sexta-feira, 29 de maio de 2015

Também tu, análise de dados!

Anda tudo muito alarmado com a queda do PIB americano. Dizem-me que a economia americana contraiu 0.7% o que é, no mínimo muito chato para mim, que aqui vivo. O que vale é que o meu salário foi aumentado 5% no início do ano, antes do preço do petróleo e da gasolina darem um grande mergulho. É bom ser eu, meus amigos!

Mas vamos falar a sério, porque quando eu sou brincalhona, vocês não percebem o que eu digo. Vamos lá a um Q&A, para ver se nos entendemos:

  • Então o que é o PIB?
    O PIB, de uma forma simplística, é o valor de tudo o que é produzido na economia. Se nós multiplicarmos as quantidades das coisas pelos respectivos preços e adicionarmos tudo, encontramos o PIB (é mais complicado do que isto, mas é porque nós economistas temos de justificar ganhar bom dinheiro).
  • E como é que as coisas são feitas?
    Tudo é feito com energia.
  • Qual é a energia mais utilizada?
    Parece que é o petróleo...
  • E o que é que aconteceu ao petróleo no último trimestre?
    O preço do petróleo baixou.
  • O que é que isso faz à valorização de tudo o que é produzido?
    Reduziu os custos e gerou desinflação.
  • Neste contexto, por que razão o PIB americano diminuir é surpreendente ou é um mau augúrio?
    Não é.

Mesmo usando preços reais, é muito difícil avaliar o efeito da descida do preço do petróleo na economia. Se eu sei que os custos de produção vão diminuir e os preços também, que incentivo tenho eu para comprar coisas quando eu sei que o que for produzido no mês que vem será muito mais barato?

Conclusão: vão rever a crítica de Robert Lucas. Quando há mudanças estruturais, confiar apenas em dados históricos para retirar conclusões, leva a que se conclua merda.

9 comentários:

  1. Doutora Rita, se calhar, antes de citar o nosso queridíssimo Bob, convinha rever como funcionam aqueles diagramas em tesoura de oferta e procura.

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    1. Acho que não percebeu o que eu disse. Faça um teste de Chow e para a próxima assine com o seu nome. Também convinha que visse que a poupança americana aumentou no primeiro trimestre para níveis de 2012, o que indica que os consumidores adiaram compras. Ou seja, as expectativas de deflação afectaram os outros factores--aqueles que costumam ficar constantes. Ou seja, a mudança estrutural de comportamento afectou a própria curva.

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  2. Eu ainda nem consigo acreditar...que calinada...

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    1. Pois, eu também não acredito que você possa fazer comentários deste tipo. Mas é mais uma ilustração da lei dos números grandes.

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  3. Rita, é difícil de acreditar que uma queda do preço internacional do petróleo tenha efeitos negativos no PIB americano. Talvez no Texas e no Alasca, onde se extrai muito petróleo, mas não no global. Para uma Economia que é imporadora líquida de petróleo, como os EUA, a queda do preço do petróleo é em tudo semelhante a um choque positivo na produtividade. Claro que é possível imaginar reacções inter-temporais, tipo, adiamento do consumo que possam mitigar os efeitos efeitos positivos --- mesmo isso tenho algumas dúvidas, para ser sincero. Mas uma coisa é mitigar os efeitos, outra coisa é revertê-los completamente.

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    1. Luís, eu não disse que tinha efeitos negativos permanentes, eu disse que não é de surpreender que os dados do primeiro trimestre sejam estanhos porque as pessoas não estavam à espera de uma queda tão brusca. O que eu penso é que se está a construir uma tendência de um ponto. Violou-se o pressuposto "ceteris paribus" e analisam-se os dados como se não tivesse acontecido nada. Ainda por cima, os EUA tiveram muito mau tempo outra vez. Esta já é a terceira vez que o PIB dos EUA tem uma brusca descida no primeiro trimestre e depois recupera. Eu acho que se retiram demasiadas ilações deste número sem que haja bom suporte teórico ou prático.

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    2. Concordo totalmente que não se podem tirar ilações nenhumas a partir de um dado trimestral.

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  4. Nos EUA, o 1º trimestre costuma ser bem pior do que os seguintes, e por isso é difícil extrair grandes conclusões. Supostamente a correcção sazonal impede padrões destes, mas parece que essa correcção não é grande coisa: http://www.frbsf.org/economic-research/publications/economic-letter/2015/may/weak-first-quarter-gdp-residual-seasonality-adjustment/

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    1. Sim, mas mesmo assim, o extremo mau tempo e a queda brusca dos preços do petróleo deste trimestre não são completamente capturados pelo factor sazonalidade. No mês que vem vão apresentar uma revisão do número do primeiro trimestre, logo vamos ver o que irá demonstrar.

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