segunda-feira, 27 de abril de 2015

Vamos a um copinho?

Eu já vos disse que Houston é uma das cidades que mais cresce nos EUA. O crescimento está a sair de áreas que eram tradicionalmente industriais para zonas mais recentes, sem uma grande história. Houston era uma pequena cidade até 1900, altura em que um furacão destruiu a ilha de Galveston e causou o maior número de mortes por causa de um furacão nos EUA. Entre 6.000 e 12.000 pessoas pereceram. Depois disso, Galveston, que era uma cidade muito cosmopolita, perdeu o brio e Houston começou a crescer por ser mais dentro de terra e, por isso, não estar sujeita a tanta destruição em caso de furacões.

Um dos artigos de hoje na Bloomberg fala das cidades nos EUA onde há mais crescimento: são as cidades a oeste. Oeste nos EUA é uma coisa relativa. Por exemplo, o Texas é sudoeste, apesar de na minha cabeça isto ser mais leste do que outra coisa. Se pensarmos que os EUA foram povoados do nordeste para oeste, ajuda a compreender a lógica subjacente, mas eu tento não pensar muito no que os americanos chamam às coisas e vou com a maré. No artigo da Bloomberg, há este pedaço que eu acho delicioso:

“The decline in manufacturing in the East, combined with an increase in service and technology jobs, is moving the country’s economic gravity westward,” said Kenan Fikri, a researcher at Washington’s Brookings Institution. “Compared to eastern cities, those in the West don’t have the economic baggage that comes from an industrial legacy.”

Estão a ver o copo, não estão? Estes sítios, por não terem uma história de indústria, têm uma vantagem relativamente aos sítios tradicionalmente industriais. As desvantagens do passado tornaram-se as vantagens do presente e futuro. O copo que costumava estar meio-vazio, está agora meio-cheio. Pensem nisso na próxima vez que vos disserem que o presente e o futuro de Portugal estão limitados por causa do seu passado não-industrial.

13 comentários:

  1. (1) O Texas não fica no sudoeste e sim no sudeste dos EUA. No sudoeste fica a Califórnia.
    (2) Portugal tem bastante passado industrial. Há países que têm mais, claro, mas desde o século 18 que Portugal sempre teve bastante indústria. E ainda hoje tem.
    (3) Essa de o passado industrial ser um lastro é um perfeito disparate. Veja-se o caso da região tradicionalmente mais industrial de Espanha, o País Vasco, que continua a ser a região mais rica desse país. Ou veja-se o caso de Pittsburgh, na Pensilvânia, que outrora foi uma das capitais industriais dos EUA e hoje é uma das suas capitais do software. As regiões reinventam-se.

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    1. (1) - The Southwestern United States (also known as the American Southwest or simply the Southwest[2]) is a region of the United States defined in different ways by different sources. Broad definitions include nearly a quarter of the United States, including Arizona, California, Colorado, Nevada, New Mexico, Oklahoma, Texas, and Utah. http://en.wikipedia.org/wiki/Southwestern_United_States

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    2. Luís Lavoura, não percebi o seu comentário. Acho que falamos línguas diferentes. Eu falei do que se fala nas notícias, que Portugal não tem indústria suficiente e que perdeu o comboio e, como tal, está condenado. Muita da indústria que nós tínhamos foi destruída nas últimas décadas, mas isso pode ser visto como uma oportunidade.

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    3. Desculpe Rita, mas aqui concordo com o Luís Lavoura. Uma coisa é a diminuição do peso da indústria (e de um tipo de indústria) numa zona do país, por troca com outra. Outra coisas bem diferente é a desindustrialização e um excesso peso de serviços "não exportáveis".

      Adicionalmente, é preciso ver que o estatuto de "superpotência" não dá para todos e algumas das vantagens que os EUA têm não são transferíveis para outro lado.

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    4. "Desculpe Rita"
      Carlos, em nome da Rita, declaro-o desculpado.

