terça-feira, 1 de dezembro de 2015

Estou revoltada!

Andei tantos anos a fazer exames para ter uma educação e agora dizem-me que foi tudo mentira. Os exames que me andavam a fazer eram apenas para me assustar, não tinham benefício nenhum. Que crueldade! E aquela felicidade que eu sentia em ir para a escola era tudo uma ilusão; não devia tê-la sentido por causa dos exames -- os malvados exames, senhores!!!

Porque é que eu me sujeitei a tantos anos de escola? Não havia razão nenhuma. Devia ter feito apenas a escolaridade mínima e seria feliz para o resto da minha vida. Tantos anos sem exames que eu desperdicei!

Não sei como é que irei sobreviver a ter um doutoramento e um salário de seis dígitos depois de saber isto. Onde é que eu me dirijo para processar o estado português?

9 comentários:

  1. A Rita fez exames no 4º ano de escolaridade? Quando frequentei este nível de ensino já estes tinham sido abolidos. Na minha opinião faz sentido a existência de exames de acesso ao Ensino Superior para minimizar discrepancias de notas entre diferentes estabelecimentos de ensino e dessa forma não se torna necessária a realização de provas de ingresso por parte de diferentes faculdades que levaria a que os alunos muitas vezes fizessem essas provas para mais do que uma faculdade. Com a quantidade de disciplinas que têm, a quantidade de testes que fazem não vejo a mais valia de um exame a realizar no final do ano. Minto, a única mais valia seria até mais do ponto de vista dos professores que seria a de garantir que eles cumprissem o programa. Eu fiz centenas de testes e exames ao longo dos anos, a maior parte dos quais eram autenticos exercicios de memorização, não me parece que este seja o método mais adequado para se avaliar alguém, o objetivo devia passar por assegurar que o estudante compreendeu a matéria e isso podia ser feito com um teste de escolha múltipla que obriga a um estudo, mas sem se chegar ao ponto de ter de decorar tópico por tópico para ter uma ótima classificação. A meu ver isto não é nada, ao fim de dois dias já tinha esquecido quase tudo enquanto que um estudo da mesma matéria, mas sem essa preocupação de decorar levaria a que mais conceitos ficassem retidos nem que fossem de forma superficial. Entre ficar um pouco e não ficar nada, julgo que é preferível ficar um pouco. O exame vem também contrariar a lógica da avaliação contínua, não faz muito sentido alguém frequentar 3 anos de escolaridade (10º ao 12º) e no fim isso valer a mesma coisa que um exame de 150 minutos, aliás o exame existe para compensar uma falha do sistema, um horário comum e testes comuns a todas as disciplinas no país e este problema dos exames de acesso ao Ensino Superior nem se colocaria. Deixem as crianças brincarem no tempo que é de brincar, e não me parece que fazer exames no 4º ano seja estar a preparar a criança para o ambiente de competição quando chegar a adulto, tudo tem um tempo e antecipar o tempo das coisas, na maior parte dos casos não gera bons resultados.

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  2. Eu não sei (nem fui ver - é de manhã e tenho que fazer) se os actuais/ex exames do 4º ano são apenas para efeitos diagnóstico do sistema ("prova de aferição", i.e. os resultados "não contam") ou se influem a passagem de ano. Neste ponto específico, sou algo ambivalente e não me chocava que apenas fossem para efeito de aferição. No entanto, parecem-me francamente importantes.

    O Alberto Silva (comentário anterior) está redondamente errado: quem vê ou tem crianças nesta idade sabe que o "ambiente de competição" já existe: seja em jogos (ou vai-se proibir jogos à bola onde uma equipa possa ganhar?), troca de cromos ou mesmo nas picardias verbais. Mais, os miúdos, como parte da "avaliação contínua" já são... avaliados. Têm certos e errados, suficientes e insuficientes. O exame não deveria ser nada de extraordinário, a menos que se faça dele um bicho-papão.

