quarta-feira, 1 de abril de 2015

Finalmente, uma razão para ir a Londres...

Nunca fui a Londres a sério, apenas passei uma noite perto do aeroporto de Heathrow durante uma layover. Acho que foi nessa viagem que vi a Donatella Versace no Heathrow. Coitada, as cirurgias plásticas não a ajudaram nada, e ela é baixinha e magrinha que nem um espeto. Se ela é sexy, eu sou a coisa mais un-sexy que existe e fico feliz por isso.

Pseudo-Londres foi assim: quando aterrei em Londres, estava nublado e eu tinha partido de um Portugal com um sol radiante, então perdi toda a vontade de ir ou voltar a Londres. Fui a um pub comer fish and chips. Não é como o nosso peixe, caramba! Um carapau frito é bem mais saboroso. Também percebi uma coisa muito importante a meu respeito: eu devo ter uma sensibilidade qualquer à luz e não sobreviveria num sítio como Seattle, onde está sempre nublado e chove a potes, ou Londres. O sul dos EUA é bom para mim e Portugal também. Adoro chuva, tempestades, núvens, etc., mas não posso exagerar, senão fico triste e deprimida. Preciso de sol...

Há pessoas que pensam que eu sou triste e deprimida por natureza porque eu sou muito calada. Confundem a minha introversão com muita coisa, até dizem que eu sou uma pessoa aborrecida, pouco interessante, preconceituosa, insegura... A opinião dos outros a meu respeiro diverte-me bastante porque eu acho que dentro da minha cabeça há um mundo muito interessante, que me excita imenso. Talvez seja por isso que eu seja introvertida. Ou talvez ser introvertido seja ser uma espécie de camaleão, nós somos coisas diferentes com diferentes pessoas; ou será qualquer coisa inversa a isto, do tipo "Nós não vemos as coisas como elas são; nós vemos as coisas como nós somos." (in "The Seduction of the Minotaur" de Anaïs Nin)? Há uma teoria que diz que a introversão é uma característica de auto-preservação resultante do processo de selecção natural da espécie humana. As pessoas introvertidas ou tímidas são menos ameaçadoras e, como tal, menos susceptíveis de ser atacadas, logo isso aumenta a sua probabilidade de sobrevivência.

Depois, há a minha aparência física. Para a minha cara, que é bolachuda (isto é óptimo para a prevenção das rugas), eu tenho uma boca muito pequena, logo não tenho um sorriso género Whitney Houston. Uma boca pequena também não dá muito jeito no dentista, ainda por cima porque eu vomito com muita facilidade. Lembrei-me, no outro dia, que deveria ser obrigatório os dentistas dizerem o tamanho das suas mãos antes de nos aceitarem como pacientes. Os meus lábios são muito pequenos, apesar de carnudos, e a sua forma natural faz um arco virado para baixo, género :-(. E como eu sou mais baixa do que a maioria das pessoas, elas vêem a minha boca de cima, o que exagera o arco. Então, concluem que eu sou uma pessoa triste ou que estou chateada e não quero estar com elas. Note-se que nós também temos a tendência a identificar líderes como sendo pessoas mais altas do que o normal. Por exemplo, há estudos que indicam que homens altos têm mais sucesso do que homens baixos. Por esse prisma, estou, naturalmente, lixada.

O meu modo de ser e a minha aparência física têm grandes repercussões na minha vida profissional. Quando eu vou a entrevistas, presumem que eu não sou uma pessoa dinâmica e que não estou interessada no emprego. Não é assim que eu funciono, porque eu só me candidato a empregos que eu acho interessantes. Mas quem não me conhece não tem essa informação--a bem dizer, até quem me conhece, não me conhece. Para além disso, eu interesso-me por muitas coisas, o que implica que quem vê o meu CV não identifica nenhuma especialização em particular, logo não entende muito bem o que eu sou profissionalmente. Por exemplo, um dos Vice-Presidentes no meu emprego anterior, quando me apresentava a clientes, dizia que eu era, género, "pau para todo o serviço". Mais ninguém tinha os meus talentos em análise quantitativa, línguas, e afinidade com pessoas de backgrounds diferentes. Mas a pessoa que me contratou apreciou-me mais pela análise quantitativa, que era o que lhe interessava. Por acaso, ele conseguiu identificar isso do meu CV.

