domingo, 2 de outubro de 2016

A Lição Espanhola e o Aviso ao PS

Após as eleições de dezembro último, os prognósticos sobre Espanha dividiram-se. Uns, como eu, acharam que o PSOE iria procurar uma gerigonça que evitasse o regresso de Rajoy. Apesar das diferenças óbvias, havia já a experiência de coligações com o Podemos em Madrid, Valência e outras cidades e comunidades autónomas. O PSOE governou a Catalunha com a ERC durante muitos anos e fez parte de inúmeras coligações com o PNV no País Basco. E os comunistas da IU sempre viabilizaram os governos de Zapatero. Portanto, parecia natural que o PSOE procurasse uma solução por aí. Do outro lado, defendia-se que o PSOE, sendo um partido responsável (por oposição ao PS), encontraria uma fórmula para viabilizar Rajoy. Para mais, uma parte substancial do PSOE (que governa na Andaluzia, etc.) nunca permitiria aventuras que colocassem em causa a unidade de Espanha. Daí que nunca haveria uma gerigonça em Espanha.

Mas o PSOE, sim, procurou uma gerigonça. Tudo fez para a encontrar. O seu (agora ex) líder sujeitou-se duas vezes a um voto de investidura em março. Quem cilindrou a gerigonça foi o Podemos, e não o PSOE. Não houve gerigonça porque o Podemos não deixou. E é simples perceber porquê. Consumado o takeover dos comunistas (impensável em Portugal o BE e a CDU coligarem-se eleitoralmente), o Podemos decidiu que a prioridade era acabar com o PSOE primeiro e, só depois, com Rajoy. Nessa lógica, o Podemos simplesmente matou a gerigonça antes dela começar. O Podemos apostou no sorpasso, e deixou o PSOE sem gerigonça.

Tivemos assim novas eleições em junho. Novamente dois prognósticos diferentes. Aqueles, como eu, que insistiram em que o bloqueio continuava. E aqueles que falavam de uma mudança estrutural. O avanço eleitoral do PP (à custa do Cs) e o fracasso do sorpasso deixavam o PSOE obrigado a viabilizar Rajoy. Como sabemos o PSOE inviabilizou a investidura de Rajoy duas vezes.

E assim chegámos às eleições galegas e bascas de setembro. Agora sim o sorpasso aconteceu. Na Galiza, onde o PSOE governou entre 2005 e 2009, passou a terceiro partido. No País Basco, onde o PSOE governou entre 2009 e 2012, passou a quarto partido. E ao resto assistimos esta semana. O PSOE arranjará agora uma qualquer liderança interina para viabilizar Rajoy (provavelmente com a abstenção de um punhado de deputados) e depois terá novo líder. Novamente dividem-se os prognósticos. Aqueles, como eu, que falam da implosão do PSOE e reconhecem que o Podemos ocupará o espaço de principal partido da esquerda a breve trecho. Outros acham que o PSOE será reconhecido como um partido responsável e crescerá eleitoralmente à custa do Podemos depois de viabilizar Rajoy.

Penso sinceramente que o PSOE se condenou ao mesmo destino que o PASOK: a irrelevância politica. Mas isso veremos a seu tempo. O que sim fica é um aviso ao PS: quando a esquerda radical acredita que pode substituir o centro-esquerda moderado, não há gerigonça possível, mesmo à custa de aturar a direita por mais uns tempos. Na Grécia. Em Espanha. Por mim, não voltarei a subestimar essa mensagem.

35 comentários:

  1. Caro Nuno Garoupa, é importante distinguir o PSOE como um todo nas suas partes que, contrariamente ao PS em Portugal, não ficam caladas. Por um lado os históricos, os anteriores líderes excepto Zapatero que foi ostensivamente atirado para o lixo. Destes, todos, Felipe Gonzalez, Joaquín Almunía e Alfredo Rubalcaba, eram e são partidários de o PSOE viabilizar um governo do PP. Por outro as bases estavam divididas entre aprofundar um acordo com o Podemos e não. Por outro lado ainda a nova geração moderada corporizada por Susana Díaz que também defendia a viabilização dum governo do PP. Os tempos passando e, por fim, ficou apenas Pedro Sanchez aferrado ao seu não que, na realidade, era a única forma que tinha de aferrar-se ao lugar. Lembremo-nos que Pedro Sanchez é um zé ninguém que foi arvorado em líder partidário e sabe perfeitamente que voltará ao seu apagamento que, de resto, dada a mediocridade da pessoa, é o natural.

