Um blogue de tip@s que percebem montes de Economia, Estatística, História, Filosofia, Cinema, Roupa Interior Feminina, Literatura, Laser Alexandrite, Religião, Pontes, Educação, Direito e Constituições. Numa palavra, holísticos.
sexta-feira, 31 de março de 2017
Como ficar pobre
Depois da crise financeira de 2008 e de ter ficado sem emprego duas vezes, concluí que todos nós que dependemos do nosso trabalho para ganhar a vida, estamos a um ou dois eventos de ficar pobres. Nos EUA, em particular, isto é bastante real. Mesmo que sejamos qualificados, trabalhadores, com um bom CV, basta ter um azar e toda a nossa vida muda completamente. Esta minha tendência para pensar no pior não me ganha muitos amigos; pouca gente quer pensar em coisas tristes e, de vez em quando, dizem-me que sou um bocadinho chata, pessimista, obcecada por dinheiro, etc.
Muita gente não percebe que está tão próximo da pobreza porque o normal é não haver grandes azares na vida da maior parte das pessoas e depois há a questão da visibilidade: enquanto que alguém de sucesso é reverenciada, aparece em jornais, mostra a sua boa sorte nas redes sociais, quem tem azar é muito mais discreto voluntária ou involuntariamente. A pobreza não é sexy, a não ser que acabe em riqueza.
Só quem tem um stock de riqueza acumulado é que tem maior probabilidade de estar resguardado do risco de acabar na pobreza; mas, mesmo assim, é preciso ter um estilo de vida que não exausta essa riqueza ou essa riqueza tem de gerar retorno que compense o estilo de vida, o que requer algum conhecimento de gestão financeira. Afinal, há bastantes pessoas que conseguiram acumular boas fortunas e depois as perderam. Mesmo os que ganham a lotaria frequentemente acabam mais pobres do que antes de a ganhar.
No Washington Post, a Michelle Singletary, colunista de Finanças Pessoais, aconselha as pessoas a serem um bocado mais humildes, porque ninguém está livre de acabar pobre depois de um azar, ou mais, e recomenda a leitura de um texto de William McPherson, um jornalista do WashPost que ganhou o Prémio Pulitzer, nunca tinha sido pobre, mas acabou na pobreza porque decidiu trabalhar por conta própria em vez de manter o emprego, teve um ataque cardíaco, etc.
Muita gente não percebe que está tão próximo da pobreza porque o normal é não haver grandes azares na vida da maior parte das pessoas e depois há a questão da visibilidade: enquanto que alguém de sucesso é reverenciada, aparece em jornais, mostra a sua boa sorte nas redes sociais, quem tem azar é muito mais discreto voluntária ou involuntariamente. A pobreza não é sexy, a não ser que acabe em riqueza.
Só quem tem um stock de riqueza acumulado é que tem maior probabilidade de estar resguardado do risco de acabar na pobreza; mas, mesmo assim, é preciso ter um estilo de vida que não exausta essa riqueza ou essa riqueza tem de gerar retorno que compense o estilo de vida, o que requer algum conhecimento de gestão financeira. Afinal, há bastantes pessoas que conseguiram acumular boas fortunas e depois as perderam. Mesmo os que ganham a lotaria frequentemente acabam mais pobres do que antes de a ganhar.
No Washington Post, a Michelle Singletary, colunista de Finanças Pessoais, aconselha as pessoas a serem um bocado mais humildes, porque ninguém está livre de acabar pobre depois de um azar, ou mais, e recomenda a leitura de um texto de William McPherson, um jornalista do WashPost que ganhou o Prémio Pulitzer, nunca tinha sido pobre, mas acabou na pobreza porque decidiu trabalhar por conta própria em vez de manter o emprego, teve um ataque cardíaco, etc.
"McPherson says he miscalculated his money and financial skills. In 1987, at 53, he decided to leave The Post and write about Eastern Europe as a freelance journalist.
“I chose retirement because I was under the illusion — perhaps delusion is the more accurate word — that I could make a living as a writer and The Post offered to keep me on their medical insurance program, which at the time was very good and very cheap,” he writes. “The pension would start 12 years later when I was 65. What cost a dollar at the time I accepted the offer, would cost $1.44 when the checks began.”
He had investments — a 401(k), a Keogh — money from some real estate ventures, and even some inheritances. It would all have been enough.
Except, it wasn’t.
He spent more than he should have in Europe, and the cost of recovering from a major heart attack further drained his finances."
Fonte: Michelle Singletary, The Washington Post
quinta-feira, 30 de março de 2017
Era só um milagrito!
Hoje matei um esquilo pela primeira vez, enquanto conduzia. Fiquei capaz de morrer. É verdade que, de vez em quando, estas criaturas me chateiam porque escavacam as minhas plantas no pátio. Não percebo porque implicam com o meu pátio, pois eu até lhes deixo nozes de vez em quando, num buraco de uma árvore. E aquela vez que, em Memphis, tive de pagar mais de $1.000 a alguém porque os esquilos tinham conseguido entrar na estrutura da minha casa? Fiquei chateada com o custo das reparações, mas o serviço também incluía apanhar os esquilos malandrecos e mudá-los de sítio, para longe de onde eu vivia. Ninguém os matou.
Dizia eu que, hoje de manhã, ia eu devagar, quando um esquilo aparece a sair de uma valeta, a correr para a estrada. Não tive tempo para fazer nada, pois se travasse era capaz de o passar a ferro -- foi a única coisa que me ocorreu. Talvez devesse ter acelerado, mas era difícil para mim avaliar em que sítio do meu carro o bicho estava. Olhei para o retrovisor e ele estava deitado na estrada, os pelinhos da cauda esvoaçavam com a brisa. Virei o carro para voltar atrás, estacionei, fui buscar um pano que trago na mala, e fui auxiliar o esquilo. Se estivesse vivo, levá-lo-ia ao hospital dos animais.
Não passei por cima dele; julgo que bateu contra uma das minhas rodas e, com o impacto, teve uma hemorragia interna, pois tinha a boca com sangue. Peguei no bichinho, abanei-o a ver se ainda se mexia, mas nada... Levei-o para uma zona mais recatada, debaixo de uma árvore, e deitei-o no chão. Fiz-lhe festinhas, falei com ele, e pensei que seria bom se ele só tivesse desmaiado, mas estava morto. Resignei-me e regressei ao carro.
Este era um macho, mas fez-me recordar daquela vez em que vi um esquilo fêmea morto na estrada. Notava-se que estava a amamentar e os filhotes devem ter morrido. Hoje podia ter sido pior, podia ter matado uma mãe-esquilo. E depois pensei no valor da vida dos esquilos, se matar um macho era preferível a matar uma fêmea. É uma pergunta parva, mas ocorreu-me.
Quando fui almoçar olhei para o sítio onde o deixei, pensei que talvez tivesse havido um milagrito, mas ainda estava lá. Não vale a pena gastar milagres em esquilos.
Dizia eu que, hoje de manhã, ia eu devagar, quando um esquilo aparece a sair de uma valeta, a correr para a estrada. Não tive tempo para fazer nada, pois se travasse era capaz de o passar a ferro -- foi a única coisa que me ocorreu. Talvez devesse ter acelerado, mas era difícil para mim avaliar em que sítio do meu carro o bicho estava. Olhei para o retrovisor e ele estava deitado na estrada, os pelinhos da cauda esvoaçavam com a brisa. Virei o carro para voltar atrás, estacionei, fui buscar um pano que trago na mala, e fui auxiliar o esquilo. Se estivesse vivo, levá-lo-ia ao hospital dos animais.
Não passei por cima dele; julgo que bateu contra uma das minhas rodas e, com o impacto, teve uma hemorragia interna, pois tinha a boca com sangue. Peguei no bichinho, abanei-o a ver se ainda se mexia, mas nada... Levei-o para uma zona mais recatada, debaixo de uma árvore, e deitei-o no chão. Fiz-lhe festinhas, falei com ele, e pensei que seria bom se ele só tivesse desmaiado, mas estava morto. Resignei-me e regressei ao carro.
Este era um macho, mas fez-me recordar daquela vez em que vi um esquilo fêmea morto na estrada. Notava-se que estava a amamentar e os filhotes devem ter morrido. Hoje podia ter sido pior, podia ter matado uma mãe-esquilo. E depois pensei no valor da vida dos esquilos, se matar um macho era preferível a matar uma fêmea. É uma pergunta parva, mas ocorreu-me.
Quando fui almoçar olhei para o sítio onde o deixei, pensei que talvez tivesse havido um milagrito, mas ainda estava lá. Não vale a pena gastar milagres em esquilos.
A erosão do intelecto
“We should only be working on two things, health and the freaking environment. The last thing we need is another freaking browser and app -- those things are eroding our national intellect.”
~ George Yancopoulos, Regeneron Pharmaceuticals Inc. co-founder
~ George Yancopoulos, Regeneron Pharmaceuticals Inc. co-founder
O Vito Gaspar
Ontem, enquanto passeava o Choppinho ao final da tarde, e me entretinha a observar os estragos da tempestade que tivemos de manhã (Aviso de tornado, pessoal! A coisa ficou mesmo preta -- literalmente! Entre as 10:30 e as 11 da manhã ficou escuro como breu. Chuva, trovoada, vento...), ouvi o podcast mais recente do Bloomberg Surveillance. Surpreendentemente foi curto, mas o Willem Buiter, de quem gosto bastante, foi entrevistado e um tal de Vito Gaspar também -- o Tom Keene não sabe dizer Vítor.
Pois é, era o Vítor Gaspar, que foi falar de um relatório em que foi um dos autores e que analisa a relação entre dívida e política. Percebe-se que o nosso antigo Ministro das Finanças é um grande fã de Alexander Hamilton. Será que ele tem a banda sonora de Hamilton, o musical da Broadway, que tem sido usada para ensinar economia e história?
Pois é, era o Vítor Gaspar, que foi falar de um relatório em que foi um dos autores e que analisa a relação entre dívida e política. Percebe-se que o nosso antigo Ministro das Finanças é um grande fã de Alexander Hamilton. Será que ele tem a banda sonora de Hamilton, o musical da Broadway, que tem sido usada para ensinar economia e história?
Depois, queixem-se
Para que o populismo floresça, tem de haver uma oferta e uma
procura. Quando os nossos analistas dizem que não há populismo em Portugal,
estão a olhar apenas para o lado da oferta. Esquecem-se do lado da procura. Até ver, não há de facto líderes ou partidos políticos que utilizem o discurso
populista por excelência, do “nós, o povo real e puro, contra a elite corrupta,
que pensa apenas nos seus próprios interesses”. Mas só um cego é que não vê sentimentos
populistas no seio da população, sentimentos, aliás, bastante antigos e com uma
longa tradição. A ideia de que “eles” não estão lá para governar, mas para se
governarem está bem entranhada na sociedade portuguesa. Este sentimento populista
pode estar adormecido, ser apenas latente, mas está lá, disso não tenhamos
dúvidas. Para que seja activado, são necessárias duas ou três coisas. Primeira,
que apareça a tal oferta, sob a forma de um líder ou partido ou movimento populista.
