domingo, 5 de abril de 2015

Viva o desemprego

Quando eu terminei a licenciatura de economia fiquei, obviamente, desempregada. Durante esse tempo, fiz várias coisas para além de me candidatar a empregos e a um mestrado nos EUA:
  • Inscrevi-me na natação e aprendi a nadar. No entanto, nunca consegui aprender muito bem. Tenho verdadeiro pavor de estar na água sem ter pé. Acho que tem a ver com gestão de risco, não me sinto segura por não ter mais controle e entro em pânico.
  • Fazia trabalhos em ponto cruz, que a minha mãe oferecia às amigas quando tinha uma ocasião em que era precisa uma prenda--é verdade, eu sou muito caseirinha. A minha mãe fornecia os materiais, eu fornecia o trabalho. Na minha opinião, ponto cruz é uma actividade muito boa para exercitar o cérebro. Tentar planear os pontos de cada cor, para que o avesso do trabalho fique perfeito, é um bom exercício cerebral.
  • Ia ao cinema e via filmes na TV. Naquela altura, eu tinha uma ligeira obsessão por David Lynch--ainda tenho. E também tinha o hábito de escrever numa lista todos os filmes que eu via por ano; comecei essa lista no oitavo ano. Acho que eram indicações de que eu gostava de análise de dados porque, agora que penso nisso, reparo que eu tinha muitos hobbies em que metia as coisas em listas e analisava-as (número de itens por ano com direito a gráficos e tudo, por exemplo). Outra lista que eu tinha era uma de catalogar as cartas que eu recebia da minha prima e de outros amigos. Cada carta tinha um número e, na minha lista, junto ao número da carta estava a data da carta. Eu tinha vários penpals em Portugal, nos Países Baixos, na Suécia, e depois nos EUA. Também coleccionava receitas porque eu gosto de cozinhar.
  • Li vários livros, incluindo "O Estrangeiro" de Albert Camus e "Focus" de Arthur Miller. Já não me lembro d'"O Estrangeiro" que é um livro que faz parte do Plano de Leitura Nacional, mas ainda penso no "Focus" muito. Acho que "Focus" é um livro que devia ser lido. No outro dia, vi a lista dos livros que fazem parte do plano de leitura e pensei que quem sugeriu aqueles livros não lê nada. A maior parte das sugestões são livros que ganharam prémios ou de escritores conceituados. Não há livros obscuros na lista, logo presume-se que quem criou a lista não lê livros para além dos que são conhecidos. Logicamente, os que são conhecidos já fazem parte de muitas listas, logo há pouco valor em incluí-los em mais uma.

    Por falar em livros, em Junho e Julho de 1997, a RTP2 passou uma série chamada "Great Writers of the 20th Century". Eu, não só acompanhava a série, como tirava apontamentos do que era dito acerca de cada escritor. Ainda tenho esses apontamentos, como podem ver pela foto abaixo:

  • Durante algumas semanas estudei para o Graduate Record Examination (GRE) para me candidatar ao mestrado nos EUA. Fui para Lisboa, visitei a Fundação Luso-Americana para requisitar materiais de estudo, e fui para casa da minha tia marrar. Que remédio, quem é lento como eu tem de praticar muito...
  • Tirei uma cadeira de Tecnologias de Informação onde aprendi HTML e a fazer páginas na Internet--isto foi em 1997. É por isso que quando eu escrevo estes posts, eu formato os textos com HTML em vez de usar os botões de formatação, pois ainda me lembro de algum do código. E quando não me lembro, vou à procura do código no Google.
  • Inscrevi-me no Instituto de Emprego e fiz uma pequena formação de como encontrar emprego. Durante essa formação, um dos exercícios era pensar em usos para uma garrafa de vidro se nós estivéssemos perdidos numa ilha deserta. Eu achei giro que se fizesse aquele exercício porque é um exercício de brainstorming (tempestade cerebral) tipicamente americano e, durante a minha licenciatura, eu tinha feito intercâmbio com uma universidade americana, logo estava perfeitamente à vontade a fazer brainstorming. Claro que eu fui a pessoa que tinha mais usos para a garrafa. Pensar em ideias malucas é comigo.

E foi assim que passei o meu primeiro desemprego. Tenho pena de não ter visitado mais museus e monumentos e feito mais actividades culturais, mas quando se cresce numa cidade como Coimbra, em que estamos rodeados por milhares de anos de história, temos tendência a não valorizar uma coisa que nos parece tão abundante. Mas já me corrigi e tento aproveitar melhor os sítios onde estou e que visito.

Às vezes, falo com jovens que estão desempregados agora. Sentem-se perdidos, têm muito tempo, mas não têm vontade para fazer nada. É pena porque quando nós temos emprego, passamos muito tempo a desejar ter mais tempo para podermos fazer outras coisas para além de trabalhar. E usar tempo livre para investir em nós próprios é uma coisa que eventualmente trará um retorno; a mim também me dá imenso prazer. Mas isto digo eu, que planeio a minha vida pelo menos com 20 anos de antecedência...

2 comentários:

  1. Eheh. Também li o "Felizmente há luar" por estar numa qualquer lista oficial, e também achei, no fim, que há livros infinitamente melhores.
    Acho que é mais fácil de ter essa atitude pró-ativa de enriquecimento quando o desemprego é individual, e que a coisa se torna depressiva quando o desemprego é estrutural.
    Estive à procura da sua produção científica quando passou por universidades americanas (Oklahoma e Arkansas, não é?) e não encontrei nada. Usava outro nome artístico? A propósito, pode-se perguntar por que razão foi parar a essas universidades? É que não lembrariam ao diabo, a não ser para aprender pronúncias locais :-/
    B.

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  2. Não, fui parar à OSU porque foi a universidade que me aceitou no programa de intercâmbio durante a licenciatura. Naquela altura, era uma das universidades melhor organizadas em termos de estudantes internacionais. E depois fui para lá fazer o mestrado porque me apaixonei por um estudante, e também porque já sabia que teria emprego se para lá fosse, para além disso eu interessava-me por problemas ambientais e o departamento de Agricultural Economics está no top 25 mundial o que é suficientemente bom para mim.

    Eu já estive desempregada várias vezes, inclusive durante a Grande Recessão e nos EUA o subsídio de desemprego não é lá grande coisa. Não é fácil, mas ficar em casa e olhar para as paredes também não me parece adiantar grande coisa. Quanto à UofA, eu consegui emprego seis meses antes de terminar o doutoramento lá e pagavam bem, logo eu fui. Eu adoro dinheiro...

    As minhas publicações estão no Repec Ideas. Eu não uso o meu primeiro nome, apenas as iniciais, como é normal nos EUA. https://ideas.repec.org/f/pca645.html.

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