quarta-feira, 1 de abril de 2015

Estamos maduros para a apanha

"Ripe for the picking", que traduzido literalmente é "maduro para a apanha", é uma expressão comum nos EUA, que indica que as coisas estão prontinhas, só basta ir lá e aproveitar. Assim é Portugal. O nosso portefólio gastronómico e artesanal vale uma fortuna se houver quem o saiba explorar. Nós, obviamente, não sabemos. Basta pensar nos pastéis de nata. Aqui estão eles na capa de uma revista inglesa:

Isto recorda-me das minhas idas a Portugal com o meu marido. Ele não tinha interesse nenhum em aprender português, até chegar a Portugal e ver as pastelarias. De um dia para o outro, aprendeu a dizer "bola de Berlim", "tosta mista", "obrigado", "por favor"... Como ele acordava mais tarde do que eu, eu saía e deixava-o a dormir de manhã e ele ia tomar o pequeno almoço sozinho. Quando eu regressava, estava ele todo contente por ter ido à pastelaria sozinho aviar-se. Claro que os empregados também sabiam inglês, mas ele gostava de falar algum português. E ele até tinha um ranking de pastelarias e dizia-me quais eram melhores para cada tipo de pastel. Depois regressávamos aos EUA e ele dizia aos amigos que as pastelarias portuguesas eram uma coisa extraordinária.

É estranho que o Starbucks, com mau café e má pastelaria, consiga ter uma tracção enorme internacionalmente. Mas não há ninguém em Portugal com visão para criar uma rede internacional de cafés/pastelarias portuguesas. Em vez disso anda tudo com a mania dos cupcakes. Sinceramente, um cupcake americano é uma grande porcaria. Há algumas lojas que têm cupcakes bons, mas são muito raras. A melhor loja de cupcakes que eu conheço é a Bliss em Fayetteville, no AR. O resto é tudo doses industriais de açucar e colorante.

Nos meus empregos, muitas vezes, faço um bolo, pudim, arroz doce... e levo para o escritório para partilhar com os colegas. É uma boa maneira de mostrar às pessoas que gostamos de trabalhar com elas. Toda a gente gosta dos meus doces e eu uso receitas europeias, muitas portuguesas. Depois de eu começar este emprego, telefonei a um rapaz de IT no emprego anterior porque nós tínhamos comprado uns dados. Quando ele atendeu o telefone e eu me identifiquei, a primeira coisa que me disse foi que ninguém tinha levado doces desde que eu me tinha vindo embora. Há uma procura mundial para os doces portugueses, mas não há uma oferta, logo não há um mercado!

8 comentários:

  1. E quando alguém como Álvaro Santos Pereira, enquanto Ministro da Economia, lança a ideia, é alvo de chacota geral, para gáudio da CS, apesar de bastarem umas continhas mesmo de cabeça, para perceber que pode ser uma ideia fantástica.

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    1. O que fizeram ao Álvaro Santos Pereira foi extremamente estúpido e míope; mas, se prevalecesse o bom senso em Portugal, o país não teria chegado ao que chegou. Ainda muita sorte temos de não ter sido pior...

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    2. Eu usaria uma só palavra, em vez de estúpido e míope: parolo.

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  2. Há "natas" há muito tempo por onde haja emigração portuguesa. Mas, claro, os macaron e os bonbons de chocolateiro (mais sofisticados) ou os strudels (com um bocadinho de fruta) levam a melhor.

    A pastelaria portuguesa é uma carga de açúcar, acima de tudo. Boa para nos tornar obesos, como se pode constatar.

    Concordo consigo numa coisa: os cafés do Starbucks em copinhos de plásticos são uma m*.

    Betty

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    1. Não, a pastelaria portuguesa não é uma carga de açucar. Uma carga de açucar é a pastelaria americana: é só açucar e gordura.

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  3. Concordo com a Rita, com o seu marido e com Álvaro Santos Pereira. Actualmente, poucas coisas os portugueses terão tão merecedoras de levar ao conhecimento da humanidade inteira do que a sua habilidade incomparável para misturar ovos com açucar.

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    1. Por acaso, a doçaria portuguesa seria uma coisa que deveria ser mais explorada e temum potencial enorme. O que eu notei quando vim para os EUA foi que a doçaria portuguesa é muito mais complexa em termos de sabor do que misturar ovos com açúcar. Isso os americanos fazem e é uma boa porcaria. Eles pensam que um bom doce é uma transformação linear da quantidade de açúcar que entra na receita. Mas nós somos muito mais sofisticados do que isso.

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    2. Mas foi isso que eu disse. Não estava a fazer ironia. Cresci em Portugal. Vivi 6 anos no Brasil e agora moro no Connecticut. Quando vou a Portugal, entro em qualquer pastelaria de Aveiro, começo a saborear um qualquer doce de ovos e imediatamente sinto lágrimas nos olhos. A doçaria é algo muito mais sofisticado do que seguir uma receita.

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