Segunda, que se espalhe e interiorize, por exemplo, a ideia de que existe uma corrupção
sistémica e que não há consequências, ou seja, o sentimento de que a justiça é
forte com os fracos e fraca com os fortes. Por isso, neste momento, o desempenho da
justiça é mais importante do que nunca. Mas há outros rastilhos.
Os partidos tradicionais portugueses (em
especial o PS), à semelhança do que aconteceu por essa Europa fora, andam a
brincar com o fogo. Quando as coisas correm bem, os méritos são do governo;
quando correm mal ou não podem cumprir certas promessas, a culpa é da União
Europeia, que os obriga a fazer coisas contra a sua vontade. Esta atitude não é
séria. Ao invés, os partidos deviam admitir claramente as limitações do seu
poder e explicar que essas limitações advêm de concessões feitas à EU por esses
mesmos partidos no passado. Mas não. Com o objectivo de ganhar votos no presente, estão
inadvertidamente a alimentar ressentimentos futuros em relação à UE. E é deste
tipo de ressentimento que se alimenta em grande parte o actual populismo na
Europa. Depois, queixem-se.
A minha Fruta Feia
Hoje foi dia de receber o meu saco da Fruta Feia aqui do burgo. É entregue à minha porta, semana-sim/semana-não (foi essa a frequência que escolhi, em vez de semanalmente), à Quarta-feira, num saco térmico que tem uma garrafinha de água congelada para manter a temperatura. Há uns meses, o serviço começou a enviar SMSs no dia anterior para nos lembrar para deixarmos o saco vazio da semana anterior à porta, mas eu já tinha colocado um lembrete no meu telefone, pois, por vezes, cheguei a acumular dois e três sacos, o que me chateava um bocado.
Eu compro o chamado "medium bushel", que custa $27.99 e tem 5 a 7 itens diferentes. Esta semana recebi beterraba Chioggia, que é uma beterraba às riscas (as rodelas parecem um chupa-chupa; nunca tinha visto), com a respectiva verdura; cenouras e respectiva verdura -- acho que vou tentar fazer pesto --; um molho pequeno de couves; alface; 4 laranjas; e cerca de meio quilo de batata doce.
Para além de ser conveniente receber o saco em casa, evito gastar tempo e gasolina para ir à mercearia e não caio na tentação de comprar coisas de que não preciso. Uma outra vantagem é que acabo por ter uma dieta mais variada e que muda com o que está na época. Muitos dos ingredientes que recebo são coisas que não costumo comprar ou desconheço; mas há produtos que dei instruções para não me enviarem: quiabo (okra), sálvia (costumo ter no jardim), e beringela.
Aqui está a foto desta semana:
quarta-feira, 29 de março de 2017
Se dependesse de mim, todos os aeroportos do mundo chamar-se-iam Marilyn Monroe.
terça-feira, 28 de março de 2017
Consolos
Quando eu andava no primeiro ano do ciclo, actual quinto ano, tive hepatite, julgo que no terceiro trimestre. Apanhei porque a minha vizinha, que era um ano mais nova do que eu, ficou doente: eu apanhei dela e a minha irmã apanhou de mim umas semanas mais tarde. Durante dias fiquei de cama, julgo que faltei à escola cerca de três semanas. Detesto estar de cama e, para passar o tempo, li o meu livro de inglês, pois esse era o primeiro ano que aprendia inglês. De vez em quando, um senhor de idade, nosso vizinho, vinha visitar-me. Ele costumava ensinar-me Matemática na escola primária porque eu não dava nada para a caixa em contas. Se a escola fosse apenas Língua Portuguesa e Meio Físico e Social, o meu mundo seria muito melhor. Só no oitavo ano é que eu aprendi a gostar de Matemática, mas não é que eu não gostasse, apenas era indiferente àquilo.
A minha mãe falava com as vizinhas acerca da minha doença e do que havia de me dar de comer. Uma delas, uma senhora já de muita idade, viúva, sempre vestida de preto, e que vivia sozinha mais acima na nossa rua, aconselhou a minha mãe a dar-me arroz branco acompanhado de frango temperado só com sal e preparado numa placa grelhadora em cima do fogão a gás. Essas refeições foram das mais consoladoras que alguma vez comi, o que é estranho porque são das coisas mais simples que há. Já no outro dia me tinha recordado delas, mas hoje vi que Portugal está a sofrer um surto de hepatite A e lembrei-me outra vez.
Depois de ficar boa, regressei à escola e tive imediatamente um teste a inglês, uma das coisas que saía no teste era como se perguntava e dava as horas. Tive 84% sem ter estudado para o teste; apenas tinha lido o livro para não morrer de tédio. Foi a segunda nota mais alta e a minha professora deu-nos, a mim e à minha amiga Cláudia, que teve a nota mais alta, uma borracha de cheiro em forma de guarda chuva, verde com um centro cor-de-rosa. Guardei a minha até sair de Portugal; depois os meus pais apoderaram-se do meu quarto e não sei onde foi parar a borrachinha.
A minha professora preferida era sem dúvida a de inglês, que era extremamente criativa: desenhava coisas em ponto grande em cartolina, pintava, recortava, e levava-as para a aula, afixando-as ao quadro com Fun-Tak (uma massa parecida com plasticina, que serve para aderir coisas à parede). Foi assim que aprendemos a identificar comida, roupa, etc., com ela a apontar para os seus desenhos no quadro e a dizer-nos o que as coisas se chamavam. Eu nunca tinha visto Fun-Tak em Portugal, mas decerto que ela a tinha comprado no estrangeiro, pois quando vim para os EUA, toda a gente usava aquilo na universidade para aderir posters e outras coisas à parede e decorar quartos e gabinetes. Em homenagem à minha professora de inglês, também comprei Fun-Tak e colei coisas na parede.
Não me recordo do nome da minha professora, o que acho estranho, mas ela gostava muito de mim e chegou a perguntar à minha mãe se eu tinha aulas de inglês fora da escola. Não tinha; o inglês aparecia naturalmente na minha cabeça, sem que eu fizesse grande esforço para isso. Para mim, o inglês sempre foi um grande refúgio. Muitos anos mais tarde, já depois de eu ter vindo para Houston, um amigo meu ao ouvir-me falar em inglês, disse que tinha sido um erro cósmico eu ter nascido em Portugal; eu pertencia aos EUA.
A minha mãe falava com as vizinhas acerca da minha doença e do que havia de me dar de comer. Uma delas, uma senhora já de muita idade, viúva, sempre vestida de preto, e que vivia sozinha mais acima na nossa rua, aconselhou a minha mãe a dar-me arroz branco acompanhado de frango temperado só com sal e preparado numa placa grelhadora em cima do fogão a gás. Essas refeições foram das mais consoladoras que alguma vez comi, o que é estranho porque são das coisas mais simples que há. Já no outro dia me tinha recordado delas, mas hoje vi que Portugal está a sofrer um surto de hepatite A e lembrei-me outra vez.
Depois de ficar boa, regressei à escola e tive imediatamente um teste a inglês, uma das coisas que saía no teste era como se perguntava e dava as horas. Tive 84% sem ter estudado para o teste; apenas tinha lido o livro para não morrer de tédio. Foi a segunda nota mais alta e a minha professora deu-nos, a mim e à minha amiga Cláudia, que teve a nota mais alta, uma borracha de cheiro em forma de guarda chuva, verde com um centro cor-de-rosa. Guardei a minha até sair de Portugal; depois os meus pais apoderaram-se do meu quarto e não sei onde foi parar a borrachinha.
A minha professora preferida era sem dúvida a de inglês, que era extremamente criativa: desenhava coisas em ponto grande em cartolina, pintava, recortava, e levava-as para a aula, afixando-as ao quadro com Fun-Tak (uma massa parecida com plasticina, que serve para aderir coisas à parede). Foi assim que aprendemos a identificar comida, roupa, etc., com ela a apontar para os seus desenhos no quadro e a dizer-nos o que as coisas se chamavam. Eu nunca tinha visto Fun-Tak em Portugal, mas decerto que ela a tinha comprado no estrangeiro, pois quando vim para os EUA, toda a gente usava aquilo na universidade para aderir posters e outras coisas à parede e decorar quartos e gabinetes. Em homenagem à minha professora de inglês, também comprei Fun-Tak e colei coisas na parede.
Não me recordo do nome da minha professora, o que acho estranho, mas ela gostava muito de mim e chegou a perguntar à minha mãe se eu tinha aulas de inglês fora da escola. Não tinha; o inglês aparecia naturalmente na minha cabeça, sem que eu fizesse grande esforço para isso. Para mim, o inglês sempre foi um grande refúgio. Muitos anos mais tarde, já depois de eu ter vindo para Houston, um amigo meu ao ouvir-me falar em inglês, disse que tinha sido um erro cósmico eu ter nascido em Portugal; eu pertencia aos EUA.
segunda-feira, 27 de março de 2017
Belas contas...
Quando o défice em percentagem do PIB melhora sensivelmente à mesma velocidade do ano passado, mas a dívida em percentagem do PIB, que desacelerava, passa a acelerar, conclui-se que cálculo diferencial não é o forte da dupla Centeno/Costa.
Extra kiss...
Na Sexta-feira, o "fechador" de negócios não fechou o negócio do "Trumpcare", mas hoje já temos mais um negócio alinhado: Jared Kushner vai liderar um novo gabinete que irá simplificar a burocracia do governo americano, usando princípios do mundo de negócios. (Se chamassem a isto Simplex, até seria engraçado, porque a simplificação burocrática deu um resultadão em Portugal. A partir daí, o país cresceu que nem uma erva daninha.)
Kushner é um homem de negócios muito experiente e sábio. Por exemplo, vendeu a sua parte na "Torre Kushner" quando o sogro ganhou as Presidenciais e o timing foi perfeito, pois o 666 Fifth Avenue está quase falido, com uma taxa de ocupação de 70% em Setembro passado, quando precisa de pelo menos 91%. A família Kushner, sem o Jared, está a ver se arranja $850 milhões de empréstimos através do programa EB-5 para refinanciar a dívida do edifício e endireitar a coisa.
O EB-5 é o programa de "vistos dourados" dos EUA, em que investindo $500.000 em imobiliário americano, um estrangeiro pode obter um visto de investidor. O Congresso está a considerar aumentar o investimento mínimo para $1,35 milhões. Aguardemos o contributo de Jared Kushner para a máquina estatal americana, pois daria bastante jeito para a economia e para os negócios Kushner, apesar de não se saber se o Jared está envolvido nas negociações do financiamento da Torre Kushner.
Hoje, também, e para demonstrar que é um homem de boa vontade, Jared Kushner irá voluntarimente submeter-se às questões do Senate Intelligence Committee acerca das alegadas ligações da Campanha de Donald Trump à Rússia.
