sábado, 3 de outubro de 2015

Reflectindo

Ontem perguntaram-me em quem eu ia votar. Eu disse que não podia votar. (Ir a Washington, DC, no aniversário da minha mãe para poder ver a bandeira de Portugal ao ar livre não agradou aos deuses das eleições: a senhora que me poderia recensear estava de férias.)

Mas se pudesses em quem votarias, insistem. Eu respondo que não tenho de dizer. O voto é secreto, não tem de ser revelado a ninguém. Voltam a insistir e eu tento mais manobras evasivas, que falham. Segue uma zaragata. Hoje de manhã, mais outra com a mesma pessoa: começou ainda não eram 7 da manhã aqui no meu canto do Universo. Ah, ninguém me atura quando eu tenho fome ou sono e eu adoro o pequeno almoço e ainda nem o tinha tomado...

Há pessoas que gostam de zaragatear comigo. No início, sou muito paciente e evasiva; a certa altura, se insistem demasiado e não respondem aos meus apelos para me deixarem em paz, torno-me irascível. Detesto conflito pessoal e discutir com amigos por causa de políticos e política é muito desagradável. Eu até gosto de me dar com pessoas que têm ideias completamente opostas das minhas, porque há sempre valores que temos em comum. O que me mata o juízo é esta necessidade de a minha opinião ser exactamente a mesma que a deles. Vamos concordar em discordar. 

Pensando em coisas muito mais agradáveis, fiquei muito feliz quando abri o Instagram e a Luise Vindahl, uma dinamarquesa que vive em Estocolmo e que, juntamente com o marido, tem um blogue de culinária muito famoso, mostrou uma foto de feijão que ela tinha semeado no jardim da mãe e tinha colhido. As sementes haviam sido compradas num mercado em Portugal. "Ah, finalmente, algo que me interessa!", penso eu.





4 comentários:

  1. "O que me mata o juízo é esta necessidade de a minha opinião ser exactamente a mesma que a deles. Vamos concordar em discordar."

    Robert Aumann, Nobel da economia, não concorda contigo:
    "If two people have the same priors, and their posteriors for a given event A are common knowledge, then these posteriors must be equal. This is so even though they may base their posteriors on quite different information. In brief, people with the same priors cannot agree to disagree." -- http://www.jstor.org/stable/2958591?seq=1#page_scan_tab_contents

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  2. A chave não estará exactamente no qualificativo "If two people have the same priors"? Se todos temos "priors" diferentes, devido a conhecimento diferente, experiências muito particulares, diferentes hierarquizações de valores, etc. parece-me extremamente natural discordar ...

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    1. Depende de que priors estivermos a falar. Se estivermos a falar de conhecimento e informação diferentes, então podemos conversar até que concordemos com uma base comum. Se estivermos a falar de valores subjectivos (por exemplo, hierarquização de valores), então com certeza que é normal a discordância.

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  3. Eu tenho opinião diferente quanto à hierarquia de valores e quanto à forma como divido as coisas em causas e efeitos.

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