sexta-feira, 1 de maio de 2015

Estou à venda, comprem-me!

Caros Políticos de Portugal,

Decidi que, pela minha língua-mãe, vale a pena prostituir-me e, como tal, o meu voto está à venda. Se querem o meu voto, corrijam a bela merda que fizeram ao instituir o Acordo Ortográfico de 1990 (AO90).

Pergunto-me porque razão não há vontade política para corrigir uma coisa que tão obviamente está errada e não funciona, uma coisa que criou barreiras entre os povos que usam o português, uma coisa que introduziu incerteza e aumentou o ruído de se comunicar em português. Recordam-se do ruído, certamente? Nós aprendemos acerca do ruído nas aulas de português, quando éramos pequeninos: o ruído é tudo aquilo que impede que a mensagem seja compreendida. Foi-nos ensinado que o ruído era uma coisa má para a língua. Caros Políticos, o AO90 é ruído e é um ruído institucionalizado por vós. Há aqui uma grande contradição: no ensino público ensinam-nos a minimizar o ruído, mas na legislação tolera-se e amplifica-se o ruído.

Expliquem-nos o vosso segredo para ver se nós compreendemos como é que a vossa cabeça funciona. Como é que vocês, Políticos de Portugal, encontram vontade política para fazer maldades, como aumentar impostos, portagens, insultar portugueses, espiar, mas não encontram vontade política para fazer algo que agradaria à maioria dos portugueses? Expliquem-nos a lógica da vossa loucura. Depois, arranjem coragem, e comprem o meu voto. Eu estou à venda e calha bem porque as eleições estão à porta.

Muito obrigada!

RIC

P.S. A inspiração para este post veio de um email do NAJ, que me enviou esta peça de opinião, com o texto "A luta continua" no corpo do email. Senti-me na obrigação de contribuir para a luta.

14 comentários:

  1. Do ponto de vista prático sinto me muito mais seguro a escrever com o novo acordo. Ao permitir as duas grafias em muitas das palavras tenho muita mais confiança no que estou a escrever. Acho que se o acordo for discutido seriamente se verá que há muitos mais apoiantes deste acordo do que os que se infere pela leitura dos média portugueses. Penso que o AO efetivamente tem muita má imprensa. Precisava de um spinning à americana...

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    1. "Ao permitir as duas grafias em muitas das palavras tenho muita mais confiança no que estou a escrever."

      Esse é um erro típico. Na verdade, em Portugal, escrever fato em vez de facto, contato em vez de contacto é um erro. É essa confiança que está na origem de imensos erros que por aí se vêem.

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    2. "Penso que o AO efetivamente tem muita má imprensa."

      Porque diz isso? Que eu me lembre, dos grandes jornais, apenas o Público não adoptou o AO. Todos os outros adoptaram. Bem como as televisões.
      É muito improvável que seja um problema de má imprensa. É muito mais provável que seja um problema mesmo com o acordo e com a sua aplicação errada.

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    3. "Na verdade, em Portugal, escrever fato em vez de facto, contato em vez de contacto é um erro."
      tem a certeza disto? Com que fundamento? Eu pensava que de acordo com o novo AO escrever "contato" seria correto.

      Digo que tem má imprensa pela quantidade de crónicas, artigos, opiniões que li nos media contra o AO face às que as defendem.

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    4. "tem a certeza disto? Com que fundamento? Eu pensava que de acordo com o novo AO escrever "contato" seria correto."

      Eu sei que pensava isso. Não há muito para fundamentar, na verdade. As consoantes caem quando são mudas. O 'c' de 'contacto', em Portugal, português europeu, não é mudo, portanto não cai.
      Neste site, http://www.portaldalinguaportuguesa.org/novoacordo.php?action=novoacordo&act=list , tem uma lista das palavras alteradas em Portugal com o novo AO1990. Como verá, 'contacto' não aparece na lista.

