sexta-feira, 3 de abril de 2015

Ayyyy caramelo!

Há duas coisas importantes na gastronomia dos números: a qualidade dos números e o método de os cozinhar. O Observatório de Crises e Alternativas da Universidade de Coimbra (OCAUC) fez um estudo acerca de desemprego em Portugal. Os nossos amigos espanhóis apanharam o estudo e já dizem que o INE anda a cozinhar os números mal: estão crus. Dizem os espanhóis que quem cozinhou os números bem foi o OCAUC, que contabilizou na verdadeira taxa de desemprego os emigrantes. Presume o OCAUC que os emigrantes saíram porque não tinham emprego em Portugal, logo se estivessem em Portugal estariam desempregados. Acho um pressuposto demasiado pessimista. Eu, se estivesse em Portugal, não estaria desempregada. Podia ter um emprego mau, mas desempregada era improvável. Notem que eu sou uma craque a escrever cartas comerciais em inglês. E quando os estrangeiros lixam um dos meus amigos, quem escreve uma cartinha a esclarecer a situação e a meter a estrangeirada na ordem, sou eu.

Talvez me digam que estaria subempregada. Sei lá... Isso é uma coisa muito difícil de avaliar, até porque eu sou um bocado anormal e gosto de muitas coisas que os outros consideram inferiores. Eu acho giro arrumar a casa das outras pessoas, mas detesto arrumar a minha. Se calhar, seria empregada doméstica. Aqui há uns anos fui a Washington, DC, e fiquei no apartamento do meu amigo Ismail que me disse "Ainda me lembro daquela vez em que me limpaste a cozinha. Estás expressamente proibida de limpar esta cozinha. És minha convidada." É pá, limpar a cozinha dos outros e cozinhar para outras pessoas relaxa-me. Não há mal nenhum, é uma coisa mutuamente benéfica: eles ficam com a cozinha limpa e a barriga cheia e eu fico mais calma.

Vocês podem dizer que, se eu aí estivesse, estaria a tirar o emprego a outra pessoa. Não necessariamente. Se os emigrantes todos portugueses aí estivessem, o nível de procura agregada seria maior, logo algum crescimento e emprego seriam criados do facto de eles aí estarem. Ou seja, acho um pressuposto muito estranho presumir que todos os emigrantes estariam desempregados. Esse cenário extremo seria bom, na melhor das hipóteses, para uma análise de sensibilidade, já para o cenário base é muito irrealista. O INE pode ter os números crus, mas o OCAUC parece que os esturricou um bocado. Ainda não é desta que saberemos a verdade.

7 comentários:

  1. Desculpe lá mas acho que está enganada. A taxa de desemprego oficial chegou aos 18%. Quem mora por cá viu mais de metade dos restaurantes à volta de casa e do local de trabalho a fecharem, depois de estarem abertos décadas. Os jovens já tinham empregos precários há uma ou duas décadas, só não se falava nisso. Empregada doméstica?! Deixe-me rir! As romenas e ucranianas super-eficientes levam 2 euros à hora. É capaz de competir? Inglês toda a gente sabe, hoje em dia; somos bombardeados por uns quarenta canais de televisão americanos que muitos pagam contentes, porque vem no "pacote" da "operadora".

    Betty

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    1. Betty, podemos criticar o que quisermos a situação económica e política do país. Devemos e podemos. Mas o cálculo do desemprego feito pelo Observatório não tem pés nem cabeça. E usar aqueles números como a "cerdadeira" taxa de desemprego é pura politiquice.

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    2. Por acaso, também achei que os números tinham sido manipulados por razões políticas.

      E, realmente, há muita gente que sabe inglês. Eu vivo num país em que muita, mas muita gente fala inglês e em todos os empregos que tive, pedem-me para corrigir o inglês dos outros que cresceram a falar inglês. Há saber falar inglês e depois há saber falar e escrever inglês de forma a tratar da vida.

      Não percebo porque é que eu só poderia ganhar 2€ por hora. Se eu fosse uma boa empregada doméstica, julgo que talvez me oferecessem mais. E depois eu também gostaria de escrever um livro acerca das lides domésticas. Há muito pouca gente que sabe fazer uma cama em condições. E acho que escreveria o meu livro em inglês porque nos EUA também não sabem fazer as camas.

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    3. Os portugueses que emigraram nesta crise vão, com certeza, falar e/ou escrever inglês e/ou francês e/ou alemão. Veja-se o caso dos médicos e enfermeiros que emigram.

      Fazer camas? As tias todas de Portugal (e as desempregadas de classe média) andam a escrever livros de receitas, dicas domésticas e por aí fora. É um filão gasto. Por acaso, tal como Portugal tem como indústria o turismo e, consequentemente, há legiões de pessoas a ser formadas, entre outras coisas, em gestão hoteleira, também tenho uma boa impressão da indústria hoteleira estado-unidense.

      Betty

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  2. Passem a publicar o número de empregados!

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  3. @Betty: 2 euros por hora? Deve ser lá no seu país de origem, não? A menina crispa-se com pouco. Acho que o seu inglês foxlife'

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  4. Cont. o seu inglês foxlife deve ser perfeito para apresentar a conta aos fregueses turistas, antes ainda do trabalho feito...

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