sábado, 3 de outubro de 2015

Dia de reflexão 4

Ontem, fui dar um seminário à Universidade Nova, em Lisboa. Estava no Porto, no comboio, quando percebo que não tinha carteira. Como sobreviver um dia inteiro em Lisboa sem carteira? Mais grave, tinha umas horas livres em Lisboa que tinha planeado usar para comprar a prenda de anos da minha mulher, ou seja, precisava mesmo do dinheiro. Ou isso ou a Sandra matava-me. Só restava pedir dinheiro emprestado a algum amigo de Lisboa.

O comboio ia chegar às 9.22. Hora ingrata. A maioria das pessoas entra às 9h para o trabalho. Qual dos meus amigos seria a vítima? Então lembrei-me de um amigo de Lisboa que, um dia, em Braga, precisou que eu lhe emprestasse um par de sapatos num evento particularmente importante. Foi um dos telefonemas mais interessantes que recebi: Luís, um dia vais-te rir, mas hoje preciso mesmo de resolver um problema. Trouxe um sapato de cada cor e preciso de um par de sapatos para a cerimónia. E preciso disso no hotel antes das 9h. Qual é o teu número?

Ontem fui eu a mandar-lhe esta mensagem: Preciso de tua ajuda, se puderes, claro. Estou no comboio a caminho de Lisboa. Chego ao Oriente às 9.22 ou a Sta.Apolónia às 9.30. Não me esqueci de um par de sapatos, mas esqueci-me da carteira. O que quer dizer que não tenho dinheiro para pequenas despesas, tipo táxi, metro, etc. mas, muito mais grave, hoje é o dia de anos da Sandra e não tenho dinheiro para comprar a prenda dela (coisa que planeava fazer hoje em Lisboa). É possível encontrares-te comigo esta manhã e emprestares-me dinheiro?

Talvez por se compreenderem tão bem, os despistados têm uma solidariedade própria. Qualquer distraído move mundos e fundos para que um outro distraído não sofra o castigo da sua distracção. Foi buscar-me à estação, deu-me todo o dinheiro que o multibanco lhe permitia e ainda me deu boleia. 

Ao fim do dia, no regresso, todas as compras feitas, ainda sobrou dinheiro para comer qualquer coisa. Lá fui comer com o dinheiro emprestado. Deve ser isso a que se chama viver acima das nossas possibilidades.

3 comentários:

  1. Não tens que publicar este "comentário", claro. Esqueceste que ainda tens um outro amigo em Lisboa que poderia resolver a dificuldade, ainda por cima cheio de tempo para gastar e (também) algum dinheiro disponível... Ele ainda por cá anda, a pensar se deva ou não regressar a lides bloguistas. Por enquanto vou lendo. A Destreza das Dúvidas tomou outra feição mas continua interessante... Um abraço e parabéns à Sandra.

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    1. Claro que publico! Mas não me esqueci. Simplesmente, no Facebook, consigo ver quem já está acordado. Isso é uma enorme vantagem quando ainda são 7 da manhã. Fico muto contente por saber que pensas voltar. Mas não voltes sem antes considerares a hipótese de teres a Destreza como tua casa. Teríamos imenso gosto. E numa época em que o ensino público foi tão atacado, ter-te aqui seria óptimo.

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    2. Deixei passar o dia 4, para responder. Sabes eu tenho conta no Facebook mas não sou praticante... Nunca me seduziu, ou, talvez, nunca o utilizei bem. De qualquer modo, eu sou um homem de me levantar cedo. Quanto ao convite, fico lisonjeado mas cheio de interrogações: perante um conjunto de brilhantes economistas (creio que todos) que valor terão as minhas reflexões? Em qualquer caso, um dia destes contacto-te por outra via para uma decisão.

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