segunda-feira, 31 de julho de 2017

Aumentar as escolhas

Uma das primeiras coisas que se aprende em economia é a noção de custos de oportunidade, que deriva de os recursos serem escassos, i.e., quando gastamos um recurso para fazer uma coisa, ficamos sem ele para fazer outras. Tinha eu ideia de que Portugal era um país em que o estado aplicava parte dos recursos que recolhe da sociedade por via de impostos na criação de um sistema de transportes públicos de boa qualidade para assim garantir que as pessoas de rendimentos mais baixos (ou que não tem idade para conduzir, ou não podem conduzir, ou não querem conduzir) têm mobilidade para fazer a sua vida, sem estarem expostas aos custos de ter um carro, pois para além de terem de pagar gasolina, seguro, também têm de contar com os custos de manutenção, que podem ser dispendiosos.

Podíamos ver isto por outro prisma: ao achar que transportes públicos são mais valiosos para a sociedade do que toda a gente ter carro próprio, o estado recolhe impostos para pagar a existência dos transportes públicos e dar subsídios de aquisição de bilhetes a custos razoáveis; se o estado achasse que era preferível as pessoas terem carro próprio, então alocaria menos recursos aos transportes públicos, cobrando menos impostos, e deixando mais rendimento disponível para as pessoas adquirirem veículo próprio. Também podia subsidiar as pessoas que têm rendimentos mais baixos, permitindo-lhes adquirir veículos próprios; nesse caso, a existência de transportes públicos tornar-se-ia quase redundante.

Só que em Portugal, o Bloco de Esquerda, um dos partidos que forma a Geringonça que governa o país, acha que quem recebe RSI também deve poder ter um carro e ter gasolina para o carro, ou seja, o papel do estado não é apenas o de promover a mobilidade das pessoas, mas o de permitir aos cidadãos ter escolha na forma como se movem. Aumentar escolhas é muito mais caro do que assegurar um nível mínimo de mobilidade dos cidadãos. Como é que planeiam pagar isto: vão reduzir os apoios aos transportes públicos, vão aumentar os impostos, ou vão endividar mais o país e passar os custos às gerações futuras?

E já agora, como é que vão fazer para aumentar a escolha das pessoas que não conduzem: vão dar subsídios para a compra de carro e para o pagamento do salário de um motorista próprio? Podia ser uma forma de reduzir o desemprego e criar um mercado de trabalho mais variado -- lá está, aumentar as escolhas...

4 comentários:


  1. Risível.

    Mas a srª. Catarina Martins sabe o que pretende.
    Resta saber se, quando a corda rebentar - e um dia a corda vai rebentar - esta Catarina não cai de costas.

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  2. Com a compra de 500 autocarros verdes não creio que vão reduzir os apoios aos transportes públicos.

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  3. Não me parece que se esteja a dizer nada disso.
    Diz-se apenas que:
    - Se alguém fica em situação de pobreza, não é por ter carro que deixa de ter acesso ao RSI;
    - Essa regra existia no passado, mas na verdade praticamente nunca era relevante (o governo fala em 0,26% dos casos).

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    1. Eu consultei a página que explica as condições de acesso ao RSI e uma das condições era o valor do carro. Não julgo que fosse uma regra, mas sim parte da lei que define o RSI. Não sei se 0,26% dos casos é assim tão insignificante, pois depende do que cada um entende ser um valor insignificante.

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