E mais uma vez se confirma que o Prince é que tinha razão: "You don't need to watch Dynasty to have an attitude"; basta acompanhar a saga Trump.
Kushner é um homem de negócios muito experiente e sábio. Por exemplo, vendeu a sua parte na "Torre Kushner" quando o sogro ganhou as Presidenciais e o timing foi perfeito, pois o 666 Fifth Avenue está quase falido, com uma taxa de ocupação de 70% em Setembro passado, quando precisa de pelo menos 91%. A família Kushner, sem o Jared, está a ver se arranja $850 milhões de empréstimos através do programa EB-5 para refinanciar a dívida do edifício e endireitar a coisa.
O EB-5 é o programa de "vistos dourados" dos EUA, em que investindo $500.000 em imobiliário americano, um estrangeiro pode obter um visto de investidor. O Congresso está a considerar aumentar o investimento mínimo para $1,35 milhões. Aguardemos o contributo de Jared Kushner para a máquina estatal americana, pois daria bastante jeito para a economia e para os negócios Kushner, apesar de não se saber se o Jared está envolvido nas negociações do financiamento da Torre Kushner.
Hoje, também, e para demonstrar que é um homem de boa vontade, Jared Kushner irá voluntarimente submeter-se às questões do Senate Intelligence Committee acerca das alegadas ligações da Campanha de Donald Trump à Rússia.
E mais uma vez se confirma que o Prince é que tinha razão: "You don't need to watch Dynasty to have an attitude"; basta acompanhar a saga Trump.
Vem nos livros
A democracia per se pode ser
definida como uma combinação da soberania popular com a regra da maioria. Neste
sentido, basta que haja eleições livres e justas para que um regime
seja considerado democrático. A chamada democracia liberal vai além desta
definição. Exige também a criação de instituições que garantam a defesa de
direitos fundamentais como a liberdade de expressão e a protecção das minorias.
O grande desafio é conseguir um equilíbrio harmonioso entre o governo da
maioria e os direitos da minoria. Na prática, este equilíbrio é complicado ou
mesmo impossível de alcançar. Basta pensar nas leis antidiscriminação, que, amiúde,
vão contra o princípio da maioria. Os populistas exploram estas tensões e, às
vezes, diga-se de passagem, as elites políticas põem-se mesmo a jeito ao
ignorarem com desdém as inquietações de largas franjas da população. O
populismo, nas suas mil e uma variantes, pode ser compatível com a
democracia per se, mas é incompatível com a democracia liberal,
pois nada deve constranger a vontade do povo puro. Entidades independentes como
o sistema judicial e os meios de comunicação tornam-se alvos preferenciais a
abater. Como seria de esperar, Donald Trump assestou as suas baterias nessa
direcção. Afinal de contas, os inimigos do povo, internos e externos, não
param de conspirar a fim de sabotar o trabalho "fantástico" do governo. É, por
isso, necessário estar sempre alerta e denunciar os conspiradores ao mundo. Vai ser assim até
ao fim, com o nível de paranóia a aumentar, provavelmente, de dia para dia.
sábado, 25 de março de 2017
Putin: o 28.º Estado-Membro da UE
A tentação imperial de Putin não é nova. Porém, vem
encontrando no actual momento político-económico e social o mais favorável
“caldo” para se desenvolver. A História ensina-nos que o equilíbrio de poderes
do pós-Guerra Fria só na aparência foi resolvido a favor dos EUA, dado que o
gigante apenas adormeceu estrategicamente. Passada a fase da Comunidade de
Estados Independentes, reconfigurada a Federação Russa, eleito um
ex-operacional do KGB para o Kremlin, sabia-se que o espaço de influência
continuaria.
Confrontada com maus desenvolvimentos económicos,
limitando a sua capacidade de manutenção e renovação militar, o regime de
verdadeiro “czariato” de Putin fez alianças com a China e foi namoriscando os
EUA, que foram no logro de que o desequilíbrio económico seria suficiente para
manter a política externa moscovita dentro de aceitáveis margens de controlo.
Puro engano. Não apenas o Presidente russo, mas boa
parte da população, por entre os frangalhos de uma ex-URSS todo-poderosa e um
desejo de afirmação e expansão de império, co-natural àquele povo, depois de
ameaçarem a UE e a OTAN em virtude do despautério do alargamento a Leste,
anexaram a Crimeia. Um primeiro grande teste de resistência a que Putin quis
submeter a dita “comunidade internacional” e no qual passou com louvor e
distinção. O controlo sobre uma boa parte do gás que abastece a Europa central,
em especial a Alemanha, a ainda existente ameaça militar e uma personalidade
que contrasta com um apagamento das lideranças do Velho Continente, conduziram
a reacções pífias e inconsequentes.
E assim foi nascendo um novo “movimento dos não-alinhados”,
com Putin e Erdogan, a que se vai aliando, pontualmente, o pragmatismo da
política externa chinesa, mais apostada no poderio económico, bem visível no
montante dos créditos que detém quanto à dívida pública norte-americana. Com a
habitual subtileza da China, após a governação por tweets de Trump, bastou uma pequena lembrança deste facto para que
o inefável homem que marca a moda da altura das gravatas se virasse mais para
os bad hombres e para as
investigações do FBI que o podem chamuscar.
O dito “movimento dos não-alinhados” não tem uma
verdadeira massa unificadora que não seja a vontade de afrontar o Ocidente e o
que ele ainda representa. Entendamo-nos: por certo é de todo respeitável que a
Rússia deseje aumentar a sua influência no mundo a todos os níveis. Os outros
fazem o mesmo e não é por serem russos que uma política expansionista passa
necessariamente a ser má. Esta junção de pequenos e grandes ódios, de
interesses económicos estratégicos, de demonstração ao mundo globalizado que se
pode viver como uma espécie de “ilha”, levam a um reforço do dito “movimento
anti-globalização”. Putin deseja ficar para a História como o hábil político
que dilatou o império, de preferência sem disparar uma bala, bastando-se com as
malas diplomáticas. O eixo turco-russo está, assim, interessado em explorar uma
Europa em devaneios populistas, fragmentada pela crise dos migrantes, com
exigências de indicadores económicos quase sempre irreais e que perdeu uma
ponte com os EUA através do Brexit. E
isto mesmo que o Reino Unido fique a perder mais que o conjunto dos demais
países da UE, o que ficou claro com os atentados em Westminster.
Daí que a recepção a Marine Le Pen como se de uma
estadista se tratasse, bem como de outros líderes populistas e xenófobos, seja
uma evidente forma de legitimar o que está em contradição com o núcleo duro dos
valores europeus. Resta é saber se Le Pen não terá arriscado em demasia.
Sabemos que as mais recentes sondagens apontam para a sua vitória nas
presidenciais francesas, como não desconhecemos a operação de cosmética que ela
e o seu partido têm feito no sentido de adocicar o discurso. Donde, a colagem a
Putin e a legitimação através dele podem bem jogar contra os interesses
eleitorais de Marine. É certo que se escreveu já que o financiamento da sua
campanha está difícil e que existiria um empréstimo de um banco russo que
estaria a pressionar a respectiva liquidação. Ora, pode especular-se quanto à
mão estendida de Putin…
Mas não seria o custo político desse empréstimo
demasiado elevado? Gostaria bem que sim, pois o respirar de alívio com a
Holanda é sol de pouca dura. Mais eleições se avizinham por essa Europa fora e
comprovado está que Putin vai sempre ser um player
importante. Arrisco-me a dizer que a Federação Russa quase pretende substituir
o papel de enfant terrible do Reino
Unido. Continuaríamos, então, a ser 28 Estados. Apesar de este, descontado o
equívoco geográfico, porventura não cumprir com a Carta dos Direitos
Fundamentais da União. Mas, all in all,
poderá a UE, no actual momento, dar-se ao “luxo” de ser uma comunidade de
valores?
sexta-feira, 24 de março de 2017
Mais um défice
O Papa aprovou
a canonização dos pastorinhos videntes Francisco e Jacinta Marto. E vem aí mais uma santa portuguesa: o processo de canonização da irmã Lúcia também parece estar bem
encaminhado. De qualquer maneira, em nove séculos de história, Portugal
produziu, salvo erro, 10 santos. O que dá mais ou menos um por século. Estamos
seguramente abaixo da média comunitária. Enfim, mais um défice que nos persegue
há séculos. Donde vem este défice de santidade? Não sei se Deus nos abandonou e
deixou ao deus dará. Não sei se os copos e as mulheres são a nossa perdição, como aventou esta semana um socialista holandês. O
facto é que não é fácil ser santo neste país.
quinta-feira, 23 de março de 2017
Os idiotas da objectividade
Quando há ataques terroristas, costuma aparecer alguém
a lembrar que morrem muito mais pessoas em acidentes de viação. São “os
idiotas da objetividade”, como lhes chamava o Nelson Rodrigues. Imaginem que é dito aos residentes de uma cidade que há dois bombistas prontos a atacar. E é dito aos
de outra cidade que há apenas um bombista. O seu risco é inferior em metade, mas acham que alguém se vai sentir mais seguro por cauda disso?
quarta-feira, 22 de março de 2017
Perspetiva
Há quem lhe chame fleuma britânica, mas eu chamo-lhe perspetiva. Quando cheguei a casa, e enquanto metia o frango e os noodles no wok, a BBC1 passava um documentário sobre a resistência dos aviões modernos aos embates com pássaros, e o channel 5 estava a dar um programa sobre polícias em bairros manhosos. O channel 4 era o único, dos generalistas, a falar do ataque de umas horas antes.
Em 2015, houve 118 assassinatos em Londres, e mais de 10 mil violações. Tenho a certeza que, se for ao Google, encontro atentados em África esta semana que mataram mais pessoas. Quero com isto dizer que o incidente de hoje é uma coisa sem importância? Não, é claro que não quero dizer nada disso. Isto mexe comigo, a nível pessoal e emocional. Vivo nesta cidade, apanho transportes públicos, ando nos mesmos sítios - a foto ali em cima é na ponte de Westminster, num dia de primavera, há uns anos. Mas é preciso ver as coisas em perspetiva, sempre. O terror - como o interpretamos e como reagimos a ele - também é, em grande medida, um problema de perspetiva.
A solução para tudo
Era um Dijsselbloem job, não era?
Esopo
Esopo foi um fabuloso fabulista grego, que disse coisas como:
Ah, e viram que Esopo era grego? Nada mau, vindo de um grego...
- Um pedaço de pão comido em paz é melhor do que um banquete comido com ansiedade.
- Exibição exterior é um pobre substituto para o valor interior.
- Até mesmo os poderosos podem precisar dos fracos.
- A gratidão é a virtude das almas nobres.
- Quem trama desventuras para os outros estende armadilhas a si mesmo.
- Nunca confies no conselho de um homem em apuros.
- De nada vale possuir uma coisa sem desfrutá-la.
- Não se podem censurar os jovens preguiçosos, quando a responsável por eles serem assim é a educação dos seus pais.