    Não é certo que após as primeiras eleições tenha sido o Podemos a inviabilizar uma geringonça à Espanhola. Aliás, PSOE + Podemos + Partidos independentistas não somavam os 176 deputados necessários a uma investidura. Seriam sempre necessários os votos do Ciudadanos com quem o PSOE fez um acordo pós-eleitoral. E não com o Podemos. O Ciudadanos, sim, veta o Podemos directamente e sem remédio possivel precisamente devido à questão da unidade territorial de Espanha. Foi com Albert Rivera que Pedro Sanchez se aliou para tentar formar governo e não com Iglesias. E assim se chegou às segundas eleições nas quais o PP subiu a sua votação à conta do Ciudadanos e do PSOE, de ambos. Dada a nova configuração do Congresso o Ciudadanos optou aqui por aliar-se ao PP e procurar trazer o PSOE para um acordo que permitisse a existência dum governo do PP com reais condições para governar. Pedro Sanchez aferrou-se a um não absurdo e desesperado que a nada iria levar. Os importantes do partido apelaram várias vezes à abstenção que permitisse viabilizar o governo do PP. O futuro era ou o que aconteceu ou novas eleições em Dezembro. Felizmente aconteceu o que aconteceu.

    Em relação ao futuro e a algumas coisas mais tomo a liberdade de copiar aqui algo que enviei esta manhã por mail a alguém com quem me correspondo mas que serve perfeitamente de comentário ao resto do seu post. Dado o alargado deste colocarei esse texto no comentário seguinte.

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  2. Venho seguindo com atenção a situação no PSOE em Espanha dada a importância que essa coisa tem para Espanha e para a Europa. Aquele idiota que por lá esteve é exemplo crasso de pastor arvorado em dono de quinta. Um tipo medíocre sem quaisquer aptidões nem curriculo minimamente apelativo que chegou à liderança do PSOE sem ele saber como embora os barões do partido saibam bem porque é que puseram tão obscura personagem no cadeirão: para queimar. Só ele não percebeu isso e tentou desenhar um projecto de poder pessoal a partir daí mas não tem a inteligência suficiente para uma coisa dessas e acabou a levar o PSOE de derrota em derrota, cada uma mais vincada do que a anterior. Um desastre sem paliativos que à medida que se desenrolava levou a que o burro se afincasse cada vez mais à liderança como nunca tinha acontecido antes. Na semana passada, finalmente, as gentes decentes que há naquela casa começaram a mexer-se e finalmente conseguiram correr com o estúpido. Para ele era também uma questão de sobrevivência pessoal dado ser um tipo sem quaisquer horizontes profissionais e que sabia (vá lá, até aí chega, penso) que sendo apeado iria voltar à obscuridade onde estava antes. Até Zapatero que foi Presidente do Governo foi remetido a essa obscuridade precisamente por ser um cretino quando mais este que conseguiu levar o PSOE ao seu pior resultado desde a transição democrática. Pior, só durante a II República com os tenebrosos Largo Caballero e Indalecio Prieto dos quais este aventureiro inconsciente se sente (e é, realmente) herdeiro político. E, tal como eles, conseguiu levar o PSOE aos seus piores resultados de sempre. Gente muito mais próxima da esquerda comunista do que dos valores sociais-democráticos do PSOE da transição que Felipe cimentou e a sociedade Espanhola abraçou. Com isto tudo, porém, conseguiu que Espanha estivesse sem governo ao longo de todo este ano de 2016 e teve ainda o malefício acrescido de ter dividido sensivelmente a sociedade Espanhola, radicalizando muito os votantes ferrenhos do PSOE.. Os importantes do partido, começando por Felipe Gonzalez e acabando em Rubalcaba, não têm perdido uma oportunidade para desancar na criatura e com razão. Este tipo foi uma tragédia para Espanha e para o seu partido. Pese embora não ter votado nunca no PSOE, se em democracia, vejo-o como um partido imprescindível para o Reino e não desejo nem vejo com bons olhos a sua desgraça. Vamos a ver quem será o próximo líder (talvez a andalusa Suzana Díaz) mas seguramente será alguém com disponibilidade para investir um governo do PP e dar-lhe condições de governabilidade.

