quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

Sexo e produtividade no trabalho

É um facto que o mercado de trabalho paga pior às mulheres do que aos homens. Dados da OCDE indicam que, em Portugal e em média, uma mulher ganha menos 16% do que um homem. Mas este resultado não tem em conta as diferenças de qualificações. Um trabalho recente de David Card (Universidade de Berkeley), Ana Rute Cardoso (Instituto de Análise Económica, Barcelona) e Patrick Kline (Universidade de Berkeley) estima para Portugal que uma mulher que tenha as mesmas qualificações académicas, a mesma experiência, a mesma idade e que trabalha na mesma região que um homem ganha menos 23%. Mais ponto percentual, menos ponto percentual, isto é um facto estilizado. São já vários os estudos que o demonstram. --- Hoje, no Observador

11 comentários:

  1. Se bem percebo, a ideia é forçar que a "incerteza" sobre a baixa de produtividade associada a ter filhos recaia de forma igual em ambos os sexos de forma a acabar com a discriminação em termos de sexos no preço do trabalho.

    Mesmo considerando que em Portugal essa componente de incerteza explicará parte da discriminação no salário (não tenho a certeza que seja a parte maioritária), não vejo que a proposta resolva por si o problema:

    a) Assumindo que existe "diminuição de produtividade" por ter filhos jovens, ela não se limita à ausência do trabalho durante o subsidio de aleitação. A proposta de forçar uma partilha equilibrada não resolve os problemas (potencialmente mais relevantes para a produtividade) de faltar ao trabalho por o filho estar doente, precisar de o levar à escola, etc. Se as tarefas de cuidar dos filhos não forem 100% equilibradas pelos pais (e na prática os estudos mostram que as mulheres ainda cuidam muito mais dos filhos do que os homens) continuará a haver falta de produtividade.

    b) Existem muitas familias mono-parentais. A proposta descriminará os filhos dessas familias (ao diminuir o tempo de estadia com o progenitor - de que potencialmente ainda precisará mais) ou descrimina a empresa (ao forçar um "custo imprevisivel" de mono-parentalidade - e no limite pode fazer sentido aos pais indicarem-se como separados para minimizarem os custos).

    Finalmente uma questão séria: o que se está a propor é na prática alargar aos homens o "imposto" que já existe sobre os sem descendência (que pagam o custo da potencialidade de que a reprodução os torne menos produtivos). Não seria mais correto pensar que a solução passaria por medir mais adequadamente a produtividade e penalizar a utilização deste tipo de heurísticas na definição de salários?

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    1. Porque é que há de ter que discriminar os filhos da famílias mono-parentais (excluindo os casos de pai incógnito)?

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    2. Disse que descriminará ou os filhos (que terão direito a metade do tempo acompanhada do progenitor que os filhos de familias biparentais teriam) ou as empresas (que terão de "da" o dobro do tempo a esse progenitor do que teriam a um de uma familia biparental). Obviamente, parece-me mais provável o segundo caso, mas pela logica do LAC isso significará que as empresas terão um motivo para discriminar mais esses casos na altura da contratação...

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    3. Mas o meu ponto é mesmo porque é que (excluindo os filhos de pai incógnito e - lembrei-me entretanto - daqueles que um dos pais faleceu antes do nascimento) não hão de, mesmo nas famílias monoparentais, ter os dois pais licença de paternidade?

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  2. Com este título eu pensava que ias falar de sexo entre empregados no mesmo local de trabalho. Mas gostei muito do que escreveste e concordo contigo.

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  3. Porque é que há de ter que discriminar os filhos da famílias mono-parentais (excluindo os casos de pai incógnito)?

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  4. http://i2.wp.com/leftycartoons.com/wp-content/uploads/sites/23/2015/05/maternity_leave_21.png

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  5. Outra alternativa poderia ser a Segurança Social pagar um subsidio não apenas aos trabalhadores em licença de m/paternidade, mas também aos empregadores, para os compensar do incómodo de terem que contratar e treinar uma pessoa nova durante esses meses (no caso dos trabalhadores independentes, iria tudo para eles). Se não existisse nenhum custo líquido para o empregador com a licença de m/paternidade, não haveria razão para evitarem contratar trabalhadores com alta probabilidade de gozarem essa licença.

    Admito que há dois possiveis problemas com essa ideia:

    a) pode ser difícil de vender politicamente, sobretudo em épocas de austeridade (dar dinheiro a empresas?!)

    b) poderia levar a esquemas fraudulentos de contratar grávidas à beira do parto só para receber o subsídio (embora imagine que já seja possivel esquemas desses atualmente)

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  6. Outra coisa que me ocorre é se a generalização (seja por meios legais ou culturais) do gozo da licença de paternidade pelos pais poderia ter efeitos, não apenas na escolha entre contratar homens e mulheres, mas até na escolha entre contratar o homem A e o homem B; o meu raciocínio - penso que há alguma evidência que certas características ("carisma" pessoal, sociabilidade, talvez até altura...), na margem, dão vantagem em contratações e promoções (mesmo para cargos em que essas características nem têm grande utilidade direta); mas e se essas características estarem também associadas a uma maior probabilidade de vir a ter filhos (ou muitos filhos)? Será que com o tempo emergiria o hábito de na dúvida, contratar o candidato cujos modos e aparência indicassem uma baixa probabilidade de vir a casar e ter filhos (ou de trocar a mulher atual por uma mais nova e ter filhos - e licenças - adicionais por essa via)?

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