tremendo ou negócios de vão de escada têm de ser tratadas de forma igual pela justiça.

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  5. Comparar serviços de transporte com prostituição é um bocado estranho.

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