terça-feira, 22 de dezembro de 2015

Uma história macabra

O médicos são muito mal pagos em Portugal. É revoltante que haja dinheiro para salvar bancos mediante circunstâncias duvidosas, administrações negligentes, manter um governador do Banco de Portugal que, não tendo grandes responsabilidades, é completamente incompetente nas poucas que tem, mas ganha ao nível de, ou melhor do que, o Presidente da Reserva Federal, ter políticos que violam a lei e viajam em classe executiva à custa dos contribuintes, etc.

Mas para manter um jovem de 29 anos vivo não dá porque é fim-de-semana e os médicos sendo mal pagos, preferem não trabalhar. Esta história é completamente incompatível com um país que se diz civilizado. Mas é pior. Não basta terem adiado a operação, estando cientes do risco a que sujeitavam a pessoa, como nem se dignaram a informar a família da morte do jovem. Entretanto, aproveitaram o tempo para tratar de fazer os preparativos para recolher os órgãos do rapaz. Isto é macabro! Alguém devia ser despedido.

"No dia seguinte, segunda-feira dia 14, liguei várias vezes, querendo saber como tinha corrido a operação. No momento em que atenderam, por volta das 14h30, disseram-me simplesmente que não tinha sido realizada e que seria melhor deslocar-me ao Hospital São José, sem acrescentarem mais informações. Eu própria tive de informar a mãe do David, visto que ninguém do hospital nos telefonou.

Mais uma vez, fomos de Coimbra até Vila Chã de Ourique buscar a mãe do David. Chegámos ao Hospital de São José e aí anunciaram-mos que o David tinha tido morte cerebral e que seria irreversível. Não me deram mais detalhes. Completaram esta grave notícia, anunciando que no mesmo dia ou no dia seguinte ele seria operado para a doação de alguns dos seus órgãos."

Excerto da carta de Elodie Almeida, a namorada do jovem falecido

Fonte: Expresso

Percebem porque é que os EUA são litigiosos? Um caso destes nos EUA faria as delícias de um advogado que arrasaria com o hospital. Lembrem-se disto: o Natal calha a uma sexta-feira, é natural que na quinta-feira alguns médicos não trabalhem. Se vos acontecer algo de grave nesses quatro dias, a probabilidade de morrerem num hospital português é considerável. Façam o favor de gerir o vosso risco...

7 comentários:

  1. Quem é esta gente de merda que marca uma operação de urgência para 3 dias depois com esta tranquilidade?? Não sabiam pô-lo numa merda de um helicóptero para Espanha, França, Reino Unido ou Alemanha?? Merda de país! Merda de médicos e funcionários hospitalares, mais parecem talhantes!

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    1. Não podem - o transporte de pacientes nestas situações não é recomendado (i.e. tinha mais hipóteses, por estúpido que pareça, esperar até Segunda-Feira do que o enviar para Coimbra, que seria o mais perto).

      O Centro Hospitalar de Lisboa tem funcionado mal, muito mal desde há anos para cá, bem como a ARS-Lisboa e Vale do Tejo. Espera-se que, fruto desta desgraça, façam uma limpeza condigna da casa.

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  2. Em complemento ao que a Rita escreve, informo que sendo dia 24 tolerância de ponto, a regra é as escalas de serviço terem o o mesmo número de funcionários que no fim-de-semana (ou seja, em principio serviços que não tenham médicos aos domingos e feriados também não os teriam na tolerância - pelo menos é assim para enfermeiros, auxiliares e técnicos, não sei se também é para médicos), o que realmente agrava a hipótese de mortes por não assistência médica nesta quinzena.

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    1. Certo, Miguel Madeira. Mas a questão aqui é que uma Hospital Central (como é o de S. José) não pode não ter uma equipa de neurocirurgia vascular disponível. Um Hospital Central tem de ter TODAS as especialidades emergentes disponíveis 24 h/dia, 365 dias/ano.

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  3. A especialidade é Neurorradiologia. Neurocirurgia Vascular é especialidade que não existe: https://www.ordemdosmedicos.pt/?lop=conteudo&op=02522a2b2726fb0a03bb19f2d8d9524d

    Acho que ainda é muito cedo para se poder culpar alguém e muito mais os profissionais... Não está esclarecido se em nenhum momento poderia o doente ter sido transferido para outra unidade, nomeadamente o CHLN e não se percebe a notícia inicial do Expresso só mencionar o relato da namorada, natural e compreensivelmente emocionado. Ainda está para se perceber onde se quer chegar com isto uma vez que casos destes acontecem algumas vezes e nunca houve esta senda de demissões.

    Ao invés de se procurarem culpados dever-se-ia procurar evitar novas situações idênticas. Uma das medidas é alterar o modelo de remuneração de suplementos e os escalões de IRS... Pura e simplesmente não compensa trabalhar dado o saque fiscal e a reduzida compensação de horas penosas.

    E os médicos não são santos nenhuns e têm famílias para sustentar, não têm de trabalhar de graça. Mude-se o Sistema de Incentivos...

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    1. Pois é, só há um problema: nem sequer comunicaram à família que o jovem havia falecido. Se isso não é indicação de que algo está muito mal naquele serviço, não sei o que seja.

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  4. Discordo, deve-se mesmo procurar culpados.
    Os hospitais da zona de Lisboa (HSJ;HSM;HGH pelomenos) têm desde há algum tempo capacidade de ligação entre si, de forma a que exista sempre um hospital com Neurocirurgia/neuroradiologia - não está implementada.
    Esta forma diminui os custos totais agregados de manter a disponibilidade de uma equipa especializada e com baixa probabilidade de ser activada (num casos é baixo).
    Então duas considerações:
    1. Na zona Centro e Norte temos equipas disponíveis, seguindo o modelo descrito, e as leis são as mesmas, assim como as remunerações.
    2. Independentemente das considerações de remuneração justa, esta é para ser decidida em dois locais - sindicatos ou tribunal. O facto de existir um diferendo salarial não impede que nestes casos urgente a equipa opere.
    Caso seja necessário (e era mesmo necessário) a equipa operava e colocava a entidade patronal (hospital, estado) em tribunal se necessário - caso tenham razão nas suas reinvidicações o diferencial da remuneração seria pago posteriormente.
    Nem é caso pouco frequente em Portugal - sempre que existe arrastar das negociações salariais continua-se a trabalhar até haver decisão e depois recebe-se retroactivos do valor diferencial (exº do Lei Geral ao diminuir o valor do trabalho em dia feriado).

    Não é ético deixar morrer uma pessoa por diferendos de salário!
    Sendo que o caso me parece menos falta de dinheiro e mais falta de organização ENTRE hospitais e de ética profissional..

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