    As provas de aferição são muito importantes porque permitem detectar desequílibrios no sistema (escolas com resultados manifestamente desviados da média - quer para cima, quer para baixo) ou deficiências de aprendizagem correlacionadas com factores exogéneos à escola (tipo de família, estatudo sócio-económico, distância ao estabelecimento de ensino). Isto permitiria (trabalho que infelizmente não tem sido feito) dirigir recursos para onde estes são mais precisos e/ou eficazes, em vez de se continuar uma política "one-size-fits-all" e de aplicação às cegas.

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    1. Os exames que foram abolidos valiam 30% na nota final. Concordo com o Carlos Duarte, Os exames podiam ter ficado apenas como provas de aferição do sistema, para detectar as tais falhas e corrigi-las. Mas não me choca que deixem de valer para a nota final. Acho um erro abolir pura e simplesmente as provas, sem discussão pública, sem um balanço dos resultados do que existia. O novo ministro da educação não foi tido nem achado, como sublinhava o LAC algures. Acho lamentável a forma como tudo isto foi feito.

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  3. Estas crianças daqui a 9 anos votam bloco, as meninas do bloco não dão ponto sem nó.

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  4. Tinha lido o apontamento e os comentários e concluído que não tinha nada a acrescentar: para mim a decisão de voltar à abolição dos exames é a opção pelo caminho mais curto para continuar a atrasar o conhecimento dos jovens portugueses daquele que é seguido pelos jovens dos países com quem têm de continuar a competir no futuro. Com os chineses, p.e.

    Mas depois li isto - Así es como Einstein educó a su hijo - aqui

    http://elpais.com/elpais/2015/11/27/buenavida/1448617645_282674.html

    e pareceu-me interessante submete-lo à vossa apreciação.

    Note-se que a descendência de Einstein não parece confirmar bons resultados da intenção do pai.
    Do grande cientista, dizia o seu filho Hans Albert, “"Provavelmente o único projeto do qual ele desistiu fui eu. Tentou dar-me conselhos, mas logo descobriu que eu era cabeça-dura demais e que estava apenas a peder tempo comigo."

    Teve mais dois filhos: Lieserl, que morreu com um ano de idade, e
    Eduard sofria do esquizofrenia.




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    1. Acho que a maioria das ideias sobre educação do Einstein são óptimas para educar génios. Tenho dúvidas que sejam eficazes para pessoas médias, como somos quase todos.

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    2. Pegando no comentário do JCA, suspeito que um dos problemas das teorias da educação é que as pessoas que gostam de aprender e de estudar estão de certeza sobre-representadas entre as pessoas que gostam de elaborar teorias (seja sobre educação, sobre a origem dos ciclos económicos ou sobre as implicações da constância da velocidade da luz), pelo que talvez tendam a elaborar essas teorias assumindo que o individuo típico é como eles.

      Já agora, pegando no Einstein e divagando um pouco (ou bastante), esses dois grupos ("pessoas que gostam de aprender e estudar" e "pessoas que elaboram teorias"), além de um grande intersecção entre si), se calhar também têm alguma intersecção com o grupo "parentes próximos de pessoas com esquizofrenia" (penso que há um ou outro estudo que apontam para aí), mas isto já é entrar em terreno muito movediço.

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  5. Uma coisa que suspeito é que grande parte (talvez a maior parte?) das pessoas que se pronunciam sobre a questão, seja a favor ou contra, não tiveram exames na escola primária (eu pelo menos não tive); reconheço que talvez esteja a cair na falácia do ad hominen, mas ainda não li ou ouvi nenhum dos defensores dos exames que não os tiveram na primária dizerem abertamente que se consideram o produto de um sistema de ensino facilitista.

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  6. Julgo que quando eu fiz a quarta classe havia uma prova qualquer, não se chamava exame. Acima de tudo, é irresponsável equacionar felicidade com ausência de exames. Até porque os filhos dos ricos são sujeitados a muitos exames voluntariamente.

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