- O hábito torna suportáveis até as coisas assustadoras.
- Depois de tudo o que é dito e feito, mais é dito do que feito.
Ah, e viram que Esopo era grego? Nada mau, vindo de um grego...
Jeroen Dijsselbloem, o frustrado
"Na crise do euro, os países do norte da UE mostraram-se solidários com os países em crise. Enquanto social-democrata, considero a solidariedade extremamente importante. Mas quem a exige, também tem deveres. Não posso gastar todo o meu dinheiro em aguardente e mulheres e a seguir ir pedir-lhe apoio".
Jeroen Dijsselbloem, traduzido por Helena Ferro de Gouveia, publicado no mural do LA-C
Não percebo por que razão os portugueses enfiaram a carapuça de gastarem o dinheiro em mulheres e aguardente. É que o Jeroen apenas disse que era um moço que precisava de pedir apoio, mas tinha vergonha de o pedir se antes tivesse gastado dinheiro em mulheres e aguardente. É óbvio que não se referia aos portugueses; se se referisse, não mencionaria aguardente, mas sim vinho.
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UE
Tu também, Bruto?
O Benfica queixa-se da justiça desportiva. A Federação Portuguesa de Futebol abre-lhe um processo disciplinar. Por ingratidão, presume-se.
terça-feira, 21 de março de 2017
Kiss me, I'm Irish!
Para celebrar o St. Patrick's Day, fizemos um jantar em minha casa, no Domingo. Aproveitei a ocasião para usar os meus pratos feitos em Portugal: pensei que os pratos da Olfaire, verdes a imitar folhas de couve, fossem adequados e gostei bastante de os ver sobre os pratos de jantar da Mikasa, colecção Firenze (são os que têm os floreado pintado à mão a azul). A colecção Firenze foi feita pela SPAL e é o serviço de jantar que recebi quando me casei.
A toalha de mesa foi comprada na minha última visita a Portugal, em Guimarães, na Chafarica, e foi uma enorme sorte encontrá-la, pois mesas quadradas do tamanho da minha são um bocado invulgares e nunca encontro muitas opções em toalhas de jantar. Tenho uma ou duas da April Cornell, redondas, mas não gosto muito da forma como as costuras da barra ficam nos cantos da mesa e as cores não davam com o motivo do nosso jantar. A toalha da Chafarica, que tem tons neutros, foi o fundo ideal para a louça.
A toalha de mesa foi comprada na minha última visita a Portugal, em Guimarães, na Chafarica, e foi uma enorme sorte encontrá-la, pois mesas quadradas do tamanho da minha são um bocado invulgares e nunca encontro muitas opções em toalhas de jantar. Tenho uma ou duas da April Cornell, redondas, mas não gosto muito da forma como as costuras da barra ficam nos cantos da mesa e as cores não davam com o motivo do nosso jantar. A toalha da Chafarica, que tem tons neutros, foi o fundo ideal para a louça.
Intersecção: procrastinando
Adio,delongo, difiro, posponho, prorrogo,
protelo, protraio, retardo, postergo, demoro, atraso.
Símbolos filosóficos
segunda-feira, 20 de março de 2017
O Executivo que não executa
Nos EUA, há uma clara distinção entre o poder legislativo (Parlamento) e o poder executivo (Presidente) e são eleitos separadamente (cf. com o caso português em que o poder executivo é formado como resultado das eleições para o Parlamento). Durante a Presidência de George W. Bush e devido à ameaça de terrorismo, o Congresso americano concedeu mais poderes ao Presidente através do Patriot's Act, relativamente a questões de segurança. O Presidente pode agora enviar tropas para conflitos internacionais sem pedir autorização ao poder legislativo. Obama conseguiu, assim, aumentar o uso de ataques através do uso de drones, "assassinar" terroristas-alvo como Osama Bin Laden ou Anwar al-Awlaki (este último um cidadão americano), etc.
Foram estes poderes que permitiram a Trump emitir a ordem executiva que ficou conhecida como o "Muslim Ban", sem informar o Congresso, suscitando mais uma vez a questão de o Presidente ter demasiados poderes e não respeitar o poder legislativo, nem o judicial. Trump não tem problemas em exigir que os outros dois poderes sirvam o executivo: quando Trump acusou Obama de ter colocado escutas na Trump Tower, a acusação foi seguida por um pedido da Casa Branca para que o Congresso investigasse as escutas, o que levou Michael Hayden, antigo director da CIA, a afirmar que Trump se esqueceu que era Presidente, pois como Presidente tinha à sua disposição poderes que lhe permitiam saber o que Obama tinha mandado investigar.
Hoje, James Comey, director do FBI, negou que a Trump Tower tivesse sido alvo de escutas, mas Trump já emitiu tweets a dizer que a grande história que o Congresso e o FBI deviam estar a investigar é a fuga de informação confidencial, como as revelações dos encontros entre representantes de Trump com oficiais russos: a fuga é que é o crime, os encontros em si são "fake news", apesar de terem ocorrido.
A máquina diplomática americana está fragmentada, talvez prestes a ser desmantelada. O orçamento do Secretary of State, Rex Tillerson, vai sofrer um corte de 29%; quando Tillerson vai em visitas de estado não vai acompanhado pelos sub-secretários pois ainda não foram nomeados, nem se sabe se serão. Na visita ao Japão, Tillerson não visitou a embaixada americana em Tóquio, o que afecta a moral dos diplomatas americanos.
Tillerson também não foi acompanhado por uma entourage normal dos media americanos; em vez disso, levou apenas apenas uma jornalista, Erin McPike, do Independent Journal Review, uma website conservadora, que se especializa em notícias de cariz "viral" fundada em 2012. Teme-se que enquadramento da visita aos países asiáticos seja dado por órgãos de comunicação social estrangeiros -- o ponto de vista americano fica omitido das notícias, o que pode não ser do interesse dos EUA, especialmente em visitas a países como a China.
Também na área da Justiça, nota-se que há muita pressa em desfazer: o Attorney General Jeff Sessions, há semana e meia, convidou 46 District Attorneys que foram nomeados por Obama a demitir-se (tanto Bush como Obama optaram por uma estratégia de transição, em que os DAs se demitem lentamente; Clinton seguiu uma estratégia semelhante à de Trump), não se sabendo quando haverá nomeação de substitutos.
Trump, que muitas pessoas viam como uma pessoa dinâmica porque vinha do mundo de negócios, está a efectuar uma transição de governo extremamente lenta, que parcialmente é explicada pelo próprio, que admite que não compreende o que estas pessoas fazem, logo não as quer nomear se não sabe o que fazem; no entanto, o que o Presidente "não sabe" está a ganhar importância.
No programa de rádio "Think", Kris Boyd perguntou a P.J. O'Rourke, jornalista e autor de "How the Hell Did This Happen? The Election of 2016" se os candidatos a Presidente não deviam passar um exame de conhecimento básico de educação cívica e do funcionamento da Democracia americana. O'Rourke responde que seria desejável, pois a seu ver Trump nem sequer sabe o processo de criação de uma lei. O'Rourke equiparou a eleição de Trump a contratar para capitão de um navio uma pessoa que não saiba a diferença entre estibordo e bombordo.
Cada vez mais se nota que os EUA estão a navegar ao sabor do vento, sem instrumentos. Se os ventos forem amenos, tudo correrá bem; mas não há ventos amenos que durem para sempre.
Foram estes poderes que permitiram a Trump emitir a ordem executiva que ficou conhecida como o "Muslim Ban", sem informar o Congresso, suscitando mais uma vez a questão de o Presidente ter demasiados poderes e não respeitar o poder legislativo, nem o judicial. Trump não tem problemas em exigir que os outros dois poderes sirvam o executivo: quando Trump acusou Obama de ter colocado escutas na Trump Tower, a acusação foi seguida por um pedido da Casa Branca para que o Congresso investigasse as escutas, o que levou Michael Hayden, antigo director da CIA, a afirmar que Trump se esqueceu que era Presidente, pois como Presidente tinha à sua disposição poderes que lhe permitiam saber o que Obama tinha mandado investigar.
Hoje, James Comey, director do FBI, negou que a Trump Tower tivesse sido alvo de escutas, mas Trump já emitiu tweets a dizer que a grande história que o Congresso e o FBI deviam estar a investigar é a fuga de informação confidencial, como as revelações dos encontros entre representantes de Trump com oficiais russos: a fuga é que é o crime, os encontros em si são "fake news", apesar de terem ocorrido.
A máquina diplomática americana está fragmentada, talvez prestes a ser desmantelada. O orçamento do Secretary of State, Rex Tillerson, vai sofrer um corte de 29%; quando Tillerson vai em visitas de estado não vai acompanhado pelos sub-secretários pois ainda não foram nomeados, nem se sabe se serão. Na visita ao Japão, Tillerson não visitou a embaixada americana em Tóquio, o que afecta a moral dos diplomatas americanos.
Tillerson também não foi acompanhado por uma entourage normal dos media americanos; em vez disso, levou apenas apenas uma jornalista, Erin McPike, do Independent Journal Review, uma website conservadora, que se especializa em notícias de cariz "viral" fundada em 2012. Teme-se que enquadramento da visita aos países asiáticos seja dado por órgãos de comunicação social estrangeiros -- o ponto de vista americano fica omitido das notícias, o que pode não ser do interesse dos EUA, especialmente em visitas a países como a China.
Também na área da Justiça, nota-se que há muita pressa em desfazer: o Attorney General Jeff Sessions, há semana e meia, convidou 46 District Attorneys que foram nomeados por Obama a demitir-se (tanto Bush como Obama optaram por uma estratégia de transição, em que os DAs se demitem lentamente; Clinton seguiu uma estratégia semelhante à de Trump), não se sabendo quando haverá nomeação de substitutos.
Trump, que muitas pessoas viam como uma pessoa dinâmica porque vinha do mundo de negócios, está a efectuar uma transição de governo extremamente lenta, que parcialmente é explicada pelo próprio, que admite que não compreende o que estas pessoas fazem, logo não as quer nomear se não sabe o que fazem; no entanto, o que o Presidente "não sabe" está a ganhar importância.
No programa de rádio "Think", Kris Boyd perguntou a P.J. O'Rourke, jornalista e autor de "How the Hell Did This Happen? The Election of 2016" se os candidatos a Presidente não deviam passar um exame de conhecimento básico de educação cívica e do funcionamento da Democracia americana. O'Rourke responde que seria desejável, pois a seu ver Trump nem sequer sabe o processo de criação de uma lei. O'Rourke equiparou a eleição de Trump a contratar para capitão de um navio uma pessoa que não saiba a diferença entre estibordo e bombordo.
Cada vez mais se nota que os EUA estão a navegar ao sabor do vento, sem instrumentos. Se os ventos forem amenos, tudo correrá bem; mas não há ventos amenos que durem para sempre.
