domingo, 20 de dezembro de 2015

Boas festas

A última vez que passei o Natal em Portugal foi em 1998. Tive o bom senso de, enquanto a minha mãe estava viva, lhe ter pedido algumas das receitas que ela fazia. Enquanto os nossos pais estão vivos, o amanhã parece ser muito certo, mas há sempre um amanhã que não é. Como a minha mãe tinha uma doença cardíaca, desde que eu me conheço, ela dizia-me sempre que o amanhã dela não era certo. Agradeço ao sistema de saúde português que a manteve viva até aos 64 anos e, nessa altura, eu já tinha a certeza da incerteza do seu amanhã. Mas isto não é para ser um post triste, pelo contrário.

Ontem, tive o prazer de receber cá em casa um casal de amigos para jantar. Ele é português e ela é brasileira. Como é meu costume, fiz as broínhas de natal que a minha mãe costumava fazer. São excelentes e é uma forma de eu partilhar Portugal com os outros. Por exemplo, costumo oferecer a cada um dos colegas de trabalho com quem mantenho mais contacto profissional um saquinho com uma ou duas broínhas pelo Natal, em vez de lhes dar apenas um cartão de Boas Festas. Ou então levo um tabuleiro cheio de broínhas para a cozinha comum do escritório. Uma vez, cheguei a enviá-las pelo correio aos meus amigos nos EUA; certificando-me antes de que estaríam em casa para as receber assim que chegassem.

Agora é a vossa vez: não posso receber-vos em minha casa, nem enviar-vos um pequeno pacote, por questões logísticas, mas posso dar-vos parte das tradições de Natal da minha casa. Aqui está a receita da minha mãe, que partilho convosco com muito carinho e votos de Boas Festas -- ou Feliz Natal, como preferirem...

Broínhas de Natal

Ingredientes
(em parênteses, estão as quantidades para 2/3 da receita, que eu costumo fazer)

  • 800 gr (533 gr) de batata
  • 200 gr (133 gr) de abóbora
  • 400 gr (267 gr) de açucar
  • Canela em pó a gosto
  • Erva doce a gosto
  • 3 (2) ovos inteiros
  • 500 gr (333 gr) de farinha de trigo com fermento, e mais alguma de reserva
  • 2 (1 1/3) colheres de chá de fermento em pó
  • Nozes a gosto: pinhões e nozes; podem também usar noz pecan (típica americana). Cortem as nozes em pedacinhos.
  • Frutas cristalizadas a gosto: cortem em pedacinhos. Uma alternativa mais saudável, é usar frutas desidratadas, que levam menos acucar no seu processamento.
  • Passas e sultanas, arandos secos (se tiverem), etc.

~ ~ ~

Notas:
  1. Nos EUA não vendem erva doce em pó e eu tive de usar um substituto. Eu tenho um moínho, como os de pimenta, onde moo estrela-de-anis, que é muito fragrante por ser uma moagem na hora. Se compram erva doce em pó, aqueçam por uns segundos no microondas ou sobre uma frigideira para libertar a sua fragrância, tendo o cuidado de não queimar.
  2. Misturar a farinha de trigo juntamente com o fermento antecipadamente e peneirar para minimizar grumos e assegurar que o fermento está bem distribuído.

Preparação:

Cozam a batata e a abóbora em água suficiente ou a vapor. Assim que estiver cozido, escorram e coloquem num prato destapado para o excesso de água evaporar. Enquanto ainda quente, passem pelo passe-vite ou esmaguem para uma taça de barro ou vidro. Juntem o açucar e mexam bem. O calor da batata e da abóbora derreterão o ácucar.

Adicionem agora a canela e a erva-doce para aproveitar o calor e tornar as especiarias mais fragrantes. Estando esta mistura morna, é altura de adicionar os ovos inteiros e bater bem. Junta-se a farinha com o fermento ao preparado de cima e incorpora-se; depois junta-se as frutas e nozes, distribuindo bem pela massa.

Liguem o forno para pré-aquecer em temperatura média-alta. Preparem os tabuleiros de metal onde irão cozer as broínhas, forrando o seu fundo com uma camada fina de farinha.

Regressando à massa, nesta altura testa-se a sua consistência. A massa tem de estar seca o suficiente que se consiga tender. Se não estiver, tem de se adicionar farinha aos poucos, peneirando-a e misturando-a com cuidado. Não é ideal deixar que a massa fique muito dura, pois isso também irá produzir broínhas que são muito densas.

Retira-se colheradas da massa (eu uso um servidor de bolas de gelado para medir, para ter mais consistência no tamanho), que se colocam numa tigela pequena –uma malga de barro é o ideal–onde se colocou alguma farinha. Tende-se a massa em broínhas redondas ou ovais, como preferirem, que se colocam sobre os tabuleiros forrados de farinha, deixando alguns espaço entre elas para que possam crescer à vontade sem se deformarem umas às outras. Notem que as broínhas ficam cobertas de farinha.

Leva-se o tabuleiro ao forno e coze-se por 20-30 minutos: coze-se por 20 minutos e verifica-se o seu progresso na cozedura, que dependerá do vosso forno, do material de que são feitos os tabuleiros, e do tamanho das broínhas. Se ainda não conseguirem inserir um palito numa broínha e ele sair seco, precisarão de cozer mais tempo. Vai-se acompanhanhando com regularidade até chegar ao ponto. O ideal é o forno ter uma janela de vidro para que não seja preciso abrir com frequência. Depois de cozidas, retiram as broínhas do tabuleiro e podem usar um pincel para retirar o excesso de farinha da parte de baixo. Colocar num prato de servir e desfrutar acompanhadas por café ou chá.

7 comentários:

  1. Vou experimentar a receita, muito obrigada!
    Boas Festas também para si e para todos os membros do DdD :-)

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    1. Obrigada! Espero que goste. Sugiro pelo menos 1/2 colher de sopa de canela e outra 1/2 de erva doce.

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    2. Zu, a Rita é de estatística. 1/2 não significa uma a duas colheres. 1/2 significa meia colher. Vê lá, não te enganes.
      Rita, não podes falar por código!

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  2. Luís, não te preocupes, ainda me recordo do que são fracções ;) Isto é código de culinária também.

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  3. Rita, já não poderei dizer que nunca aprendi algo que prestasse neste blog :)
    Não encontrei erva doce moída. Substituí por funcho em grão que esmaguei no pilão. Surgiram algumas dificuldades na fase de tender, prontamente solucionadas com o auxílio da minha filha mais nova. Ficaram uma delícia. Muito obrigado pela partilha. Boas festas. Nuno Gaspar

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