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  3. Um aspecto interessante do PSOE e da sua importância para a democracia Espanhola vem ainda dos tempos do Generalíssimo. Franco sabia perfeitamente que Don Juan Carlos iria abrir e democratizar o regime. Sempre o terá sabido mas, se dúvidas ainda tivesse, em 1973, com o assassinato do Almirante Carrero Blanco tê-las-á perdido por inteiro. E, evidentemente, tinha noção da importância que o PSOE viria a ter numa futura Espanha democrática como escape contra o comunismo exactamente como tinha acontecido na Segunda República até Largo chegar à chefia do partido. Precisamente por esse motivo a repressão ao PSOE era muito ténue sendo o partido vagamente tolerado desde que não agitasse demasiado as águas e havia até ordens expressas para «Isidoro», o nome de Felipe Gonzalez na clandestinidade, ser de alguma forma protegido e não ser preso. Na realidade foi-o uma vez mas rapidamente libertado. Nunca as restantes esquerdas tiveram tais benesses, nem sequer no tardo-Franquismo. Os poucos comunistas que ainda restavam no Reino continuavam a ser durissimamente reprimidos e tanto Santiago Carrillo como aquela mulherzita esganiçada só voltaram a Espanha já depois da morte do Generalíssimo. Esses dois sabiam perfeitamente que enquanto o Chefe de Estado fosse vivo o que tinham de mais certo se fossem apanhados no Reino era uma anónima campa rasa. Literalmente. O contraste entre o tratamento dado ao PSOE e ao PCE é um dos aspectos que mostra que Don Francisco tinha perfeita noção da abertura e democratização que viriam com Don Juan Carlos e da importância que o PSOE teria numa futura Espanha democrática. Este arrivista sem escrúpulos que por lá andou nos últimos tempos desbaratou grande parte dessa importância. Espero que o PSOE possa voltar a ser o grande partido que foi.

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  4. "Para mais, uma parte substancial do PSOE (que governa na Andaluzia, etc.) nunca permitiria aventuras que colocassem em causa a unidade de Espanha. Daí que nunca haveria uma gerigonça em Espanha.

    Mas o PSOE, sim, procurou uma gerigonça. Tudo fez para a encontrar."

    O motivo porque a "geringonça" falhou em Espanha foi (pelo menos oficialmente) porque o Podemos exigiu um referendo na Catalunha e o PSOE não aceitou essa exigência; se o motivo foi mesmo esse, acaba por confirmar a análise original, que o problema era que parte do PSOE nunca aceitaria por em causa a unidade espanhola.

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  5. Bastaria ao Podemos abster-se em março para haver uma geringonça em Espanha. O Podemos votou contra. Não foi pelo referendo na Catalunha ou por lugares ministeriais, não foi por ter que tolerar Cs no governo. Foi porque o sorpasso era mais importante que eliminar Rajoy. Se a prioridade fosse acabar com Rajoy ter-se-ia abstido em vez de votar contra.

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  6. O PSOE tudo fez sim para haver uma geringonça. Dada a distribuição de deputados ela só seria possível se incluísse o Cs. A única fórmula possível para isso era um entendimento PSOE/Cs viabilizado com a abstenção do Podemos. O contrário, PSOE/Podemos viabilizado pelo Cs, era impossível. Portanto não me parece certo que quem impediu a geringonça foi a ala espanholista do PSOE mas sim o Podemos.

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  7. Nuno, se o Podemos se tivesse abstido em Março, quanto muito, teria havido um governo PSOE + Ciudadanos mas nem iss0, muito provavelmente. Só houve 130 votos a favor, os do PSOE e do Ciudadanos e 219 votos contra. Se a estes 219 subtrairmos os 69 do Podemos e filiais ficam ainda 150 votos contra o que inviabilizaria a investidura de Sanchez desse por onde desse.

    Ciudadanos e Podemos vetam-se mutuamente. Aliás, no estilo boçal a que a ralé do Podemos já nos vem habituando, Iglesias trata repetidamente Alberto Rivera pelo depreciativo "Laranja Mecânica". São dois partidos totalmente opostos e que se vetam mutuamente. Se Sanchez se tivesse aliado ao Podemos aí então o veto seria do Ciudadanos e ficar-se-ia na mesma. Um governo formado ou pelo menos com apoio no Congresso de Podemos + filiais + todos os independentistas é algo em que nem vale a pena pensar dado ser inviavel. Os independentistas têm também vetos cruzados entre si e é um saco de gatos. CDC e ERC, depois da débacle catalã não podem ver-se, o PNV não se quer misturar com a ERC, enfim, não conseguem entender-se de forma alguma. Aliás, vai ser interessante ver como se formará o próximo governo autonómica das Vascongadas.