Quando me convidaram para eu considerar o meu emprego actual--note-se que eu trabalho para uma mulher e eu já tinha trabalhado para ela antes--, eu perguntei porque é que ela estava interessada em mim e não numa das outras pessoas que trabalhavam na nossa equipa no outro emprego. E a minha futura chefe, que também foi minha chefe no passado, disse que uma das razões foi que o emprego anterior era um emprego dominado por homens e eu entrava numa reunião, numa sala cheia de homens (20 e 30 homens), e não me deixava intimidar por nenhum. Às vezes, quando há clientes que nos visitam, a minha chefe diz-lhes que eu sou uma pessoa muito serena, mas que sou muito sagaz, logo para eles não se deixarem enganar pela minha serenidade. Para ela, a minha introversão é vista como uma forma de serenidade.

Como estamos em Abril, há pessoas que estão a preparar-se para acabar o curso e já estão a enviar CVs para arranjar emprego. Quando forem a entrevistas, lembrem-se de que a entrevista não é, normalmente, um sítio onde se vê a capacidade técnica de alguém--há entrevistas que podem incluir a resolução de testes ou case studies, que envolvem uma avaliação técnica, mas a maior parte não. Uma entrevista profissional é um concurso, não para Miss/Mr. Universo, mas para Miss/Mr.Simpatia. O concurso de Miss/Mr. Universo foi na escola. Quando as pessoas acabam o curso, sabe-se que reúnem o mínimo de qualificações técnicas necessárias. O que não se sabe é se se irão dar bem com os colegas, se conseguem contribuir para a equipa, se conseguem adaptar-se bem à carga de trabalho, se são responsáveis, se têm bons valores éticos, etc. A maior parte dos empregos não é tão tecnicamente exigente como ter de passar exames num curso universitário. E não tentem passar a ideia de que vocês irão ser os mais competentes e espertos da casa. Ninguém quer contratar uma pessoa que vá demonstrar que o seu chefe é tecnicamente incompetente. Sorriam muito, mas não exagerem. Antes de chegarem ao local da entrevista, façam uns sorrisos forçados, só para relaxar os músculos faciais, e esse exercício afectará também o vosso estado de espírito durante a entrevista. Assim, quando cumprimentarem as pessoas, que vos irão entrevistar, já estarão mais à vontade.

Pela minha parte, estou a ponderar ir a Londres. Apesar de o tempo lá continuar a ser uma coisa enfadonha, há um professor de matemática italiano, Pietro Boselli, na Universidade de Londres, num curso de engenharia mecânica, e eu gosto de aprender como as coisas funcionam. Infelizmente, este Pietro não tem pêlos, mas eu amarro-o a uma cama até eles crescerem. E depois Londres tem muita arte, o que me agrada muito, logo há bastante para fazer enquanto os pêlos do rapaz crescem. Talvez eu o besunte com vaselina para os pêlos crescerem mais depressa...

Ah, sim, claro, o Pietro também tem outro charme: eu, como boa portuguesa, tenho uma ligeira obsessão por Pedros--quem precisa de um Romeu, quando podemos ter um D. Pedro I? Até escrevi um poema à estátua de D. Pedro I, em Cascais:

Pedro das pedras do chão,
Frias, rugosas, de granito,
Ponho em ti a minha mão,
Sinto-me perto do infinito

Lá, onde a noite já é madrugada,
Onde o mar frio banha a costa,
Nesse norte de alvorada,
Encontro em ti perguntas sem resposta.

5 comentários:

  1. A respeito do link do New York Times - embora a dada altura a autora escreva "Shyness and introversion are not the same thing. Shy people fear negative judgment; introverts simply prefer quiet, minimally stimulating environments", todo o resto do artigo está escrito como se esta passagem não existisse, com o texto saltitando entre "shy" e "introvert" em cada frase.

    [Admito que este comentário acaba por ser sobre um assunto bastante lateral ao post da Rita]

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Sim, mas muitas vezes timidez e introversão estão presentes na mesma pessoa. Eu quando era jovem, para além de introvertida era extremamente tímida. Eu tinha medo de telefonar para pedir informações, ir a uma loja e falar com a pessoa que nos atendia, etc. Eu fui completamente inepta até aos 23 anos.

      Eliminar
  2. Eu sou suspeita como leitora, mas a brincar a brincar, dizes verdades muito sérias, por exemplo sobre a introversão.
    Quanto ao "Pedro" espero que não tenha umas mãos horríveis ou dê erros ortográficos do género "janta-
    -mos" isso mata qualquer libido (para mim, claro).
    É... Ando a ver séries televisivas que não devo e fico com este humor.
    Bjcs

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Claro, Paula, conheces-me bem. Mas eu lembro-me que uma das primeiras conversas que tu e eu tivemos foi acerca do posicionamento de vírgulas. Isto quase há 25 anos...

      Eliminar

Não são permitidos comentários anónimos.