Quando eu andava na faculdade, por cortesia, os meus pais costumavam tomar conta de dois irmãos, filhos de uns vizinhos nossos. A mãe tinha problemas com depressão e quando ficou grávida do segundo filho frequentemente dizia que a criança não era desejada e teria sido preferível ela ter tido um aborto. Naquela altura não era permitido. Era muito triste ouvi-la falar. O menino mais velho já tinha sete ou oito anos e era muito indisciplinado: não que fizesse traquinices, mas quando decidia que queria uma coisa, pedia, e começava a chorar e a gritar para lha darem. Os adultos normalmente aquiesciam a criança só para a calar.
Recusei-me a alimentar o ciclo vicioso. Durante várias semanas ele fez um berreiro ao meu lado; os meus pais ralhavam comigo e diziam para eu o calar e eu ignorava e dizia ao menino o que eu esperava dele: pedia com voz calma, dizia "se faz favor" e "obrigado" e eu consideraria os seus pedidos. Sem essas três coisas, eu recusava-o sempre. Eventualmente, tornou-se numa criança agradável ao meu lado, mas continuava a ser indisciplinado perto dos outros adultos.
É lógico que para mim era fácil manter a calma porque eu não tinha grandes responsabilidades para além dos meus afazeres escolares; mas se uma situação familiar é difícil, não é com gritos e berraria que ela se irá tornar mais fácil. Infelizmente, muitos adultos não percebem isto ou estão numa situação mental muito difícil e não se conseguem ajudar a si próprios, nem aos seus filhos.
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