A aversão à perda e não só
Para o comum dos mortais, racionalidade é quase equivalente
a sensatez. Uma pessoa racional é ponderada, é possível discutir com
ela, as suas preferências são coerentes com os seus interesses e valores. Para
os economistas, racionalidade não é bem isto. A racionalidade é uma coerência
lógica, sensata ou não. Nesta visão, desde que seja consistente com todas as
suas outras crenças, um indivíduo é racional mesmo que acredite no Pai Natal,
em fantasmas ou no super-homem.
Daniel Kahneman, junto com Amos Tversky, lançaram nos anos
70 as bases da economia comportamental. Entretanto, milhentos estudos mostraram
que os humanos do mundo real não se comportam muitas vezes como os "econs" que
habitam no planeta da teoria. Tal não significa que os humanos sejam
irracionais, dominados sobretudo pela impulsividade, a emocionalidade e
impermeáveis a argumentos sensatos. Nada disso. Significa que os humanos não
conseguem, frequentemente, alcançar a consistência, a coerência lógica que está
subjacente à racionalidade dos modelos económicos. Os humanos (incluindo os
especialistas) deixam-se muitas vezes enganar ou iludir por impulsos e intuições
- apesar de estas serem bastante úteis e certeiras em milhentas decisões
rotineiras. Aliás, nos meus últimos posts foram mencionados alguns desses
enviesamentos – o efeito de enquadramento é apenas um exemplo.
Kahneman e os economistas comportamentais afastam-se da fé
na racionalidade humana da maioria dos economistas, em particular dos da Escola
de Chicago e do seu chefe de fila, Milton Friedman. Friedman no seu Free to choose
(Liberdade para escolher, na edição portuguesa) chega a considerar imoral
proteger as pessoas contra as suas escolhas. Cada um sabe melhor do que ninguém
o que é melhor para si. Ao contrário, os comportamentalistas acham que as
pessoas cometem erros. Os humanos não são irracionais, mas precisam amiúde de
ajuda para fazerem juízos mais exactos e tomarem melhores decisões. As
instituições e a política podem desempenhar esse papel auxiliar. Numa palavra,
a liberdade de escolha tem um preço. A questão é como é que as instituições
podem proteger as pessoas sem, ao mesmo tempo, colocarem a liberdade em causa.
domingo, 19 de março de 2017
Enquadramento
A taxa de sobrevivência (de uma cirurgia) após um mês é de 90%.
Há uma mortalidade de 10% no primeiro mês.
As duas expressões têm o mesmo significado? Depende do que
entendermos por significado. Em termos de raciocínio lógico, as duas descrições
do resultado da cirurgia designam o mesmo estado do mundo. Se uma destas
proposições for verdadeira, então a outra também o é, como concluiria qualquer
ser racional, agarrado apenas à realidade. Mas há aqui outra acepção de
significado. A sobrevivência é boa, a mortalidade é má; 90% de sobrevivência é
encorajador, 10% de mortalidade é assustador. Grande parte das pessoas não é
indiferente às emoções evocadas pelas palavras e as suas preferências são mais
determinadas pela forma como a informação é enquadrada do que pela realidade. Os
psicólogos chamam-lhe efeito de enquadramento, um efeito que, por exemplo, os
políticos, jornalistas e vendedores conhecem muito bem.
PS: Exemplo retirado de “Pensar, depressa e devagar de Daniel Kahneman.
sexta-feira, 17 de março de 2017
Más notícias
Por
uma questão de sobrevivência, nós (e o resto dos animais) privilegiamos as
ameaças em relação às oportunidades. O negativo suplanta o positivo. A
sensibilidade à ameaça funciona também no campo simbólico. Palavras carregadas
emocionalmente e palavras “más" (guerra, corrupção, crime, crise, sangue, violação) atraem a atenção
mais depressa do que as palavras felizes (paz, generosidade, altruísmo, amor). Por isso,
as más notícias vendem mais do que as boas, como sabe qualquer jornalista
experimentado.
Hygge
Lê-se "hoo-ga": aspira-se o h, como no inglês, parece-me. Ando a investigar as teorias da felicidade dos dinamarqueses e aprendi que os fulanos gostam muito de coisas acolhedoras, fazem muitas actividades com os amigos, perguntam-lhes se querem ir lá para casa para um evento "aconchegante" ou se querem ir "aconchegar". É natural que "aconchego" não seja a tradução literal de hygge porque os dinamarqueses são muito monopolistas da coisa. O Meik, que escreveu o livro que estou a ler, diz que os dinamarqueses são os únicos que usam hygge como verbo, mas acho que nós portugueses também falamos em aconchegar, mas não somos obcecados, nem convidamos a aconchegar.
quarta-feira, 15 de março de 2017
É aqui que me inscrevo?
Hoje gostaria de me inscrever para ser especialista na Holanda. Em primeiro lugar, não se chama Holanda, chama-se Países Baixos, pois Holanda refere-se a apenas duas das províncias do país: Noord-Holland e Zuid-Holland.
O papel indeterminado dos especialistas
Há uma grande expectativa sobre as eleições holandesas de
hoje. Geert Wilders do partido para a liberdade (PVV) tem aparecido à frente de
várias sondagens, apesar de as suas possibilidades de formar governo serem quase
nulas - todos os outros partidos recusam coligar-se com ele. Como é sabido,
Wilders centrou grande parte do seu discurso contra o islão e os perigos da
islamização da sociedade holandesa. Alguns especialistas têm vindo à praça
pública a tentar demonstrar os exageros e as distorções no discurso do candidato
da extrema-direita. A Holanda tem 17 milhões de pessoas e estima-se que 11,5%
tenham nascido no estrangeiro. Segundo algumas fontes oficiais, em 2015, dos 56
400 estrangeiros que foram viver para a Holanda, 20 800 vieram da Síria –
sendo que a maioria veio da Polónia, 22 200. De qualquer maneira, estes
números não chegam para tranquilizar muitos holandeses, incluindo alguns imigrantes,
como o escritor José Rentes de Carvalho, que declarou o seu apoio a Wilders.
Mais: este discurso acabou por contaminar os outros partidos, como o do actual
primeiro-ministro Mark Rutte. Em suma, o sucesso de Wilders não se resume à
votação do seu partido. O homem, bem ou mal, conseguiu marcar a agenda política.
Serve-me esta introdução para uma breve digressão sobre o
papel dos especialistas. Podem ou não ajudar-nos a centrar o discurso político
nos problemas e perigos realmente importantes para a sociedade? Na verdade, continuamos
longe de um consenso sobre esta questão.
Fortuna
Sucesso = talento + sorte
Grande sucesso = um pouco mais de talento + uma grande
quantidade de sorte
Daniel Kahneman (um psicólogo, prémio nobel da economia em 2002) chegou a estas
fórmulas depois de uma carrada de estudos. A maioria das pessoas resiste a
aceitar esta formulação, sobretudo as que tiveram mais sucesso. E, no entanto,
houve um tempo em que era evidente para os homens o papel determinante da
sorte, chamavam-lhe então fortuna, uma deusa romana que distribuía de um modo
caprichoso e injusto as vantagens meramente acidentais do mundo.
terça-feira, 14 de março de 2017
Casados com o Trump
'Taxpayers in counties that backed Trump would see an annual windfall of about $6.6 billion, a Bloomberg analysis of Internal Revenue Service data shows. In counties that backed Clinton, it’d be about $21.9 billion.
[...]
Trump voters in Rust Belt states expressed some frustration about the potential cuts for the wealthy, even as they remain supportive of the president.
“It pisses me off, but my wife pisses me off, too, and we’re still married,” said Dan Peuschold, 62, as he shared a $13 pitcher of beer with friends Saturday afternoon at the Hiawatha Bar & Grill in the Wisconsin village of Sturtevant.'
Fonte: Bloomberg
Talvez o ser pobre e o escolher políticos que os prejudicam não sejam frutos do acaso...
Qual deles é o mais idiota?
Os atentados à liberdade de expressão prosseguem por esse ocidente fora. A moda de boicotar certas vozes reacionárias começou nas
universidades americanas, alastrou ao Reino Unido e, como seria de esperar, chegou a Portugal. O facto de isto se passar em universidades, tradicionais
bastiões do livre pensamento e da liberdade de expressão, diz muito sobre o que se
está a passar. Hoje, por exemplo,
nalgumas universidades americanas não se pode utilizar termos como “violação”
ou “sangue” em disciplinas de direito criminal porque isso, supostamente, provoca “stress pós-traumático” a alguns estudantes mais sensíveis. Escusado
será dizer que esta idiotia acabará por se instalar também por cá. É uma questão de tempo.
Vejamos um exemplo recente. O presidente do Parlamento
Europeu, Antonio Tajani, decidiu “punir
exemplarmente” um tal de Janusz Korwin-Mikke, eurodeputado desde 2014, que há
dias disse que as mulheres “devem
ganhar menos” do que os homens porque são “mais fracas, mais pequenas e menos
inteligentes”. Neste caso, a melhor reacção seria das três, uma: ou ignorar
este idiota polaco, como fazemos quando ouvimos um maluquinho ou um bêbado a
dizer enormidades; ou, para quem tiver mais paciência, demonstrar que o homem está errado; ou, pura e simplesmente, responder curto e
grosso. É assim que agem as pessoas adultas e é assim que deveríamos ensinar os
mais novos a defenderem-se. Mas não. Em vez disso, os novos paladinos da
tolerância preferem combater o machismo, racismo, xenofobia, negacionismo,
homofobia - e mais não sei quantas pragas - tentando silenciar ou punir
severamente os “reaccionários”. Definitivamente, não percebem, ou não querem
perceber, que os preconceitos não se combatem com menos palavras e argumentos,
mas sim com mais. Em nome dos mais altos princípios e valores, cerceiam a
liberdade de expressão. Tarde ou cedo, quando menos esperarem, vira-se o
feitiço contra o feiticeiro e serão eles próprios acusados e punidos por ofender alguém e
o que não faltam são pretextos para alguém se considerar ofendido. Na verdade,
nem sei quem é o mais idiota nesta história: se o machista polaco, se o presidente
do parlamento europeu que deu mais uns minutos de fama ao primeiro.Hey, Stella
Não, não vos vou falar da Stellinha, a minha pug que, alguns meses depois de eu a recolher do abrigo, em estado meio-catatónico, decidiu morder um dedo de uma senhora do abrigo porque pensava que era um biscoito, durante um evento de confraternização de pugs. Ouviu-se um grande "Ouch!" e eu fiquei tão, mas tão orgulhosa da Stellinha porque, quando a recolhi, disseram-me que ela ficaria catatónica para sempre. Se houver maneira de recuperar um cão, eu descubro...
Então, a Nova Inglaterra, Nova Iorque, Nova Jérsia, e Delaware, numa zona que afecta cerca de 18 milhões de pessoas, está em estado de alerta por causa de uma tempestade, que foi baptizada de Stella pelo The Weather Channel porque lhes apeteceu. Stella é um nome excelente porque muitas pessoas quando o ouvem recordam-se de "A Streetcar Named Desire" e de Marlon Brando em estado de desespero a chamar a Stella: "Hey, Stella..."