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    1. É verdade que o PSOE+Cs+CC somavam 131 votos mas esses votos eram mais que os 123 votos do PP. Matematicamente a abstenção do Podemos+IU seria insuficiente dado somarem apenas 71 votos. Mas, tal como foi comentado na altura, os outros três partidos (DL+PNV+ERC) fizeram depender a sua inclinação de voto (abstenção ou contra) de um conjunto de fatores. Não me parece que, com a abstenção do Podemos+IU, algum desses três partidos se fosse aliar com o PP para manter Rajoy em funções. O meu raciocínio é pois que, com a abstenção do Podemos+IU, a votação seria 131 a favor, 123 contra e 94 abstenções (Bildu não conta para o efeito). Que seria um governo fraquíssimo e débil por um período curto, sem dúvida. Tal como será o governo minoritário de Rajoy. Mas era a única gerigonça possível (note-se que por gerigonça entendo um governo que exclui o partido mais votado e não necessariamente uma coligação formal de socialistas com a esquerda radical e comunistas). Porque PSOE+Podemos somavam apenas 161 contra 164 de PP+Cs+CC. Dado isso, foi a opção de Sánchez pois sabia muito bem que era a opção mais viável (já a adesão de Cs é outra coisa). Não havia outra. E, sabemos agora, que era a última oportunidade. Depois de junho, o PP passou a somar mais que PSOE+Cc+CC pelo que a abstenção de Podemos agora sim deixou de ser suficiente.

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    2. Nuno, não dou nada, mas nada mesmo como certo que DL+PNV+ERC mais o Bildu se abstivessem de forma a viabilizar um governo com a presença do Ciudadanos, um partido Espanholista que põe a unidade de Espanha à frente de tudo o resto e a isso vinculou Sanchez. A própria IU dificilmente se absteria nesse momento. A sua coligação com o Podemos é posterior. Nessa altura ainda andavam cada um por seu caminho.

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    3. Se assim for, e poderia ser, não havia saída para o PSOE. Outra geringonça qualquer era matematicamente impossível (com ou sem estratégia de sorpasso do Podemos). Viabilizar Rajoy é o suicidio político do PSOE. Portanto, fosse quem fosse o SG do PSOE, o destino estava traçado- implosão e irrelevância. Sinceramente acho que o Sánchez fez o melhor possível mas pelos vistos a escolha era entre implodir mais cedo ou implodir mais tarde.

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    4. O resultado das eleições de 20 de Dezembro de 2015 foi a tempestade que Sanchez colheu com os ventos que semeou. Tentou copiar o Podemos e tentar ocupar esse mesmo espaço mas, claro, entre a cópia e o original os eleitores que estão nesse quadrante preferiram o original e foram para o Podemos. Os que nunca votariam Podemos, assustados com o disparate, foram para o Ciudadanos, naturalmente. E assim perde Sanchez as eleições. Esse dia foi aquele em que Sanchez foi chamado a prestar contas sobre a sua actuação nos tempos precedentes e o eleitorado chumbou-lhas. Se tivesse viabilizado um governo de Rajoy não me que parece que tivesse sido um suicídio político para o PSOE embora, sim, sê-lo-ia sem qualquer dúvida para o seu líder. E a Sanchez a sua posição é precisamente o que mais o preocupa.

      Uma grande parte do eleitorado do PSOE não se revê, de todo em todo, em aventureirismos de extrema-esquerda. A sociedade Espanhola abraçou a social-democracia do PSOE e continuaria a votar num PSOE que mantivesse essa matriz. Zapatero perdeu as eleições em 2011 não apenas por causa da crise económica mas sobretudo porque o eleitorado não confiava num presidente do governo demasiado esquerdo como era o caso para a resolver. Sanchez está ainda mais à esquerda que Zapatero e perdeu ainda mais eleitorado, claro. Mesmo viabilizando um governo Rajoy e dando-lhe condições de governabilidade não vejo que o PSOE implodisse politicamente. Provavelmente o partido correria com Sanchez e outro qualquer poderia recentra-lo na sua matriz e no seu espaço político tradicionais. Iria requerer trabalho de formiguinha, claro que sim, mas não vejo que em 2019 houvesse uma hecatombe. Para isto, porém, era preciso alguém com vistas largas e dois dedos de testa. Não serve um pateta qualquer.

      Entretanto os resultados desta vergonheira toda estão a ver-se e a sondagem que saiu hoje não apenas dá conta do PSOE ficar atrás do Podemos mas também que o PP ganharia substancialmente com tudo isto. Sendo que o PSOE passa ao terceiro lugar nacional não porque o Podemos ganhe eleitorado (pelo contrário, perde ligeirissimamente em relação às eleições anteriores) mas sim porque perde um número significativo de votos que, em muito larga percentagem, vão para o PP.

