quinta-feira, 23 de dezembro de 2021

Maldita fome

Ontem fez uma semana que magoei um dos meus dedos. Não reparei que uma caneca que se partiu tinha espalhado alguns pedaços de vidrado pela borda do lava-louça e, quando estava a arrumar a cozinha, um pedaço alojou-se no dedo do meio da mão direita. E ainda cá está. Calhou que isto aconteceu na véspera do meu exame médico anual, mas a médica não quiz fazer nada porque não conseguia ver onde estava o "objecto estranho" e dizia-me que a ponta de um dedo tem muitos nervos e é um sítio muito doloroso, logo tinha receio de me magoar. Mandou-me aguardar uns dias a ver se a coisa saía sozinha; senão, recebi instruções de lhe enviar um email a pedir para me marcar uma consulta para um especialista de mãos. Acho que não vai ser preciso porque já vejo a ponta do vidrado perto da pele, logo penso que está a sair.

Durante a consulta, viu o meu ficheiro e ficou satisfeita que as minhas vacinas estavam todas em dia. Disse-lhe que só ia tomar o reforço anti-Covid em Março e ela achou bem. Perguntou-me acerca da minha dieta, o que foi novidade, e relatei o que comia e o que não comia -- abdiquei de quase todos os cereais porque me sinto melhor assim. Há um ano, tinha-me dado indicação para modificar a dieta porque o colesterol estava muito alto e, por acaso, naquela altura andava a comer bastantes ovos, o que não é normal para mim.

Quanto ao teste do Papanicolau, como fiz no ano passado, não preciso de repetir por uns anos. Restou apenas o mamograma, mas como tenho uma fibroide no peito esquerdo, as instruções dos técnicos é que tenho de fazer uma ecografia para acompanhar o mamograma. Aquiesci, apesar de custar $900 a ecografia, mas eu coloco $3500 ($750 é contribuição do meu patrão) por ano numa conta poupança-saúde (esse dinheiro não paga impostos) para estas eventualidades. Detesto gastar dinheiro em médicos.

No fim, mandou-me para o laboratório para fazer análises. Estava eu sentada na sala de espera quando do outro lado do corredor chega um homem branco 11 anos mais velho do que eu. Calhou eu ficar com a técnica de raça branca e ele com a técnica de raça negra. Sentei-me, dei o meu nome e a minha data de nascimento, virei a cara para o outro lado, e tentei ignorar a picada. Do outro lado da sala, o meu companheiro de tortura começou a refilar que ia ficar com uma nódoa negra porque a técnica tinha feito asneira com a seringa.

Fiquei duplamente chateada: primeiro por ter de o aturar, apesar de ele não estar a falar para mim; depois porque eu não disse nada para a defender. Eu já apanhei aquela técnica e ela nunca me deu uma nódoa negra, nem nunca achei que tivesse sido mal-atendida. Concluo que não estava no meu melhor: é no que dá ir em jejum para estas coisas. Para a próxima não posso ficar calada, mesmo se estiver com fome.

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