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    5. O exemplo dos EUA neste artigo serve para dizer que, como não existe grande investimento já estabelecido, estes sítios podem ter uma flexibilidade maior, pois podem investir recursos no que cria mais valor para o futuro. E como não há nada estabelecido não têm de suportar os custos de desinvestir noutras áreas para abraçar as novas. É um bocado como aquela ideia do "Small is beautiful", em que empresas pequenas conseguem ser mais ágeis a adaptar-se aos desafios do que empresas já estabelecidas. Por não haver indústria estabelecida, há uma maior agilidade de abraçar novas ideias.

      Os EUA serem uma super-potência é irrelevante; a Irlanda seguiu esta estratégia e não era uma super-potência.

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    6. Eu falei do que se fala nas notícias

      Talvez seja esse o seu erro: as notícias muitas vezes andam bem longe da realidade.

      que Portugal não tem indústria suficiente

      É claro que Portugal poderia e deveria ter mais indústria (e sobretudo indústria com mais incorporação tecnológica). Mas dizer que não tem, é um abuso. As regiões litorais Centro e Norte estão cheias de fábricas por todo o lado. E isso já vem de há muitas décadas.

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    7. Rita, a Irlanda - novamente - é um nicho de excepções, por causa da língua e do peso das empresas norte-americanas. Não é um modelo que seja "transportável" para outros lados. O equivalente seria o Brasil no próximo século transformar-se na próxima superpotência comercial e nós fazermos o papel de Irlanda para a Europa (not seeing it happen).

      A bem ou a mal, e mesmo não concordando completamente com a política seguida nos últimos anos, o modelo mais adequado para nós seria o Alemão ou o Italiano (menos a corrupção neste caso...), ajustado às especificidades geográficas do nosso país: i.e. uma economia assente no sector primário (de base marítima, SE se conseguir capitalizar isso mesmo - veremos, ainda é cedo) e secundário, com um sector de serviços que sirva de apoio aos dois anteriores e a um nível sustentável de consumo privado. Com a vantagem que sendo uma economia pequena, deveríamos tentar jogar o papel de exportadores líquidos sem nos termos que preocupar com ciclos macroeconómicos à escala europeia (como a Alemanha devia, mas não faz) ou à escala mundial (EUA).

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    8. ajustado às especificidades geográficas do nosso país

      Li recentemente que o segredo da independêcia de Portugal, no tempo dos nossos primeiros reis, foi precisamente a especificidade geográfica de uma longa costa marítima com portos onde os cruzados do Norte podiam aportar para se reabastecer.

      Atualmente, creio que a especificidade geográfica pode voltar a ser um grande trunfo português. Tal como o Dubai e Istambul fazem a ponte entre a Europa e a Ásia, Portugal é a ponte natural entre a Europa e a América e (para o tráfego marítimo) também a Ásia.

      A TAP e Sines já se aproveitam abundantemente dessa especificidade geográfica.

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  2. Há uma teoria que o Texas, ao contrário dos outros estados do sueste ("Sul"), reagiu à derrota na Guerra da Secessão, não romantizando o general Lee, a bandeira de combate confederada, etc., mas convencedo-se a si próprio e ao resto do mundo que eram um estado do Oeste.

    Creio que li algures (mas a Rita que está aí poderá dizer se isso faz sentido ou não) que algumas pessoas até ficam surpreendidas com a paisagem do Texas, porque estão à espera de algo como a dos filmes "passados no Texas" mas rodados no Arizona.

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    1. Essa hipótese é muito interessante, Miguel.

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    2. O Texas tem muitas paisagens e há partes que são parecidas com os filmes. A cidade dos cowboys no Texas é Fort Worth, que é ao pé de Dallas.

      A ideia do Miguel está mais ou menos correcta, mas a razão não era a Guerra da Secessão e a luta para acabar a escravatura, mas sim a segregação, segundo o que se escreveu o mês passado no Texas Monthly. O sul estava associado à hipocrisia religiosa, ignorância, e ao Ku Klux Klan e o Texas não queria ser associado a isso. Ver aqui:
      http://www.texasmonthly.com/daily-post/texas-southern-western-or-truly-lone-star

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