segunda-feira, 17 de outubro de 2016

Um amor chato...

Ou seria paixão? Hoje, à hora do almoço, cheguei à encruzilhada de Alder e Evergreen, vinda do norte em Alder. Quis virar à direita para a Evergreen e estavam dois carros parados de cada lado da rua, na Evergreen: o carro à minha esquerda, quando virei, tinha a porta do condutor escancarada a bloquear a passagem. Imediatamente, comecei a dizer asneiras na minha cabeça: "What the fuck? Are these people idiots? What on earth are they doing here?"

Estavam a beijar-se! Um rapaz debruçava-se sobre quem conduzia o carro preto e beijava a pessoa. Buzinei e puxaram a porta para me dar passagem. De todos os sítios onde parar, pararam numa encruzilhada. Ou o amor é fodido, como diria o Miguel Esteves Cardoso, ou este pessoal é completamente estúpido!

Cheguei a casa, saí do carro ainda chateada, os meus cães ouviram-me e já ladravam de contentes, mas eu fui até ao fim da minha rua, o que me levou dois minutos, para ver se estes amantes ainda lá estavam e sim, estavam. Tirei a foto dos carros e depois vi que se afastavam. Tanto cul-de-sac disponível e decidem parar numa encruzilhada, praticamente. Não auguro um futuro auspicioso para estes dois e para a sua prole...


Bem, para não dizerem que eu sou uma selvagem insensível (bem, estou bem disposta, se vos apetecer, podem dizer, porque hoje sou tudo: inculta, erudita, egocêntrica feminista, sou tudo o que vocês quiserem, como aquela canção da Meredith Brooks "Bitch"), aqui fica um poema do Nuno Júdice, que o blogue Poesia publicou hoje:

nuno júdice / o jogo


Eu, sabendo que te amo
e como as coisas do amor são difíceis,
preparo em silêncio a mesa
do jogo, estendo as peças
sobre o tabuleiro, disponho os lugares
necessários para que tudo
comece: as cadeiras
uma em frente da outra, embora saiba
que as mãos não se podem tocar,
e que para além das dificuldades,
hesitações, recuos
ou avanços possíveis, só os olhos
transportam, talvez, uma hipótese
de entendimento. É então que chegas,
e como se um vento do norte
entrasse por uma janela aberta,
o jogo inteiro voa pelos ares,
o frio enche-te os olhos de lágrimas,
e empurras-me para dentro, onde
o fogo consome o que resta
do nosso quebra-cabeças.



nuno júdice
a fonte da vida
quetzal
1997

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