quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

Onze anos de rendimento mínimo garantido

Mais de onze anos de Rendimento Mínimo Garantido. Mais de ano e meio de subsídio de desemprego. Um pouco menos de metade do orçamento para a Saúde. Metade do custo total do TGV. Oitenta e dois por cento do custo total do novo aeroporto de Lisboa. É isto que custará, aos contribuintes, a salvação de um banco insular. As vestes rasgadas com o plano da "obra faraónica" do TGV, bem encharcadinhas, davam para dar nas ventas de muita cara de pau que agora defende esta coisa de salvar bancos a todo o custo.

O que acho mais impressionante neste processo todo não é a decisão do PC em votar contra, mas a certeza do PC de que o PSD nunca deixaria de votar a favor, se fosse preciso para garantir esta solução. É que, há dois meses, o PSD garantia que nunca daria apoio a nenhuma iniciativa de um possível governo PS: "Ó senhor deputado, se chegar a haver um Governo PS ..., quem tem de o apoiar são aqueles que andaram a negociar acordos bilaterais ...", disse Montenegro, acrescentando "é sobre si e o seu partido, sobre o PCP, sobre o PEV, sobre o PAN que recai a responsabilidade de sustentar politicamente o Governo, todo o seu posicionamento, mesmo em matéria europeia".

Reparem bem: a grande linha orientadora do Programa para a oposição a este Governo foi deixada cair passado dois meses. Dois meses. Eu sei que o PSD fez de dar o dito por não dito desporto em toda a governação, mas, caramba, na oposição é sempre mais fácil manter uma aldrabice. E, na verdade, é fácil imaginar milhares de medidas que, se precisassem da provação do PSD, seriam chumbadas. Estou a pensar, basicamente, em tudo o que não sejam orçamentos retificativos para salvação de bancos. O PC, numa jogada política tão fácil, mas tão esclarecedora, denuncia o bluff e o PSD mostra a mão, uma mão de banqueiros que não ganham ao poker mas ficam sempre com o pote. 

7 comentários:

  1. Isso tudo, e nada sobre o que devia ter sido feito.

    ResponderEliminar
  2. O Passos Coelho é mais astuto do que o que pensa. Pode não ser o Primeiro-ministro que Portugal precisa, mas de parvo não tem nada. Na lógica dele, apenas deu corda para o Costa se "enforcar".

    A preparação do orçamento para 2016 está a correr muito mal. O ambiente com o Eurogrupo e com a Comissão está muito azedo e até o PCP começou a distanciar-se do PS.

    Vai haver um choque por causa do orçamento proposto pelo PS. Repare que em Bruxelas já não querem apenas o projecto de orçamento, querem mesmo ver o orçamento antes deste ser enviado para a AR, o que significa que a confiança está a zeros...

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Isso são dados interessantes e relevantes, in fact, mas não creio que expliquem o que aconteceu esta semana. Parece-me evidente que o PSD só não deixou de mandar abaixo o governo porque está umibilicalmente comprometido com a salvação deste banco. À semelhança da aprovação da venda da TAP depois de cairem, este compromisso só me faz desconfiar do pior.

      Eliminar
    2. Obviamente, deve ler-se "só não mandou abaixo o governo" e não "só não deixou de mandar abaixo o governo".

      Eliminar
  3. Este texto é como estar a ver pensar, e bem.

    ResponderEliminar
  4. Diz o autor:

    '...o PSD garantia que nunca daria apoio a nenhuma iniciativa de um possível governo PS: "É que, há dois meses, o PSD garantia que nunca daria apoio a nenhuma iniciativa de um possível governo PS"'

    Com o devido respeito, não me parece honesto extrair tal garantia da afirmação de Montenegro. Mais, penso que quem fala actualmente pelo PSD é PPC.
    Aliás, faço a leitura exactamente ao contrário. O PCP errou, pois o PSD não votou favoravelmente!

    ResponderEliminar

Não são permitidos comentários anónimos.