sexta-feira, 2 de outubro de 2015

É mesmo de esquerda, o Fernando

O nosso camarada Fernando Alexandre parece um pouco espantado por descobrir que, de acordo com a descrição de Boaventura Sousa Santos, é de esquerda. Confesso o meu espanto com o seu espanto. Conhecendo o Fernando vai para 20 anos, conheço o quadro normativo que governa a sua cabeça. Na verdade, mesmo sem Boaventura Sousa Santos, o Fernando também se acha de esquerda. Cito uma velha entrada do Fernando:
Entrei num café e o meu olhar cruzou-se com o de um jovem sentado na mesa do lado. Tenho o hábito de olhar nos olhos mesmo as pessoas que não conheço. Sentei-me e voltei a observar o jovem que me olhava fixamente - podia ser um ex-aluno. Tinha a aparência de um jovem revolucionário anarquista de finais do século XIX, início do século XX - podia ser a personagem de um romance de Dostoievski. Comia uma sopa, acompanhada de um copo de água, e era muito magro. Disse-me:

- É economista, não é?
- Sou. - respondi.
- Só podia ser economista, com as barbaridades que disse ontem à noite... - redarguiu.
Continuou perguntando-me se era de direita. Respondi-lhe que, sendo esse o leque de escolhas, seria provavelmente de esquerda. Não me deu tempo para justificar.
Caro Fernando, não te preocupes. Não é por seres camarada que deixas de ser boa pessoa. Ia rematar com um "Pelo contrário!", mas se o fizesse teria aqui a brigada do Politicamente Correcto de Direita a dizer que eu exibia a tradicional mania de superioridade moral da esquerda. Por isso, não remato.

2 comentários:

  1. Já não há esquerda, nem direita, somos todos democratas e vagamente republicanos (ou só democratas, que também há os monárquicos), como o Marinho Pinto. O resto, é tudo uma questão de técnica e deixa-se aos economistas e engenheiros. Até estou a descobrir agora que a Direita defende a igualdade desde pequenina, como aqueles jogadores que logo que contratados por um clube são seus adeptos desde que nasceram. A História, o património ideológico, teórico, de cada lado, etc, esfumou-se tudo.
    Está claro que, sendo agora isto uma questão de mera técnica, nenhum lado pode reivindicar qualquer superioridade moral. Pensava eu, que sou conservador nestas coisas, que reivindicar superioridade moral é uma coisa tão simples como acharmos que o nosso partido ou ideologia tem a solução mais justa. Mas vivemos tempos pós modernos, pelos vistos.

    Pedro

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  2. Isto já parece o Charlie, somos todos de esquerda. Todos, todos, não, que eu simpatizo com aqueles regimes em vigor na Holanda, Canadá ou Nova Zelândia, onde não se usam os "valores republicanos".
    Parece-me que há pelo menos mais um que não é de esquerda: precisamente o autor da definição, porque já o ouvi (ou li) defender regimes, como o que vigora na Venezuela, onde não se nota a "independência das instituições, em especial, do sistema judicial", enquanto não o ouvi, nem li, lutar "pela memória e pela reparação dos que sofreram formas violentas de opressão", por exemplo, em ditaduras comunistas".

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