quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

Soma, mas não segue...

Sempre que os jornalistas portugueses dizem que o Obama duplicou a dívida, há um gajo português que me manda um email a dizer que o não-sei-quantos disse que o Obama duplicou a dívida pública. Já me contactou umas quatro vezes sempre com a mesma argumentação de que alguém disse isso. Estou a perder a paciência e não é raro dizer ao rapaz que é burro e mal-educado porque já lhe expliquei onde ele devia ir buscar a informação -- dados primários, criaturas! --, em vez de me andar a fazer perder tempo.

Hoje mostrei os dados outra vez. Fui ao site do CBO buscar as tabelas e mostrei-lhe. Tenho a certeza de que não vai perceber ou, se perceber, vai esquecer-se e daqui a não sei quantas semanas envia-me outro email com a mesma lenga-lenga. Dava-me jeito que os jornalistas portugueses aprendessem a recolher dados nos EUA, mas duvido que tal aconteça. Em sua defesa, para saberem o que procurar têm de saber um pequeno detalhe: Obama assumiu a dívida pública de Bush que estava escondida nas apropriações dos orçamentos suplementares.

As guerras de Bush foram financiadas a dívida -- foram as primeiras guerras na história dos EUA que foram financiadas a dívida, em vez de um aumento nos impostos (Bush cortou impostos, se se recordam). Aconteceu um bocado como com o Governo Sócrates em Portugal, durante o qual parte da dívida foi contraída de forma a não ser contabilizada como dívida pública, mas depois a Troika forçou o governo de Pedro Passos Coelho a assumir essa dívida, ou seja, a dívida aparece como sendo do governo PSD/CDS, apesar de ter sido contraída pelo governo PS. Prestem atenção a estas coisas porque o governo da Geringonça, não tendo a supervisão da Troika, também anda metido em contabilidade criativa.

Já se vislumbra que parte da dívida da administração de Trump será escondida. Por exemplo, o custo de repelir o Obamacare não pode ser anunciado pelo Congressional Budget Office, de acordo com uma resolução da Casa dos Representantes (ver páginas 25 e 26), datada de 2 de Janeiro de 2017. Estima-se que esse custo seja de $350 mil milhões durante 10 anos, mas enquanto dos Republicanos controlarem ambas as câmaras do Congresso, não saberemos. Outro exemplo, o custo de construir o muro entre os EUA e o México está estimado em $12 a $15 mil milhões. O Presidente Trump anunciou ontem que seria pago pelo México, ou seja, não é dívida americana -- é um crédito dos EUA com o México.

Ah, querem os dados primários da dívida americana? Então dêem um pulo ao Congressional Budget Office, onde encontram o histórico dos Orçamentos (o mais recente aqui, numa folha de cálculo de Março de 2016) e apropriações suplementares do orçamento que estão aqui. Comparem a evolução das apropriações suplementares de Bush com as de Obama para perceberem a diferença.

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