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    5. "Digo que tem má imprensa pela quantidade de crónicas, artigos, opiniões que li nos media contra o AO face às que as defendem."

      Isso não é má imprensa. Isso é o resultado das pessoas que são contra o AO serem mais activas. É normal que assim seja, afinal de contas os principais argumentos de quem é a favor do AO é que mudam poucas palavras (menos de 2%) e que se não houvesse evolução ainda escreveríamos "pharmácia", como se houvesse algum problema em escrevermos "pharmácia". Ou seja, quem é a favor do AO1990 geralmente limita-se a esperar que o mesmo se torne um facto consumado.

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  2. As duas grafias podem significar falta de rigor, para já não dizer facilitismo. Se eu escrever: Vou retratar-me, que significa? Tirar o retrato a mim próprio ou corrigir-me, desdizer-me? Ambos os verbos se pronunciam da mesma maneira. Simplesmente, para "corrigir-me ou desdizer-me" escrevo retractar-me! Alto e para o baile ou alto e pára o baile. Dois significados opostos... Escolha o que melhor lhe servir!

    Cristóvão de Aguiar

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  3. Na verdade, em português o c de contacto lê-se, não é uma consoante muda. Já no caso de facto, e por subserviência aos Brasileiros, temos as duas alternativas: facto e fato...

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    1. Não, no caso de 'facto' o 'c' lê-se em português europeu, portanto em Portugal continua a escrever-se facto. Fato continua a ser roupa.
      Tal como no Brasil se diz contato e cá diz-se contacto.
      De qualquer forma, nada tenho contra que muitos escrevam fato em vez de facto (tal como contato e pato). São a melhor publicidade contra o acordo ortográfico.

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  4. Esqueci-me de assinar o comentário anterior. Já agora explico-me melhor acerca de fato e facto. Como disse, em Português de Portugal lê-se a consoante c, que, neste caso não é muda. Como no Português do Brasil não há fato com o nosso significado (lá diz-se terno: calças, casaco e colete...), os linguistas encartados deram.nos a alternativa de escrever como no Brasil. Já em recepção, p pronunciado no Brasil e mudo em Portugal, não existe tal alternativa. Assim em Portugal temos, pelo AO, receção (horrível, parece uma galinha depenada), mas em compensação temos Egito e Egípcio... Para um AO que pretendia unificar a ortografia, não está nada mal... Nem os próprios linguistas seguidores do AO são unânimes. Há dois livrinhos publicados pela Porto Editora sobre o AO em que num deles se diz que se deve escrever cor-de-rosa e no outro cor de rosa... Por que não fazem como os Ingleses que nem têm o atrevimento de mexer na sua própria língua?

    Cristóvão de Aguiar

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    1. Não concordo. A dupla grafia de facto é aceite para se escrever de uma forma em Portugal e de outra no Brasil.
      Ver, por exemplo, neste link:
      http://www.portoeditora.pt/espacolinguaportuguesa/duvidas-da-lingua-portuguesa/detalhe-duvidas-lp/ver/com-o-acordo-ortografico-escreve-se-facto-ou-fato-?id=22722&hc_location=ufi

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  5. Calma aí, Luís! Só em "facto" poderá haver alternativa. De resto, alternativa subserviente porque no Brasil o fato só existe como facto. Nas outras, contacto, pacto, tem de se escrever com "c".
    Cristóvão de Aguiar

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    1. Em relação a "pacto", sem dúvida.
      Em relação a contacto e facto, discordamos. A situação é a similar. No Brasil escreve-se sem 'c' e em Portugal com 'c'. Ou seja, dupla grafia, num país usa-se uma, no outro usa-se a outra.
      No link anterior, deixe-te a ligação para facto/fato. Agora deixo-te aligação para contacto/contato:
      http://www.portoeditora.pt/espacolinguaportuguesa/duvidas-da-lingua-portuguesa/detalhe-duvidas-lp/ver/contacto-ou-contato-?id=4428

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