segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

Os virtuosos

Em pouco mais de um mês de governo PS, já é claro que Portugal comete os erros do costume. António Costa permitiu que o custo do Banif fosse financiado com dívida, tendo pouca, ou nenhuma, consideração pelo custo total para os contribuintes actuais e futuros. Continua com intenções de resgatar a TAP para que regresse o estado, aumentando ainda mais a dívida pública.

A folga nas taxas de juro, permitida pela intervenção do BCE no mercado de dívida soberana, está a ser usada, não para consolidar dívida pública e diminuir os custos da sua manutenção no futuro, permitindo um alívio nos impostos, mas sim para se maximizar o endividamento do estado durante um período de taxas de juro baixas--esta foi a receita para a desgraça do governo Sócrates. Mário Centeno, como outros Ministros das Finanças anteriores, cala e consente.

A depreciação do euro está a ser desperdiçada. O sector privado já encolhe. Nas redes sociais, os empresários já se queixam da voracidade com que o estado os persegue. As escolas privadas, onde os empregados estrangeiros de algumas empresas a actuar em Portugal colocam os seus filhos, já estão a perder alunos, indicando que essas empresas estão a reduzir a sua presença em Portugal e a minimizar a sua exposição a uma governação que parece ser desastrosa para o sector privado.

O ano de 2016 irá provavelmente ser o fundo dos preços de petróleo. A extração de petróleo e gás natural dos depósitos de xisto não é, dada a tecnologia actual, rentável com petróleo a $35/barril; precisa pelo menos de $50/barril. Em algumas partes dos EUA, os produtores de petróleo/gás natural já venderam produto a preços negativos, pagando a alguém para o levar porque não têm onde o guardar. Os traders aconselham os barcos que transportam petróleo a irem mais devagar porque não há capacidade de armazenamento.

Este ano, o el Niño está a produzir um inverno anormalmente quente, logo os produtores de gás natural não irão conseguir escoar produto a bons preços e irão reduzir ainda mais o número de poços, reduzindo a produção de gás e petróleo nos EUA a médio prazo. Como diz um amigo meu na indústria: "não há melhor remédio para preços baixos do que preços baixos." (O mesmo é verdade para preços altos.) Nada disto dura para sempre.

Que faz Portugal perante esta baixa histórica nos preços de energia? É simples: o preço da gasolina é agora 2/3 impostos. O estado usa a baixa de preço das commodities para se financiar, mas não diminui a despesa, compromete-se ainda mais, numa altura em que devia estar a poupar para quando não pudesse cobrar tantos impostos e a passar parte das poupanças às famílias e às empresas para estimular a economia.

O pano de fundo disto tudo é uma situação demográfica catastrófica: somos o terceiro país mais envelhecido do mundo, mas comportamo-nos como se fossemos um país jovem. Continuamos a seguir políticas que nos garantem a pobreza, como se isso fosse um sinal de virtude.

3 comentários:

  1. Rita, o uso de combustíveis no processo produtivo é normalmente isento de ISP (salvo as empresas estarem a dormir na forma). Da mesma forma é isento o transporte ferroviário, marítimo e aéreo.

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    1. Seria interessante fazer um estudo para ver a prevalência de dorminhocos...

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  2. Rita, um feliz 2016 para si.
    Quanto ao BANIF também não me agrada a solução proposta tendo em conta o facto de os contribuintes suportarem uma despesa enorme e o banco ficar sobre controlo estrangeiro. contudo, seria possível outra solução dadas as circunstâncias? Qual? a mim que estou de fora e acompanho estes assuntos por alto a solução pareceu-me ser imposta pelo BCE ao excluir o Banif de ser contraparte e que o governo acabou por ter muita pouca margem de manobra?

    A Rita considera que a privatização da TAP foi um bom negócio para o Estado? não deverá ser anulada caso esteja viciada de alguma ilegalidade?

    Discordo consigo quando critica a fiscalidade sobre os produtos petrolíferos. Portugal deve tanto quanto possível taxar os bens e serviços importados e desonerar os bens e serviços produzidos em Portugal. Assim acho que faz todo o sentido onerar os produtos petrolíferos que dependem praticamente a 100% de importações e desonerar outros serviços com uma componente nacional muito maior (como por exemplo a restauração).

    Totalmente de acordo consigo quanto à questão demografica.

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