segunda-feira, 27 de abril de 2015

O caminho da felicidade

O Leonid Bershidsky, que eu adoro, apesar de não concordar com tudo o que ele diz, tem uma peça de opinião acerca dos países do norte da Europa terem povos que são mais felizes. Na peça o Leo faz referência a um estudo, cujos editores incluem o Jeffrey Sachs. Quando eu trabalhava na Tyson Foods, ele foi ao nosso campus apresentar um seminário e eu tenho dois dos livros dele autografados (eu colecciono livros autografados). Espero bem que a Tyson Foods tenha dado muito dinheiro à Millenium Foundation; é mais do que justo. Uma vez, houve uma festa na casa de John Tyson e um rapaz de 19 anos roubou $140.000. Deve ser bom ter $140.000 em casa, assim como quem tem uma nota de $20. Eu não faço ideia do que isso seja; a maior parte das vezes, nem sequer $20 tenho. Nem o Ricardo Salgado deve saber o que isso é, pois ele é o CEO mais pobre que eu já vi. Nada era dele, coitado...

O cálculo felicífico era um dos sonhos do Jeremy Bentham, um economista da escola do Utilitarianismo. Bentham achava que, um dia, seria possível tratar a utilidade dos actos como uma coisa mensurável e as coisas mensuráveis são comparáveis. Acho que este exercício do Jeffrey Sachs é uma extensão disso. Mas eu acho que ainda estamos longe desse ponto porque no que diz respeito à felicidade, nós somos um bocado daltónicos: cada um vê as cores da coisa, mas não *vê* verdadeiramente nenhuma cor.

Cá para mim, este problema da felicidade dos nórdicos é um de genética. Estas pessoas vivem metade do ano sem boa luz, logo, com certeza, contentam-se com muito pouco. Se eu vivesse metade do ano num sítio assim seria muito infeliz porque eu cresci com a luz magnífica de Portugal, daí ser preferível estar no Texas, onde há boa luz, apesar de a concentração de pessoas com "ideias interessantes" ser muito grande e quase toda a gente ter uma arma, menos eu. No entanto, eu já disparei armas, inclusive uma Smith & Wesson, logo já não sou virgem nesse campo (e no outro também não).

Depois, há a comida. A comida do norte da Europa não sabe a nada. Se eles se contentam com aquilo, é claro que são mais felizes: têm gostos muito pouco exigentes. Então nós, portugueses, com uma comida muito saborosa, com a maior diversidade cultural e geográfica do mundo, dado o tamanho do nosso país, somos muito mais exigentes. Se até os italianos invejam a arquitectura de Lisboa, é sinal que nós somos uns estragados, só gostamos do melhor que há.

Por tudo isto, eles podem ter mais dinheiro, mas nós temos muito melhor qualidade de vida do que os escandinavos, pois apreciamos e consumimos as coisas mais refinadas que existem, a começar pelo café...

Ah, e sabem o que me fez feliz? Eu olhei para o gráfico que o Leo colou na Bloomberg e soube logo que aquilo foi feito com STATA.

4 comentários:

  1. Em matéria de felicidade a cada qual a sua e rankings sobre o tema não faltam.
    As Nações Unidas publicaram semana passada, deve ter dado por isso, o World Happiness Report 2015 - http://worldhappiness.report/ - que coloca a Suiça em primeiro lugar e Portugal em 88º.
    A Costa Rica, p.e., está em 12º. os EUA em 15º. e a Venezuela em 23º.!

    Tenho alguma dificuldade em perceber os factores de avaliação. Dá uma ajuda?

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    1. Eu acho que eles fazem uns inquéritos onde perguntam a satisfação das pessoas com certos tópicos. Depois associam os resultados da satisfação com indicadores económicos. Como não é o resultado de uma experiência controlada, não dá para inferir causalidade, apenas correlação. No entanto, nos media infere-se muito causalidade. E em Portugal é comum ouvir-se que precisamos de salários e reformas ao nível do resto da Europa, o que implica que esse dinheiro traria felicidade, mas não traz. Há muitas pessoas extremamente infelizes que são podres de ricas. Ok, é melhor ser infeliz com um iPhone no bolso a bebericar uma caipirinha em Albufeira do que ser infeliz porque se está em casa desempregado e não se tem dinheiro para fazer compras.

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  2. Um país que tem como desporto nacional pós-65 a hipocondria analítico-comparativa e cuja resposta à saudação social "como está(s)" é "vai-se andando" nunca vai figurar muito alto em rankings subjectivos desse estilo...

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