segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

Assim é que é bom...

O Banif diz que se aguenta. Qualquer banco precisa de ter confiança para se aguentar e, ultimamente, confiança tem sido um recurso muito escasso em Portugal. O que nos vale é que, se o Banif for realmente ao ar, parece que o BE e o PS conseguem encontrar uma solução muito melhor do que a que teria sido encontrada pela PàF. Pelo menos é isso que nos dizem.

Suponho que todos podemos comprar acções do Banif com confiança: se apreciarem, faremos muito dinheiro; se forem ao ar, o governo do PS absorverá as perdas. A isto chama-se: privatização dos lucros e comunhão das perdas. O quê? Sai dos bolsos dos contribuintes? Não sai nada--isso só acontece quando o país é governado pela Direita. Com um governo de Esquerda, tudo corre bem.

Ah, não me digam que eu sou assim porque estou fora e não sofro com Portugal. Eu tenho uma propriedade em Portugal que comprei por €98.000 em 2006, quando os meus vizinhos compraram as deles por €87.500. A diferença? Eu sou emigrante, logo os portugueses acham que eu sou rica e a imobiliária arrecadou €10.500 sem me dizer nada. Eu só soube disto depois de comprar a propriedade e perguntei o preço aos vizinhos. Se eu que, sou uma pessoa com formação superior, sou enganada assim, o que dizer dos portugueses com um nível de educação inferior ao meu?

Se fosse nos EUA, que é um país moralmente decadente, como me disseram no outro dia, a imobiliária era obrigada por lei a informar-me antecipadamente de todos os custos do negócio e quem pagaria a imobiliária seria o vendedor, a não ser que houvesse acordo em contrário do comprador. Para além disso, uma imobiliária que representa o vendedor tem de informar o cliente que há um conflito de interesse -- a noção de conflito de interesse é desconhecida em Portugal -- e o normal é haver uma imobiliária para o comprador e outra para o vendedor. Em Portugal não é assim porque a superioridade moral permite confiarmos uns nos outros.

No outro dia perguntaram-me se eu queria vender a minha propriedade em Portugal e ofereceram-me €40.000. Eu estou muito feliz com os governos PS! Adoro...

5 comentários:

  1. Os problemas do BANIF não estarão mais relacionados com o mecanismo de supervisão bancária europeia do que propriamente com os governos serem PS, PSD ou PAN?
    Nos dias de hoje a confiança ou falta dela é decidida pelos critérios do BCE e pelas decisões do EUROFIN. Os ratings limitam-se a refletir estes critérios centrais.

    Idem para a desvalorização do imobiliário em Portugal, decidida a nível central na europa. Não faz muito sentido queixar-se do PS. A Rita é economista certo?

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    1. Eu acho que sim. Acho que a supervisão europeia e portuguesa está muito aquém do recomendável. Não acho que seja só o imobiliário que causa problemas à banca portuguesa. A fiabilidade dos ratings depende da supervisão; não depende dos critérios oficiais. Os critérios oficiais podem ser excelentes e os ratings de má qualidade porque os critérios não são observados.

      Eu sou economista, mas não sou bruxa. E em Portugal para além de economista, é preciso ser-se bruxo para se saber o que é verdade e o que é mentira.

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  2. Este é um excelente post, Rita. Se não fosse o teu último parágrafo! :) Não vejo mesmo ligação evidente ou não evidente entre o governo PS com 1 mês e a desvalorização da tua propriedade.

    Com o resto, de acordo, em absoluto. Custa-me mesmo aceitar a ideia de um "risco sistemético" como desculpa para meter dinheiro público em negócios privados. O termo técnico é mesmo este: mete-me nojo. Mesmo como economista, não estou nada convencido que seja uma inevitabilidade e não vejo porque é que os depositantes e accionistas, que escolhem o banco, não possam arcar com a totalidade das perdas. Para mim, a existência de um banco público devia ser suficiente para garantir a "justiça" do sistema: quem quer risco, aceita o risco às suas expensas; quem não quer risco (ou quer apenas o risco de o estado entrar em incumprimento), mete o dinheiro na caixa.

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    1. O último parágrafo é uma provocação. Bem, é mais um teste de partidarite--ver quem é que consegue ultrapassar a provocação política e olhar para os factos objectivamente. Repara que a NOS tentou lixar-me num governo PSD/CDS e eu não fiquei particularmente feliz.

      No entanto, discordo contigo nos pontos económicos. O governo PS ao ter uma governação que incentivava as obras pública encareceu o custo de construção e permitiu que o mercado imobiliário apreciasse. E não foi essa a única falha, pois Portugal teve um efeito "crowding out" que afectou o sector produtivo privado. Os portugueses também não têm grandes oportunidades de investimento e acabam por investir demasiado no imobiliário.

      No meu caso, é indiferente a valorização actual porque eu não tencionava vender. Interessava-me ter um sítio em Portugal onde eu pudesse ter a opção de viver depois de me reformar. Para além disso, acho que tenho o dever de meter dinheiro em Portugal, pois Portugal investiu na minha saúde e educação. E finalmente, o dinheiro iria ser gasto de qualquer forma: se não fosse aí, era em sacos Prada ou férias em Turks and Caicos...

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  3. "(...)a noção de conflito de interesse é desconhecida em Portugal."

    Todo o artigo malha bem em diversos cravos, mas este é fulcral.

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