Excelentíssima Senhora Dona Baronesa, permiti-me.
Dai a este sofredor da Vossa atenção o refrigério. Não ouso dizer que não vos arrependereis, pequeno e débil que sou. Mas fazei deste Vosso sacrifício aquela caridade que é para vós diária. Saiba Vossa Excelência, Senhora Dona Baronesa, que são vossos cabelos algas, Vossos lábios não direi um botão de rosa, já está estafada esta imagem. Imagens assim, enterremo-las. Lancemo-las ao arqueológico registo. Esqueçamo-las. Até que, milénios passados, a nós regressem, descobertas por algum, ia dizer vate mas também esta palavra merece a cova. Talvez porque não passaram os milénios necessários desde que foi pela última vez usada. Li recentemente um volume onde, mas afasto-me do que me traz aqui, testo a Vossa paciência, Senhora Dona Baronesa, musa minha. Está do mesmo modo interdita esta penúltima. São Vossos lábios aspargos, Vosso queixo um cajueiro, ervilhas Vosso nariz. E os Vossos olhos, ó deuses. Como a tamareira a cujo tronco se agarram símios e rapazes de alpercatas frágeis. A cidreira do Vosso colo em vez de acalmar vulcaniza, e as cinzas do que foram hortas cobertas de lava tingem as Vossas faces. As vossas orelhas espantam, são como o agrião ou o alho. Os Vossos braços têm a cor da alcachofra e a maciez da jabuticaba. A maravilha que são vossas mãos, não alvas mas tintas como ameixas. O joio e o trigo são sinais dos Vossos ombros, selos das Vossas coxas os pepinos. Que urtigas nos encantam em Vossos seios, que repolhos nos lembram os Vossos pés. Que paz de de plátano Vosso semblante. Vossos joelhos que limas. Mudos nos tornam Vossas nádegas de rúcula e surdos o eucalipto que são Vossas costas. A barriga da Vossa perna é um sorgo, um tomateiro, uma hera. Perdoai-me ser quem sou, Senhora Minha. Mau poeta, botânico pior ainda.
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