terça-feira, 16 de setembro de 2014

O interesse público capturado, mais uma vez

Por mais tretas que nos queiram impingir, o BES foi nacionalizado. O contributo da banca comercial para o financiamento do novo banco é quase uma migalha quando comparado com o buraco que o Estado tem de tapar. Por este motivo, não faz qualquer sentido tratar a banca comercial como se de accionistas do novo banco se tratasse. E, sendo assim, o novo banco devia ser gerido de acordo com o interesse público e não com o interesse privado.

Não é preciso ser um ás das finanças para perceber que vender um banco à pressa é garantia de péssimo negócio para quem vende, sendo que quem vende são os contribuintes, e de um excelente negócio para quem compra.

Para já, apenas consigo encontrar dois motivos para esta venda apressada que agora querem impor. Primeiro, o interesse da banca comercial em aproveitar os despojos de um banco que detinha uma quota de mercado de cerca de 20%. Segundo, a incapacidade das autoridades em assumir que nacionalizaram um banco. Por isso, para poderem insistir na ideia de que não houve uma nacionalização de facto, governo e Banco de Portugal querem ver-se rapidamente livres da propriedade do novo banco.

Até ao momento, tinha considerado que a actuação das autoridades neste caso tinha sido, dadas as circunstâncias, a melhor possível. Agora, deixei de acreditar que seja o interesse público a nortear as suas intenções. Torna-se para mim óbvio que, mais uma vez, o interesse público está a ser capturado por interesses privados. Não estando o interesse público alinhado com o privado, o executor do projecto, se for uma pessoa decente, sai. Até prova em contrário, é assim que compreendo a saída de Vítor Bento.

PS Não tenho qualquer informação privilegiada sobre o assunto.

4 comentários:

  1. Absolutamente de acordo. Ao que dá a entender, prometeram ao Vítor Bento que o Novo Banco seria algo similar ao Lloyds ou ao Northern Rock - reestruturar a imagem do banco, torná-lo rentável e atractivo e então vendê-lo. A realidade é outra: é uma "firesale in the making", um novo BPN (eventualmente mais rápido). E da última vez que vi o Governador do BP ainda é o mesmo...

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  2. Corrigindo:
    Também pensei que a solução seria parecida com a adoptada no Loyds, no Banesto e em muitos outros, que seria uma solução clássica, digamos assim.
    Por outro lado, parece-me que, depois de separado o BES Mau, deveria ficar vivo o BES (bom) e não o Novo Banco, ademais com morte anunciada. Afastadas as maçãs podres, deveriam ficar as maçãs boas, a serem cuidadas pelos antigos funcionários que, na sua esmagadora maioria, não tiveram culpa do sucedido. Assim não, para além dos enormes custos da mudança de marca - os emblemas do BES até eram bonitos -, a criação do Banco borboleta, para morrer o mais breve possível, não ajuda nada, parece-me, a minimizar os prejuízos, sejam eles inteiramente, ou não, a cargo dos contribuintes. Prejuízos são prejuízos e está tudo dito.

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    1. Olá. Não sei o que se passou com o seu comentário anterior, que não aparece publicado. De qualquer forma, não me vou preocupar em recuperá-lo dado que este o torna redundante.
      Muito brogado.

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  3. Não podia estar mais de acordo e em breve se confirmará quando soubermos das condições e identidades da venda/compra. E continua a ninguém ser encaminhado para o xadrez!

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