quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Como podemos ser felizes?

Numa festa, toda a gente dança e se diverte, menos um socialista revolucionário, cabisbaixo, Isolado num canto. Uma rapariga aproxima-se e pergunta-lhe se ele não se quer juntar ao grupo. E, com o ar mais sério do mundo, o homem responde: como posso eu ser feliz se a Polónia sofre? Lembro-me de ler esta cena num dos livros do Eça de Queiroz – penso que em A Capital.

Certas personagens da vida pública nacional sugerem-me o socialista revolucionário do Eça, em especial o Francisco Louça. Louçã parece carregar todas as desgraças do universo. E sofre. Sofre muito. Coitado.

10 comentários:

  1. Uma das (muitas) coisas que me irrita na política (ou melhor, nos políticos), é a ideia que querem fazer passar de que sofrem tanto como o povo. E depois estão rodeados das mordomias que o capitalismo (que tanto criticam) lhes proporciona...
    Já gora, gostaria de incentivar, tal como o PM fez, a emigração. A começar pelos corruptos deste país. Isso sim, era um sonho.

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  2. A compaixao, empatia ou a geral repulsa pela perversidade implicita nas causas e efeitos da desigualdade social galopante, sao, obviamente, um desvio de extrema-esquerda, uma anomalia que urge corrigir no pensamento racional do homo economicus, supremo adubante parido pelas ferteis imaginacoes, autenticas cloacas, dos acolitos da nao menos mitica "ciencia economica".

    Coitado, lamentam-se os sacerdotes do mito, nao consegue ver a bondade da crise economica nem a fada da confianca que sempre aparece no final de todas as fabulas porno-eroticas dos economistas austeritarios actuais.

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  3. Curiosamente, o Francisco Louçã é um dos "acolitos da não menos mítica ciência económica". É professor catedrático e tudo.

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  4. Curioso nao. Banal.
    Todas as religioes tem acolitos hereticos.

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  5. Herético? Ele é bastante respeitado dentro da academia.

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  6. O Francisco Louçã é respeitadíssimo. É dos melhores investigadores que temos em Portugal e tenho orgulho em ter sido orientado por ele (tese de mestrado). Não tenho dúvidas de que se ele se dedicasse inteiramente, ou principalmente, à academia seria actualmente um dos líderes das novas correntes heterodoxas.

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  7. A heresia e um termo derrogatorio criado com um intento especifico de catalogar e marginalizar uma qualquer corrente de pensamento teologico por parte da porcao maioritaria e detentora de poder numa determinada religiao.

    Respeito traduz um sentimento de admiracao orgulho ou mesmo espanto em relacao as accoes de um individuo ou conjunto de individuos por parte de outro grupo de individuos. E tambem um sentimento sempre relativo a um qualquer ponto de referencia, isto e, nao se tem respeito sem haver o contraponto do desrespeito a algo diverso.

    Serve isto para contextualizar tres observacoes:
    « O "coitadinho" e precisamente heretico para mitigar o respeito que poe em risco uma determinada visao ortodoxa dominante na religiao economica actual.
    « Quando se fala desse respeito, 3 imediatas questoes se levantam: respeito por parte de quem? Respeito pelo que? Respeito em contraponto ao que?
    - Ou seja, heresia e respeito nao sao mutuamente exclusivos, e ate bem provavel que andem de mao dada.

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  8. Lowlander, percebo o argumento e agradeço a precupação com o rigor das palavras. De qualquer maneira, herético (ou herege) parece-me excessivo para definir o Francisco Louçã em relação à economia. Ele não está contra todos os pressupostos definidos. Ele segue "novas correntes heterodoxas", como diz o Luís, o que é ligeiramente diferente. Embora, concedo, estejamos a falar de nuances. Penso, contudo, que o importante a reter é que a economia não é uma coisa monolítica e academia não é a inquisição, pelo contrário, deve ser um espaço de livre pensamento e debate - só assim o conhecimento evolui -, onde os heterodoxos têm o seu espaço. O Louça é repeitado, como é evidente, devido à pertinência das suas investigações, reconhecida pelos pares (ortodoxos incluídos). E os heterodoxos de hoje podem ser os ortodoxos de amanhã.

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  9. Caro Jose Carlos Alexandre, muito bem, boas palavras.
    O problema e que, depois de tanta cuidada e diplomatica nuance e de tanto respeito "como e evidente" desembocamos, ou, como no caso da peca de prosa la muito para tras, nascemos logo tortos, escolioticos, corcundas mesmo a dizer que o homem e um coitado. E depois, como bem diz o povo, tarde ou nunca nos endireitamos.

    Quanto aquilo que voce pensa ser "o importante a reter", eu percebo inteiramente o que pretende transmitir, e percebo ainda melhor porque e que pensa aquilo que pensa. Mais ate, louvo as obvias boas intencoes.
    O problema e o fosso entre esse pensamento e a realidade de uma profissao que preve nos seus modelos "racionais" de descricao da realidade a aparicao de fadas da confianca.

    Mas nao se exaspere demasiado comigo. A serio. Boas palavras. Vai tao longe quanto pode.

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  10. Para rematar, só mais duas ou três coisas:
    Eu não me exaspero nada com o Lowlander, pelo contrário, até lhe costumo achar piada, apesar de estarmos muitas vezes em desacordo.
    O meu post era sobre o Loução figura pública, longe de mim quer questionar os seus méritos académicos. Reconheço-lhe até talento político, embora não me reveja nem nas ideias nem no estilo.
    Por fim, tenho uma licenciatura e um mestrado em economia, mas estou a fazer um doutoramento em história contemporânea. isto para dizer que, embora respeite os economistas e a economia, não me considero um especialista nem um acólito desta ciência.

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