Então, a Nova Inglaterra, Nova Iorque, Nova Jérsia, e Delaware, numa zona que afecta cerca de 18 milhões de pessoas, está em estado de alerta por causa de uma tempestade, que foi baptizada de Stella pelo The Weather Channel porque lhes apeteceu. Stella é um nome excelente porque muitas pessoas quando o ouvem recordam-se de "A Streetcar Named Desire" e de Marlon Brando em estado de desespero a chamar a Stella: "Hey, Stella..."
segunda-feira, 13 de março de 2017
Um desabafo
A acreditar nas sondagens, grande parte do país está rendido aos feitos históricos da geringonça – é curiosa a forma como se invocam por dá cá aquela palha as palavras “história” e “histórico” nos dias que correm, mas adiante. Pelos vistos, os mercados e a própria União Europeia resistem e, vá-se lá saber porquê, até parecem duvidar da narrativa de sucesso que o governo lhes apresenta. Infelizmente, neste caso, a geringonça não pode demitir ou ameaçar de demissão esta gente tão céptica. Resta ao ministro das finanças fazer desabafos na imprensa internacional e queixar-se da injustiça de que estamos a ser alvo, nomeadamente ao sermos vergastados com taxas de juro cada vez mais difíceis de suportar e, ainda por cima, muito maiores do que as dos nossos parceiros.
Uma verdade antiga
Uma mentira repetida muitas vezes transforma-se
numa verdade, diziam os nazis. Na verdade, há muito que os regimes autoritários
e os vendedores conhecem este facto. Mas, como explica Daniel Kahneman no seu “Pensar,
depressa e devagar”, foram os psicólogos que descobriram que não é sequer necessário repetir a afirmação inteira acerca de um facto ou ideia para fazer com que
pareça verdadeiro. As pessoas confundem facilmente familiaridade com verdade. E
a repetição cria familiaridade. A pós-verdade e os “factos alternativos” não
nasceram ontem como alguns parecem acreditar; nasceram com os
aldrabões e manipuladores profissionais e, portanto, já têm uma história longa.
O impensável acontece
A história e vários estudos mostram que as acções de protecção,
dos indivíduos e dos Estados, são sempre pensadas para o pior desastre até
então experimentado. Contudo, com o tempo as recordações do desastre
desvanecem-se e os indivíduos e as sociedades tendem a baixar a guarda. Mais:
se as águas do rio sobem e provocam inundações, é a linha de água da última
inundação que os indivíduos têm em mente. Regra geral, não lhes passa pela
cabeça que o próximo desastre possa ser ainda pior. E, no entanto, com uma regularidade
surpreendente, as inundações conseguem subir mais do que a marca existente. O
impensável acontece.
domingo, 12 de março de 2017
Estamos tramados!
No Instagram, a Pottery Barn tem um post de publicidade com um guarda-fatos minimalista. Eu sou fã da Jill Sander, mas a Pottery Barn é conhecida por um estilo mais caseirinho, com muitas cestas de arrumação, decoração sazonal, mobília de madeira, vime, etc., deixando o minimalismo para a West Elm, a marca irmã. Se a Pottery Barn não está a conseguir encher as casas de tralha, como é normal, e tem de "rejuvenescer" a marca, então é sinal de que estamos tramados...
Imparidades argumentativas
Segundo o ECO, as perdas da CGD devem-se a imparidades, sendo que a maior parte das perdas cabe a 2016, pois foi nesse ano que as perdas foram assumidas. Neste momento não se sabe se os resultados negativos da CGD serão contabilizados no défice ou não; mas diz-nos o nosso ilustre Primeiro Ministro que os critérios "são relativamente móveis", logo pode ser que não conte para o défice, como ele assegurava no ano passado, ou pode ser que conte, como se especula agora.
Nem há um mês, andava tudo a deitar foguetes com os resultados excelentes do défice de 2016 e agora estão a dizer que, se calhar, o resultado vai ser revisto para pior. Como é que o Primeiro Ministro e o Ministro das Finanças não sabiam disto antes, quando andavam a celebrar o défice e a defender a solidez das contas? Não vejo como podiam não saber e, nesse caso, tenho de concluir que decidiram ignorar o problema da CGD e tratar os cidadãos como idiotas fazendo passar resultados temporários por permanentes.
Ou, dizeis-me vós, ambos são pessoas sérias e não tinham conhecimento das imparidades da CGD, logo não enganaram os cidadãos intencionalmente. Bem, se não sabiam, então são pessoas muito incompetentes, logo como é que isso é um cenário melhor?
Nem há um mês, andava tudo a deitar foguetes com os resultados excelentes do défice de 2016 e agora estão a dizer que, se calhar, o resultado vai ser revisto para pior. Como é que o Primeiro Ministro e o Ministro das Finanças não sabiam disto antes, quando andavam a celebrar o défice e a defender a solidez das contas? Não vejo como podiam não saber e, nesse caso, tenho de concluir que decidiram ignorar o problema da CGD e tratar os cidadãos como idiotas fazendo passar resultados temporários por permanentes.
Ou, dizeis-me vós, ambos são pessoas sérias e não tinham conhecimento das imparidades da CGD, logo não enganaram os cidadãos intencionalmente. Bem, se não sabiam, então são pessoas muito incompetentes, logo como é que isso é um cenário melhor?
sexta-feira, 10 de março de 2017
Nariz empinado
Se me encontrarem na rua, enquanto passeio com o Choppinho, é natural que me apanhem de nariz empinado. Ando sempre a olhar para cima, para as frondes das árvores, a admirar a sua natureza escultural. Mesmo à noite, não consigo deixar de não sentir uma enorme fascinação ao ver a clareza do céu nublado, que reflecte as luzes da cidade. Noites e dias são passados assim, especialmente na Primavera.
Precisamos de umas gajas!
A CGD, na Sexta-feita, irá anunciar que perdeu, em 2016, a módica quantia de €1.900 milhões de euros. Coisa pouca, só cabe €185 a cada uma das almas que reside em Portugal. Se o deputado do PAN conseguir que o Parlamento dê estatuto de cidadão a cães, gatos, e lagartos, este rácio resolve-se facilmente. Enquanto isso não acontece, precisamos de umas gajas.
Porquê gajas? Porque, obviamente, os gajos portugueses que trabalham na banca são incompetentes e, na Tailândia, finanças é com gajas e elas têm CVs impressionantes! Já em Portugal, os gajos caracterizam-se pelas suas línguas porcas -- mas não é dos piropos; é de lamber botas.
Porquê gajas? Porque, obviamente, os gajos portugueses que trabalham na banca são incompetentes e, na Tailândia, finanças é com gajas e elas têm CVs impressionantes! Já em Portugal, os gajos caracterizam-se pelas suas línguas porcas -- mas não é dos piropos; é de lamber botas.
quinta-feira, 9 de março de 2017
Incontinência
No caso das off-shores, primeiro, o dinheiro tinha sido transferido entre 2010 e 2014. Depois foi um erro informático devido a um software qualquer que já não era usado, mas era esse o intervalo temporal. Ontem, dizia o DN que, afinal, as transacções problemáticas deram-se em 2015 e 2016. É natural que haja mais versões que me escaparam, mas, daqui a dois dias, sabe Deus que nova versão nos será servida.
Fico com a impressão de que há uma certa "incontinência" de quem governa o burgo. Em vez de alguém responsável descobrir o que se passou e ter uma versão final da coisa para prestar contas ao público e nós sentirmos que o governo do país é uma coisa que é levada a sério e a verdade importa, quanto mais não seja para não se cometerem os mesmos erros no futuro, andam aos pinguinhos a mandar notícias cá para fora. Quem nos garante que quando o governo diz alguma coisa, esta não será mudada daí a dois dias?
Pergunto-me se este relaxamento também se reflecte nas necessidades fisiológicas dos governantes: usam fralda porque são incontinentes, não é?
Fico com a impressão de que há uma certa "incontinência" de quem governa o burgo. Em vez de alguém responsável descobrir o que se passou e ter uma versão final da coisa para prestar contas ao público e nós sentirmos que o governo do país é uma coisa que é levada a sério e a verdade importa, quanto mais não seja para não se cometerem os mesmos erros no futuro, andam aos pinguinhos a mandar notícias cá para fora. Quem nos garante que quando o governo diz alguma coisa, esta não será mudada daí a dois dias?
Pergunto-me se este relaxamento também se reflecte nas necessidades fisiológicas dos governantes: usam fralda porque são incontinentes, não é?
You Got It Wrong!
Ontem, o meu colega Stephan fez anos. Uma pessoa olha para ele, volta a olhar, demora-se a olhar e percebe que aquele homem tenha nascido no Dia Internacional da Mulher. Para celebrar, combinámos uma ida a um bar/discoteca. Quando lá chegámos, aos homens estavam a pedir consumo mínimo, mas as mulheres eram dispensadas de pagamento. Somámos o total das entradas e dividimos por todos excluindo o aniversariante. É que o 8 de Março é isto.
Salários mais altos
A Bloomberg publicou um ranking de salários nos EUA, de acordo com dados recolhidos pela Glassdoor. Os dados são oferecidos pelos próprios, logo não são perfeitos porque há enviesamento de selecção e outros problemas. A profissão mais bem paga é a dos médicos, com salários medianos anuais que atingem quase $188.000, havendo na lista seis profissões da área de saúde.
Mas não pensem que é tudo a abrir, com salários assim. Se seguiram as notícias acerca do homem que desatou aos tiros aqui onde eu moro, em Setembro do ano passado, uma das pessoas atingidas foi um anestesiologista, cujas contas do hospital foram pagas com a ajuda de um peditório.
Adenda: Para os mais curiosos, a Glassdoor disponibiliza mais detalhes dos seus dados aqui.
Mas não pensem que é tudo a abrir, com salários assim. Se seguiram as notícias acerca do homem que desatou aos tiros aqui onde eu moro, em Setembro do ano passado, uma das pessoas atingidas foi um anestesiologista, cujas contas do hospital foram pagas com a ajuda de um peditório.
Adenda: Para os mais curiosos, a Glassdoor disponibiliza mais detalhes dos seus dados aqui.
quarta-feira, 8 de março de 2017
Alteração ao Código Civil
Fiquei hoje a saber que o Código Civil português contém um artigo, o 1605.º, sobre o "prazo internupcial", o qual contempla que, após um divórcio, tem de haver um período de espera antes do cidadão divorciado poder contrair novo matrimónio: os homens esperam 180 dias, as mulheres esperam 300, ou 10 meses, um prazo mais longo do que o do homem, não vá uma mulher estar grávida de outro homem, que não o noivo, e o noivo acabar por assumir um filho que desconhece não ser seu.
