53. Não quero saber.
Flor, pois que assim se chamava quem aquela disse, deu deste modo por terminada a discussão. Bateu em retirada, aventaram amadores da ars bellum. Deu de frosques, os mais prosaicos. Submarino ao fundo, os navais. E que tal simplesmente isto, mudou de vida, não é assim tão difícil de perceber, até parece que da discussão nasce a luz. Contam-se pelos dedos de uma mão aquelas de que, ou até não há nenhuma. A vitória está do lado do exército mais forte, prosseguem os amadores da ars bellum. Os mais prosaicos já pensam noutra coisa, e os navais fazem brilhar os botões das fardas de almirante pensando eis a luz. As batalhas são lama e sangue, não há lugar para botões brilhantes nem mesmo nas batalhas navais, a pólvora dos canhões faz tudo preto, mais uma vez os amadores da ars bellum, que não desistem. Os mais prosaicos já passaram de pensar noutra coisa para fazê-la, foram ver passar comboios, levantar vôo aviões, arrancar da linha de partida cavaleiros. Os navais absortos nos botões dourados, nas franjas amarelas das dragonas, nas fitas das medalhas nada dizem, nada fazem, é esta a natureza de estar absorto. São cavalos esventrados e capacetes por terra, descrevem da ars bellum os amadores, se há coisa que se descreve bem é a cena de uma batalha, é ver a de Borodino como foi, centenas de milhar de almas de um lado, centenas de milhar de cidadãos do outro, e abundância de cavalos pelo meio, só que não é Tolstoi quem quer, destino cruel. Os mais prosaicos guardam as escovas de dentes e esperam que não se atrase o autocarro, o cheque é aos vinte de cada mês e a campa ainda vem longe, vale lá a pena pensar nisso. Sendo a natureza de estar absorto aquilo que é, não há quem ou o quê que perturbe os navais absortos nas fardas dos almirantes. Só uma coisa se atravessa lentamente entre eles e os botões dourados, e essa coisa é a névoa onde desaparecem navios e de onde saem de vez em quando, mas só de vez em quando, holandeses voadores.
Sem comentários:
Enviar um comentário
Não são permitidos comentários anónimos.