segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Mais um erro de casting?

No início do escândalo BES, Carlos Costa foi levado ao colo pela comunicação social e pelo governo. Ele não era o Constâncio, o problema era o GES e não o BES - o facto de o presidente das duas instituições ser o mesmo, o DDT, não era motivo mais do que suficiente para se desconfiar? Mas não, eram coisas diferentes, diziam-nos. Agora sim, a regulação estava a funcionar, a solução apresentada a 3 de agosto por Carlos Costa era boa, era mais justa do que a do BPN, etc., etc.. Até que, a partir de determinado momento, a percepção das pessoas começou a mudar. Hoje, com o que já sabemos, é possível perceber que Carlos Costa foi, no mínimo, ingénuo em todo este processo - aconselho vivamente a leitura do comentário do Rui Fonseca ao meu anterior post. Isto remete-nos para a questão do perfil ideal para director de um banco central.

Em termos de uma regulação eficaz não há nada que substitua a competência do director do banco central. Ultimamente, um pouco por todo o lado, temos vindo a assistir à nomeação de académicos em vez de banqueiros experientes, como acontecia noutros tempos, o que me parece um claro retrocesso. O director de um banco central deve ser um banqueiro extremamente experiente, que conheça muito bem o mercado financeiro, alguém arguto, desconfiado, paranóico mesmo (os paranóicos também podem ser úteis à sociedade e este parece-me ser um desses casos), alguém que cheire a muitas milhas de distância fraudes e transacções corruptas. Começa a tornar-se claro que Carlos Costa foi mais um erro de casting.

3 comentários:

  1. Não discordo, mas teria que ser um banqueiro sem ligações privadas (ou mesmo comerciais) aos nossos bancos. Ora nos dias que correm, isso é francamente complicado. O problema de Carlos Costa parece-me ser outro: excessiva lealdade a poderes dos quais devia ser independente. A nomeação do presidente do banco de Portugal deve ser repensada de forma a evitar a sombra da gratidão a quem nomeia.

    Podiam, por exemplo (e isto é só na brincadeira!), nomear o Francisco Louçã. Economista de renome e absolutamente para além de qualquer suspeita de amizades para com instituições financeiras ou o actual Governo.

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    1. Tem razão, um dos problemas das entidades de regulação é mesmo as questões de lealdade aos poderes instituídos e muitas vezes a expectativa de um dia trabalharem, com salários chorudos, nas instituições que regulam e supervisionam. Num país pequeno como Portugal esse problema é ainda maior. O principal problema do Louçã é não ter, que eu saiba, experiência no sector. Não é de facto fácil arranjar alguém com as características ideais para o cargo.

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  2. Mais um!! Neste tempo pejado de mitos mortos e outras gentes, igualmente mortas, já só há lugar a erros de casting!!

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