Se o espanto matasse, vocês estariam neste momento a planear ir ao meu enterro -- ou a rezar um terçozinho para eu ir mais depressa para o inferno. Eu até leio o Código Civil de vez em quando, mas nunca me tinha apercebido desta maravilha, nem supunha sequer que algo deste teor pudesse sobreviver tanto tempo na lei, mas enganei-me redondamente. Há que remediar a situação o mais depressa possível e julgo ter a solução:
Se o espanto matasse, vocês estariam neste momento a planear ir ao meu enterro -- ou a rezar um terçozinho para eu ir mais depressa para o inferno. Eu até leio o Código Civil de vez em quando, mas nunca me tinha apercebido desta maravilha, nem supunha sequer que algo deste teor pudesse sobreviver tanto tempo na lei, mas enganei-me redondamente. Há que remediar a situação o mais depressa possível e julgo ter a solução:
- Proponho uma alteração ao Código Civil, com a criação de uma nova lei pela qual os homens que querem casar têm de provar que não engravidaram nenhuma mulher às escondidas da sua noiva. Acho justo: se a lei tem de precaver elas enganarem os futuros maridos, então também deve precaver eles enganarem as futuras esposas.
Acho que percebi
“Os resultados do leilão de hoje refletem uma procura robusta, numa altura em que se observa alguma diminuição do risco antes dos eventos que se aproximam, como as eleições francesas em abril e a revisão de rating da DBRS, continuando a oferecer níveis de rentabilidade atrativos aos investidores”, destaca Marisa Cabrita, gestora de ativos da Orey Financial.
“Na linha a três anos, menos habitual, a procura foi especialmente elevada. Comparativamente aos últimos leilões desta obrigação, a yield exigida foi inferior, no entanto, o montante colocado substancialmente inferior”, frisou a responsável.
Fonte: ECO
Se bem percebi isto, Portugal emitiu dívida e, segundo Marisa Cabrita, houve forte procura de títulos -- estava tudo aos empurrões para emprestar a Portugal, por isso exigiram que Portugal pagasse taxas de juro mais altas a 9 anos e mais baixas a 3. O risco de emprestar a Portugal é menor, por isso os investidores mostraram mais interesse em emprestar no prazo mais curto porque tinham certeza que o prazo mais longo, que até pagava mais juros, era um investimento pior. Finalmente, o IGCP estava tão satisfeito com o interesse da procura de títulos a três anos que nem pediu emprestado tudo o que poderia pedir àquelas taxas de juro tão baixas.
E viveram felizes para sempre!
Ah, mulheres!
It's like that time of day when the sun and the moon are out at the same time.
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[Mais vale um gajo gay de cortar a respiração, do que um heterossexual medíocre. Life goals, ladies!]
Humanos
Quando era pequena, li vários volumes de uma colecção escrita por Adolfo Simões Müller (que nunca soube quem é) onde se contavam a vida e façanhas de vários indivíduos, cientistas, exploradores, enfim, aqueles que deram a vida para darem grandes contributos à humanidade. Os meus preferidos (sou do tempo em que os livros preferidos, porque tínhamos muito tempo, se liam várias vezes) eram os de Scott e Amundsen, este, norueguês, que venceu a corrida para chegar ao Pólo Sul, e aquele, inglês, que morreu no gelo antártico depois de conseguir a mesma coisa (que imaginação romântica resiste ao destino tão diferente de dois heróis, um que atinge a glória em vida, outro na morte?), e o de Marie Skłodowska Curie, que deu também a vida, mas de forma mais lenta do que Scott, envenenada pelo rádio, um dos elementos que descobriu (o outro foi o polónio, e os sons rádio e polónio ainda me fazem pensar para trás). Lembro-me de ler como, no seu laboratório gelado, não pelo gelo antártico mas pelo gelo de quem prefere gastar o pouco que tem numa missão obsessiva, mexia durante longas horas substâncias para mim desconhecidas em contentores estranhos. Mas acho que um dos grandes efeitos sobre mim desta biografia foi a convicção de que era normal homens e mulheres fazerem coisas importantes. Lembro-me de que eram mais penosos os obstáculos da pobreza para que Marie Skłodowska e o marido pudessem continuar as suas pesquisas do que o facto de ela ser mulher (isso certamente estava lá, mas não é o que me impressionou na altura). Esta convicção de que há uma igualdade fundamental entre homens e mulheres e que ela é evidente e reconhecida por todos, tão evidente como as leis da lógica ou as contas de somar, mantive-a até entrar no mundo adulto, que é onde as ilusões infantis se desfazem contra o muro implacável da realidade.
Hoje celebro o dia da mulher de duas maneiras, então. Celebro as minhas ilusões infantis. E celebro Marie Skłodowska Curie, que demonstrou a justiça delas.
Hoje celebro o dia da mulher de duas maneiras, então. Celebro as minhas ilusões infantis. E celebro Marie Skłodowska Curie, que demonstrou a justiça delas.
terça-feira, 7 de março de 2017
A op-ed mais polémica da semana
Noah Feldman, Professor de Direito Constitucional e Direito Internacional na Harvard Law School, defende na BloombergView que, se o Presidente Trump acusou Barack Obama de colocar escutas nos telefones do candidato Trump e se não há provas que suportem a acusação e esta é falsa, este comportamento deveria dar origem a um processo de impeachment do Presidente Trump:
"The answer is that the constitutional remedy for presidential misconduct is impeachment.
That would have been the correct remedy if Obama had “ordered” a wiretap of the Republican presidential candidate’s phones. The president has no such legal authority. Only a court can order a domestic wiretap, and that only after a showing of probable cause by the Department of Justice and the Federal Bureau of Investigation.
Breaking the law by tapping Trump’s phones would have been an abuse of executive power that implicated the democratic process itself. Impeachment is the remedy for such a serious abuse of the executive office.
That includes abuse of office in the form of serious accusations against political opponents if they turn out to be false and made without evidence. These, too, deform the democratic process.
[...]
What’s more, government acts that distort and undercut the democratic process are especially serious and worthy of impeachment. The Watergate break-in to the Democratic National Committee headquarters was part of an effort to steal the 1972 election. A wiretap of Trump’s campaign would’ve had political implications.
And accusing the past Democratic president of an impeachable offense is every bit as harmful to democracy, assuming it isn’t true. Obama is the best-known and most popular Democrat in the country. The effect of attacking him isn’t just to weaken him personally, but to weaken the political opposition to Trump’s administration.
Given how great the executive’s power is, accusations by the president can’t be treated asymmetrically. If the alleged action would be impeachable if true, so must be the allegation if false. Anything else would give the president the power to distort democracy by calling his opponents criminals without ever having to prove it."
Fonte: Noah Feldman, Bloomberg
segunda-feira, 6 de março de 2017
Girls, life is too short for bad coffee...
David Aylsworth
No Sábado foi a abertura de uma retrospectiva do trabalho de David Aylsworth, um artista de Houston, no Galveston Arts Center, em Galveston, TX. Durante a palestra, o artista explicou como trabalha e tenta exprimir na tela o que lhe vai na alma. Muitas vezes pinta enquanto ouve bandas sonoras da Broadway e os títulos que dá aos quadros são versos de canções que ouve enquanto trabalha. Não sabe se no espectador surgirá a mesma ideia, mas talvez com algumas pessoas haja uma intersecção de ideias-- o nome da exposição é Either/And. A forma como fala do processo quase que evoca uma súplica de que o espectador o veja, de que veja no seu trabalho aquilo que ele viu.
sábado, 4 de março de 2017
Reportagem 7
(hoje é por uma razão especial)
sexta-feira, 3 de março de 2017
Homens modernos...
Os gajos modernos que não gostam de feministas, talvez porque pensem que elas não rapam os sovacos e as pernas, admiram, no entanto, o corpo da mulher, mas tem de ser um certo tipo de mulher. Ah, aquele corpaço com curvas tipo Autódromo do Estoril e que, no Verão, fica luzidio com o calor e apetece passar o dedo e fazer outras coisas mais...
Agora que o piropo é ilegal, surgem no cérebro deles, em luzes de néon, coisas como "Boca de broche!" e "Comia-a toda" -- perdão, é natural que estes tipos não saibam que é "Comia-a toda" e pensem que seja "Comi-a toda!" ou "Comia toda!", mas adiante, malta, porque eu também dou calinadas a português, apesar de quase nunca pensar na Marisa Papen quando as dou.
Então, dizia eu que estes homens modernaços acham que sabem apreciar mulheres porque gostam daquelas gajas boazonas. Derretem-se por aqueles vídeos das danças de salão, em que o vestido da gaja sugere o pecado que mora lá dentro e detêm-se em questões existenciais de lingerie, tipo "como é que ela segura as cuecas, hein?" É tão bom mostrar que se gosta de apreciar a técnica da mulher que dança! Eu também sou assim: gosto das gajas descascadas que dançam bem, têm ritmo, bom gosto em música, umas mamas jeitosas, etc. E sabem que eu sou boa a dar gorjetas!!!
Quando sinto que há oportunidade para um momento de camaradagem -- porque temos gostos que se sobrepõem, i.e., há intersecção no diagrama de Venn --, peço referências de strip bares que estes homens modernos frequentam para eu visitar. Só que não me respondem; logo ou não assumem que vão ou não vão. Destas duas opções, não sei qual a pior... Ao menos eu admito que praticamente fiz o meu mestrado em strip bars e discotecas -- e discotecas gay? Ah, tão bom!
Afinal, sou mesmo holística: uma feminista que não se rapa (fiz depilação a laser) e uma machista com bom gosto em mulheres.
Agora que o piropo é ilegal, surgem no cérebro deles, em luzes de néon, coisas como "Boca de broche!" e "Comia-a toda" -- perdão, é natural que estes tipos não saibam que é "Comia-a toda" e pensem que seja "Comi-a toda!" ou "Comia toda!", mas adiante, malta, porque eu também dou calinadas a português, apesar de quase nunca pensar na Marisa Papen quando as dou.
Então, dizia eu que estes homens modernaços acham que sabem apreciar mulheres porque gostam daquelas gajas boazonas. Derretem-se por aqueles vídeos das danças de salão, em que o vestido da gaja sugere o pecado que mora lá dentro e detêm-se em questões existenciais de lingerie, tipo "como é que ela segura as cuecas, hein?" É tão bom mostrar que se gosta de apreciar a técnica da mulher que dança! Eu também sou assim: gosto das gajas descascadas que dançam bem, têm ritmo, bom gosto em música, umas mamas jeitosas, etc. E sabem que eu sou boa a dar gorjetas!!!
Quando sinto que há oportunidade para um momento de camaradagem -- porque temos gostos que se sobrepõem, i.e., há intersecção no diagrama de Venn --, peço referências de strip bares que estes homens modernos frequentam para eu visitar. Só que não me respondem; logo ou não assumem que vão ou não vão. Destas duas opções, não sei qual a pior... Ao menos eu admito que praticamente fiz o meu mestrado em strip bars e discotecas -- e discotecas gay? Ah, tão bom!
Afinal, sou mesmo holística: uma feminista que não se rapa (fiz depilação a laser) e uma machista com bom gosto em mulheres.
