quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

Produtividade, risco sistémico, etc.

"O Banif tem uma rede de 150 balcões, que servem 400 mil clientes. Possui uma carteira de cerca de 6000 milhões de euros em depósitos e 5500 milhões de euros em créditos.* A instituição é especialmente relevante nas regiões autónomas da Madeira e Açores, nas quais conta com quotas de mercado muito elevadas.

Fonte: Público, 21/12/2015

Na sexta-feira, havia seis entidades interessadas no Banif. Diz o Observador que, no Sábado, o Santander e o Popular foram ambos convidados para apresentar propostas. O Santander Totta é convidado a apresentar uma proposta no Sábado, no Domingo o governo decide que o Banif será vendido ao Santander, e Terça-feira, já há balcões Banif com os nomes trocados no exterior para indicar que esses balcões são agora do Santander Totta. Em Portugal, as coisas não funcionam assim tão eficientemente. Será que foi milagre de Natal? Ou talvez um surto de produtividade devido ao elevado consumo de fatias de bolo rei? Ou será que estão a reinar connosco?

Uma linha de justificação, que ouço nas redes sociais, para a intervenção centra-se em dizer que o Banif, cujos depósitos e créditos eram de 2,5% do mercado português, representava risco sistémico para o sistema financeiro do país. Isto não me parece ser verdade, até porque a solução encontrada apresenta maior risco sistémico. Como é que vender o Banif ao Santander Totta mitiga o risco sistémico do sistema financeiro, dado que o Santander Totta é o segundo maior banco privado a operar em Portugal, detendo agora 14,5% do mercado português? Que procedimentos foram adoptados pelo Banco de Portugal e o governo português para minimizar o risco sistémico do Santander Totta? E porquê vender a uma entidade espanhola? Dada a forte integração do sistema financeiro de Portugal e Espanha, parece-me que seria muito mais cauteloso, do ponto de vista de gestão de risco, não integrar ainda mais os dois sistemas financeiros.

O artigo do Observador indica que o Banif começou a perder depósitos após as eleições legislativas devido à incerteza causada pelas acções de António Costa. As perdas de depósitos avultaram-se após a notícia incorrecta da TVI, tendo nessa semana saído €900 milhões. Dado que o Banco de Portugal apresentou uma solução que diz que em princípio custará €2.255 milhões de euros, concluo que as perdas em depósitos do Banif numa semana sob a governação Costa representam 40% do custo anunciado. Se formos a considerar as perdas de depósitos desde Outubro, cujos números ainda não vi, especulo que essa proporção exceda 50%. Este ano a maior parte do risco enfrentado pelo Banif ocorreu, então, durante o último trimestre do ano, que coincide com o período de grande incerteza governativa gerada por António Costa. Esta asserção foi confirmada pelo ex-Presidente executivo do Banif.

Ontem à noite, Jorge Tomé, ex-Presidente do Banif, deu indicação de que o banco se encontrava em situação relativamente estável, e obteve lucros de €6,2 milhões até ao terceiro trimestre deste ano. Acha Jorge Tomé que solução encontrada é "estranha", pedindo uma auditoria independente externa. Como é parte interessada, não podemos apenas acreditar no que diz.

Todos nós queríamos ver uma explicação independente e isenta dos factos e dos porquês das decisões tomadas, mas quando a justificação do actual governo nem sequer concorda com a justificação da Comissão Europeia, julgo que podemos ter a certeza que bastou um mês para o governo Costa vergonhosamente nos aldrabar. Mas isso já é costume: seria completamente anormal sermos governados por alguém que não aldrabasse.

Adenda:
* Convém mencionar que, num banco, os depósitos recebidos pertencem ao lado do passivo e os créditos concedidos ao lado do activo. Como há incerteza acerca do pagamento ao banco do crédito concedido, pois nem todos os empréstimos serão pagos, há uma certa flexibilidade na valorização destes activos, pois se se assume que o risco de não pagamento é grande, então os activos não valem tanto. Um dos argumentos de Jorge Tomé é que, na intervenção do Banif, a valorização destes activos está feita de forma a dar uma imagem pior do banco e poder justificar perdas muito superiores às que se verificariam se não houvesse intervenção.

1 comentário:

  1. A aprovacao do Orcamento retificativo foi uma troca com a continuacao da privatizacao da Tap. Alem disso safou-se AJJardim e o que o envolveu e safou-se o antigo ministro PS J Amado. Alem disso as contas do Partido(PS) estavam a necessitar de uma injeccao de dinheiro. Costa teve a oportunidade e nao a perdeu. O PS tem ma memoria de ter feito o negocio dos submarinos e de na hora da entrega destes ja A Guterres se tinha demitido e eram outros no governo...E evidente que o que digo sao so conjunturas sem fundamento(sou um emigrante na A Sul) que provavelmente tem uma imaginacao demasiado grande

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