sexta-feira, 11 de agosto de 2017

Está quase!

Enquanto passeei o meu cão, pensei no meu pacote. O Economist tem o índice do preço dos hambúrgers da McDonald's para comparar países. O meu índice preferido é o correio. Países que demoram tempo a processar correio são ineficientes. Ora enviei o meu pacote a 13 de Junho, chegou à Alfândega de Lisboa a 20 de Junho e por lá ficou. Comecei a exaltar-me ao pensar em tamanha lentidão. Ora, envio pacotes para Portugal há 20 anos e o serviço em vez de melhorar, piora.

Consigo enviar um pacote para a Alemanha em 9 dias; para Portugal, que até fica mais perto, é mais de seis semanas. Em 1996, estava o uso da Internet na sua infância, enviei uns pacotes dos EUA para minha casa em Portugal por barco, que era mais barato. Demorou um mês e meio a ser entregue. Agora já não dá para enviar coisas de barco, vai tudo de avião, mas demora o mesmo tempo. Os meus postais de Natal, que enviei a 20 de Dezembro de Washington, D.C., foram entregues aos destinatários portugueses mais de um mês depois -- é como se tivessem ido de barco. Como é que se justifica esta lentidão quando hoje em dia está tudo automatizado e usa Internet, ou seja, a informação é transmitida muito mais depressa?

Se estiveram atentos às notícias, viram que os lucros do primeiro semestre de 2017 dos CTT desceram 44% porque entregam menos cartas e terminaram um contrato com a Altice. O serviço é péssimo, logo mais vale enviar um email. Aliás, até estou a pensar que vou deixar de enviar qualquer tipo de correio para Portugal e vou deixar de fazer compras pela Internet em Portugal. No dia 7 de Junho, comprei dois livros na página da Wook para oferecer a uma amiga portuguesa. Ela recebeu um postal para os ir levantar a 23 de Junho -- eu compro livros usados na Amazon que vêm de Nova Iorque e chegam ao Texas em dois dias. Sabem quantos Portugais cabem entre Nova Iorque e o Texas?

Voltando ao meu pacote, foi entregue hoje, depois de 9 e-mails enviados para os CTT, mais 3 e-mails enviados para a Autoridade Tributária. Infelizmente, tenho de admitir que cometi um erro: quando preenchi o formulário de alfândega enganei-me e meti que o pacote continha dois livros, cujo valor por unidade era $40 (em vez de $20) e valor total era $40. Quando me dei conta do erro (nunca me tinha acontecido) informei os CTT que o valor unitário do formulário estava mal e enviei a foto do formulário onde identifiquei o erro. Hoje, para levantar o pacote, a minha amiga teve de pagar €27. Ora, se a intenção era sempre a de ela ter de pagar, por que razão detiveram o pacote? Não era preciso deterem o pacote tanto tempo.

Na minha correspondência com a Autoridade Tributária, informaram-me que a responsabilidade da lentidão era dos CTT; nos CTT, disseram-me que a responsabilidade era da Autoridade Tributária. Se vocês forem ao site dos CTT, na secção de perguntas e respostas, diz que os pacotes internacionais ficam detidos na morada da Alfândega; se perguntarem à Alfândega dizem que não há capacidade de armazenamento naquele local. Quem mente?

Da Alfândega enviaram-me uma pdf com "Informação Útil para o Desalfandegamento de Encomendas Postais". O documento, que não tem um link do Portal das Finanças que funcione (tem um antigo), nem foi escrito por uma pessoa que saiba usar virgulas, diz o seguinte:
"Em qualquer dos casos, o valor declarado ficará sempre sujeito à aceitação ou não, do mesmo, por parte das autoridades aduaneiras."
Ou seja, aceitar o valor ou não fica ao critério da Alfândega, logo o problema do atraso reduz-se a uma incapacidade de decidir, que é o normal em Portugal.

Mas a história não acaba aqui. Quando procurei no Google por "CTT", sugeriu-me "CTT tracking". Nos resultados da busca, apareceu um serviço de acompanhamento de encomendas, o Aftership. Neste momento, o Aftership acompanha encomendas de 417 empresas de correio. Não faltará muito para começarem a analisar dados e identificar as companhias e os países que são mais ineficientes.

Portugal e os CTT lá estarão perto do topo da lista. Com esta informação, as companhias estrangeiras deixarão de enviar encomendas por via dos CTT, logo é apenas uma questão de tempo até a companhia começar a perder dinheiro. Só resta saber se quando estiver na falência, irá requerer a ajuda dos contribuintes para a subsidiar, mas acho que a maior parte de nós sabe a resposta a essa pergunta.






3 comentários:

  1. Desde a privatização dos CTT, no Governo Passos-Troika, Portugal ficou sem um serviço público de entrega postal credível. Nestas férias, ao verificar a caixa de correio acumulado do ano, deparei com metade das cartas destinadas aos vizinhos. Em conversa com estes, dizem-me que ao apresentar reclamação junto dos seus serviços, pelos erros e atrasos mais que muitos, os funcionários choram pela tristeza de ver a sua organização ineficiente e sem meios para cumprir a sua função. Sucedem-se reclamações e protestos formais das autarquias à volta.

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  2. É simplesmente vergonhoso... ao ponto de praticamente se poder criar um blog apenas com queixas da alfândega e CTT.

    Como exemplo, deixo um dos meus casos surreais.

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    1. Eu tenho cá em casa um pacote, que foi aberto pela Alfândega e que pediram documentos sobre o que continha e o valor, quando a informação estava toda no pacote. Depois devolveram porque o LA-C, que tinha sido a pessoa a quem eu tinha enviado o pacote, não quis entregar papelada nenhuma. Ora ele nem sabia o que lá estava dentro porque aquilo tinha sido uma oferta que eu tinha enviado para as filhas. Hei-de escrever um post sobre esse pacote, com fotos.

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