Engolir a língua
O moço do Partido Comunista, o Miguel Tiago, que segue as últimas modas de cuidados pessoais e é barbudo, diz que é milagre Teodora Cardoso ainda ter emprego e lhe pagarem um salário. Então e o Mário Centeno, ó Miguel? Ele tinha previsões de 2,6% de crescimento do PIB? Porque é que o PCP, que apoia o governo, não exige que Mário Centeno seja despedido e mantido em estado de desemprego permanente?
O que eu acho milagroso é o PCP se prestar a este serviço. Mas suspeito que o nosso ilustre Primeiro Ministro, com a ajuda de Mário Centeno, está a preparar um orçamento que o Conselho de Finanças Públicas irá criticar por ser demasiado optimista, logo António Costa já deu indicação à sua malta para questionar em Praça Pública a credibilidade do Conselho de Finanças Públicas. Esta coisa de independência administrativa do Conselho de Finanças Públicas deve dar muito comichão ao nosso PM Costa -- besunte-se com Aveeno para Eczema, caro PM Costa, que isso passa.
Vocês alguma vez imaginariam que o PCP se tornaria num dos lacaios do PS? As coisas que acontecem em Portugal... Só é pena que o nosso PM não demonstre este talento para coisas produtivas, como reformar o país e metê-lo numa trajectória sustentável. O único talento que tem é convencer os outros a auto-flagelar-se, suspendendo o uso da razão e envergonhando-se em público. Não vos recorda o Hannibal Lecter no The Silence of the Lambs quando convence o vizinho da cela, o Miggs, a engolir a própria língua? Lembram-se do Miggs, não é?
O que eu acho milagroso é o PCP se prestar a este serviço. Mas suspeito que o nosso ilustre Primeiro Ministro, com a ajuda de Mário Centeno, está a preparar um orçamento que o Conselho de Finanças Públicas irá criticar por ser demasiado optimista, logo António Costa já deu indicação à sua malta para questionar em Praça Pública a credibilidade do Conselho de Finanças Públicas. Esta coisa de independência administrativa do Conselho de Finanças Públicas deve dar muito comichão ao nosso PM Costa -- besunte-se com Aveeno para Eczema, caro PM Costa, que isso passa.
Vocês alguma vez imaginariam que o PCP se tornaria num dos lacaios do PS? As coisas que acontecem em Portugal... Só é pena que o nosso PM não demonstre este talento para coisas produtivas, como reformar o país e metê-lo numa trajectória sustentável. O único talento que tem é convencer os outros a auto-flagelar-se, suspendendo o uso da razão e envergonhando-se em público. Não vos recorda o Hannibal Lecter no The Silence of the Lambs quando convence o vizinho da cela, o Miggs, a engolir a própria língua? Lembram-se do Miggs, não é?
Hannibal Lecter: Now then, tell me. What did Miggs say to you? Multiple Miggs in the next cell. He hissed at you. What did he say?
Clarice Starling: He said, "I can smell your cunt."
Hannibal Lecter: I see. I myself cannot. You use Evian skin cream, and sometimes you wear L'Air du Temps, but not today.
~ The Silence of the Lambs
Ena pá, tantos!
A CNN escreveu uma pequena sinopse do pessoal da campanha Trump que se encontrou com oficiais russos. Todos eles dizem que era tudo casual, não tinha nada de mal.
Haver um encontro entre um conselheiro uma vez pode ser considerado casual; mas há vários encontros, ao longo de vários meses desde, pelo menos, Julho do ano passado, envolvendo seis pessoas -- potencialmente mais. Isto é um esforço concertado ou dos russos ou de Trump.
Haver um encontro entre um conselheiro uma vez pode ser considerado casual; mas há vários encontros, ao longo de vários meses desde, pelo menos, Julho do ano passado, envolvendo seis pessoas -- potencialmente mais. Isto é um esforço concertado ou dos russos ou de Trump.
quinta-feira, 2 de março de 2017
A vírgula do Tom Hanks...
Sim, é uma "Oxford comma"!
BREAKING: White House press corps receives brand-new espresso machine from @tomhanks. Come for the coffee... stay for his note. 👇 pic.twitter.com/cirbLKHEt0
— Peter Alexander (@PeterAlexander) March 2, 2017
O prato do dia
O prato do dia de hoje nos noticiários americanos é Jeff Sessions, ex-Senador do Alabama e actual Attorney General da Administração Trump. Jeff Sessions teve contactos com o Embaixador russo nos EUA antes da eleição, apesar de, durante a sua confirmação para o seu actual cargo, ter dito que não tinha tido contactos com os russos. O GOP está dividido, uns acham que isto é uma perseguição política, outros que deve ser devidamente investigado.
Marco Rubio, Senador Republicano que representa a Florida no Congresso e membro do U.S. Senate Select Committee on Intelligence, em entrevista na NPR, dizia que não iria participar nem numa caça às bruxas, nem num encobrimento da verdade. Rubio era um dos oponentes mais sonoros à Administração Obama e foi um dos candidatos à Presidência nas Primárias americanas, durante as quais Donald Trump lhe deu a alcunha de "Little Marco". Quando o ouvi a ser entrevistado, ocorreu-me que ele não terá problemas em virar-se contra Trump se vir uma boa oportunidade para o fazer. E como ele, há outros Republicanos assim. Parece-me que iremos assistir a um processo de canibalismo político dentro do Partido Republicano americano.
Depois de Mike Flynn, Jeff Sessions é a segunda pessoa próxima de Trump associada a russos e há quem exija a sua demissão ou, pelo menos, a sua recusa de participar na investigação do papel da Rússia nas eleições. Há umas semanas, noticiava-se que a lista de pessoas próximas de Trump contactadas pela Rússia incluía pelo menos três nomes; falta ainda saber a identidade da terceira. No New York Times de hoje, há mais detalhes acerca do tipo de informação que os serviços secretos americanos têm, há conversas entre oficiais russos onde se discutiam contactos com membros da equipa de Trump:
É estranho que os russos tenham sido tão descuidados; não seria muito difícil usar um código de forma a que o nome de Trump e pessoas associadas a ele não fossem facilmente identificáveis nas escutas dos serviços secretos americanos. É como se os russos quisessem ser apanhados. Se era essa a ideia, está a funcionar bem, pois não parece que a história da Rússia morra tão facilmente porque, para além de haver informação que ainda está a ser analisada, o potencial para fugas de informação é enorme pois a Administração Obama deixou tudo o que sabia documentado e disseminado.
Marco Rubio, Senador Republicano que representa a Florida no Congresso e membro do U.S. Senate Select Committee on Intelligence, em entrevista na NPR, dizia que não iria participar nem numa caça às bruxas, nem num encobrimento da verdade. Rubio era um dos oponentes mais sonoros à Administração Obama e foi um dos candidatos à Presidência nas Primárias americanas, durante as quais Donald Trump lhe deu a alcunha de "Little Marco". Quando o ouvi a ser entrevistado, ocorreu-me que ele não terá problemas em virar-se contra Trump se vir uma boa oportunidade para o fazer. E como ele, há outros Republicanos assim. Parece-me que iremos assistir a um processo de canibalismo político dentro do Partido Republicano americano.
Depois de Mike Flynn, Jeff Sessions é a segunda pessoa próxima de Trump associada a russos e há quem exija a sua demissão ou, pelo menos, a sua recusa de participar na investigação do papel da Rússia nas eleições. Há umas semanas, noticiava-se que a lista de pessoas próximas de Trump contactadas pela Rússia incluía pelo menos três nomes; falta ainda saber a identidade da terceira. No New York Times de hoje, há mais detalhes acerca do tipo de informação que os serviços secretos americanos têm, há conversas entre oficiais russos onde se discutiam contactos com membros da equipa de Trump:
"The warning signs had been building throughout the summer, but were far from clear. As WikiLeaks was pushing out emails stolen from the Democratic National Committee through online publication, American intelligence began picking up conversations in which Russian officials were discussing contacts with Trump associates, and European allies were starting to pass along information about people close to Mr. Trump meeting with Russians in the Netherlands, Britain and other countries.
But what was going on in the meetings was unclear to the officials, and the intercepted communications did little to clarify matters — the Russians, it appeared, were arguing about how far to go in interfering in the presidential election. What intensified the alarm at the Obama White House was a campaign of cyberattacks on state electoral systems in September, which led the administration to deliver a public accusation against the Russians in October in Mr. Trump’s favor. In early December, Mr. Obama ordered the intelligence community to conduct a full
assessment of the Russian campaign.
[...]
Beyond leaving a trail for investigators, the Obama administration also wanted to help European allies combat a threat that had caught the United States off guard. American intelligence agencies made it clear in the declassified version of the intelligence assessment released in January that they believed Russia intended to use its attacks on the United States as a template for more meddling. “We assess Moscow will apply lessons learned,” the report said, “to future influence efforts worldwide, including against U.S. allies.”"
Fonte: The New York Times
É estranho que os russos tenham sido tão descuidados; não seria muito difícil usar um código de forma a que o nome de Trump e pessoas associadas a ele não fossem facilmente identificáveis nas escutas dos serviços secretos americanos. É como se os russos quisessem ser apanhados. Se era essa a ideia, está a funcionar bem, pois não parece que a história da Rússia morra tão facilmente porque, para além de haver informação que ainda está a ser analisada, o potencial para fugas de informação é enorme pois a Administração Obama deixou tudo o que sabia documentado e disseminado.
quarta-feira, 1 de março de 2017
Um discurso vazio
As reacções ao discurso de Donald Trump no Congresso dominam as notícias hoje de manhã. A maior surpresa para muitas pessoas é ele ter conseguido dar um discurso pré-preparado durante uma hora, ou seja, a medida de sucesso está ao nível de um aluno da escola primária. Na NPR, um antigo consultor da Breitbart, Kurt Bardella, dizia que nada no discurso o tinha impressionado: ele é Presidente dos EUA, conseguir dar um discurso em que demonstra ser uma pessoa com auto-controle, que não insulta os oponentes, é completamente trivial e é completamente ridículo sequer mencionar isso.
Para as pessoas que estavam à espera de detalhes de que políticas o Presidente ia implementar, o discurso não clarificou a agenda e há quem o qualifique de vazio. Apesar de índices financeiros, como o Dow e o S&P 500, estarem perto de máximos históricos, há indicações de que os investidores não estão convencidos:
Para as pessoas que estavam à espera de detalhes de que políticas o Presidente ia implementar, o discurso não clarificou a agenda e há quem o qualifique de vazio. Apesar de índices financeiros, como o Dow e o S&P 500, estarem perto de máximos históricos, há indicações de que os investidores não estão convencidos:
- No mercado bolsista, os sectores que têm tido melhor desempenho são o de empresas utilitárias (Utilities) e o de saúde, que não dependem tanto de crescimento económico.
- O peso das alocações dos fundos de investimento passivos está a aumentar; já os fundos activamente geridos estão a sair do mercado americano e a ir para a Europa e para o Japão.
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