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“Good resolutions are useless attempts to interfere with scientific laws. Their origin is pure vanity. Their result is absolutely nil.” —Oscar Wilde, The Picture of Dorian Gray
Fez um ano que o Luís me convidou para escrever para a Destreza. Lembro-me perfeitamente onde estava. Tinha aterrado em Lisboa vinda de um natal passado em Londres. Fiquei muito contente com o convite, foi como chegar a casa duas vezes. A Destreza tinha a minha cara e enchia-me as medidas. Dias depois surge o convite do Expresso para o qual me comprometi em escrever todas as semanas e por vezes duas vezes por semana, para o online e para o papel. E como tenho a mania da perfeição, sabia que escrever não ia ser uma tarefa feita em cima do joelho. Semana após semana tinha ideias, quer para o Expresso, quer para a Destreza, mas não tinha tempo. Mas passado um ano a falta de tempo que é (e foi) real não é desculpa.
Acabo de ler uma mensagem do Luís: “Menina, tens de escrever para a Destreza. 1 vez por mês, não é quase nada. Que seja essa a tua resolução de ano novo”. Mas a verdade é que as resoluções de ano novo raramente funcionam. No fundo, não são mais do que uma oficialização da procrastinação. Deixar para amanhã o que se poderia já fazer hoje.
A procrastinação é uma mal que afeta todos, em maior ou menor grau, e para o qual já aplicamos estratégias de combate. Estabelecer prazos, oferecermo-nos alguma gratificação como prémio por acabar uma tarefa ou impor alguma penalidade. Os economistas acreditam em incentivos, pelo que sistemas de bónus são muitas vezes implementados para combater a procrastinação e aumentar a produtividade no local de trabalho. Outro exemplo da aplicação de incentivos é o website/aplicação Stickk, que permite estabelecer um objetivo que deverá ser alcançado num prazo determinado. Por forma a potenciar o sucesso é preciso estabelecer uma quantia em dinheiro que será doada a uma instituição que não se gosta caso o objetivo não seja cumprido. Esta aplicação ajuda, mas tanto mais quanto tornamos público o nosso objetivo. Ou seja, partilha-lo com amigos e colegas que monitorizam o nosso desempenho.
Enquanto os economistas pensam em incentivos, os psicólogos focam-se mais nas emoções. E ao que parece existe outra via para combater a procrastinação: melhorar a nossa disposição e humor. No fundo, estar feliz. Considere-se, por exemplo, uma experiência* que usou estudantes universitários que tinham de se preparar para um exame. A estes foram facultadas distrações e foram induzidos diferentes estados de espírito por via de leituras diversas. A um grupo de estudantes foram dadas velas de aromaterapia e foi-lhes dito que estas criam bem-estar e melhoram a disposição.
Os resultados mostraram que quem mais procrastinou foi 1) quem estava com mais mau humor; 2) a quem foi dito que as velas tinham poder de melhorar a disposição; 3) quem mais teve acesso a distrações.
A todos os destrezianos deixo então aqui a minha palavra. Escreverei para a destreza com regularidade. Começo já hoje porque amanhã pode ser tarde de mais. Vou oferecer as velas aromáticas que estão no meu gabinete aos meus colegas. E já agora, um ano muito feliz a todos. Mantenham-se de bom humor e continuem a fazer da Destreza um blogue que me enche as medidas.
* Do Emotions Help or Hurt Decision Making? A Hedgefoxian Perspective; Kathleen D. Vohs, Roy F. Baumeister, George Loewenstein. Editors, 2007.