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    5. Comecemos por onde concordamos - o PSOE teve uma hecatombe durante a liderança de Sánchez; negar isso é ideologicamente cego.

      Agora vamos ao que eu quero entender mas não consigo - como é que a alternativa à estratégia do Sánchez seria uma hecatombe menor. Suponhamos que viabilizava o governo do Rajoy logo em março. Como estaria hoje o PSOE acima dos atuais 22%? Era gente do PP ou Cs que afinal ia votar no PSOE? Ou era gente do Podemos que gostava de um governo Rajoy e por isso ia votar no PSOE? Ainda não consegui entender onde está esse eleitorado importante do PSOE que quer um governo Rajoy e por isso recusou votar Sánchez duas vezes?

      Na verdade, este artigo responde, http://blogs.elconfidencial.com/economia/laissez-faire/2016-10-03/crisis-psoe-por-que-ha-estallado-el-partido_1269333/. Se o PSOE virar para o Podemos, perde eleitorado no segmento 5-6…. Se virar para o PP, perde eleitorado no segmento 1-4… Portanto, o PSOE perde sempre… Com ou sem Sánchez, seja quem for o SG do PSOE, o PSOE perde sempre…. mas perde muito mais se virar para o PP (cerca de 2/3 do seu eleitorado) do que se virar para o Podemos (1/3 do seu eleitorado)… as contas do autor mostram, como ele diz, que é natural que existam divergências internas sobre como perder menos votos… mas mostram também que a alternativa à estratégia do Sánchez é perder ainda mais votos…

      Que a direita defenda que o PSOE devia viabilizar um governo minoritário do Rajoy, percebo. Isso interessa à direita. Agora dizer que isso seria uma estratégia boa do ponto de vista eleitoral do PSOE, sinceramente, não percebo. Qualquer associação do PSOE ao Rajoy, por mais demagogia que façam (abster-se na investidura e nos orçamentos não é apoiar Rajoy), só pode acabar na pasokização desse partido. Gostava mesmo que me explicassem o contrário. Como é que o PSOE cresce associado ao Rajoy?

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    6. Nuno, onde pretendo chegar é a que toda a estratégia de Sanchez foi errada e que os resultados eleitorais de Dezembro são a sua consequência.

      Claro que o PSOE perderia sempre tanto para o Podemos (a ala mais esquerda) como para Ciudadanos (o centrão que oscilava entre PSOE e PP e tmm agora mais uma alternativa). Agora, ao disputar taco a taco com outro partido pois aí é a história do original e da cópia. Se se tivesse mantido no seu lugar tradicional e natural muito provavelmente a hecatombe não teria sido a que foi e os resultados em Dezembro teriam sido menos desfavoraveis ao PSOE. A fuga de votos tanto para o Podemos como para o Ciudadanos deve-se a uma enorme desconfiança desses eleitores com Pedro Sanchez. Outra actuação antes das eleições - denunciando o Podemos como o que realmente é mas em simultâneo demarcando-se do PP e assumindo-se como a alternativa social-democrata que sempre foi - penso que teria gerado maior confiança nos eleitores volateis e permitido ao PSOE um resultado muito melhor do que aquele que obteve. Conseguiria penetrar muito mais no centrão e não só não perder tanto para o Ciudadanos e para o PP no 5-6 como, sobretudo, não perder tanto para o Podemos no 1-2. Os votantes do Podemos não são fixos, definitivos e imoveis. O crescimento do Podemos não é uma inevitabilidade. O PSOE, por medo do Podemos, adoptou uma postura de aproximação. Mas não há que temer o Podemos. Há que combatê-los e denunciá-los como a ralé que são. Onde existe agora um Podemos que passa sem ataques de nota haveria um Podemos acossado precisamente pelo partido que mais lhe pode disputar eleitorado, o PSOE.

      O voto dos eleitores não é fixo e há uma porção importante de gente naquele centrão que oscila entre os dois partidos de poder. Em Espanha como na generalidade dos países onde o bipartidismo é regra. Sanchez perdeu-os e as eleições foram o resultado disso. E perdeu também para o Podemos os do outro extremo ao tentar ser cópia do original e mesmo legitimar o original como se de gente séria se tratasse. Ao fazê-lo perdeu a sua identidade própria e deixou de ter qualquer relevância dado ter abdicado daquele que foi tradicionalmente o seu espaço natural.

      Ora, já com o mal feito e a hecatombe eleitoral diante dos olhos ter viabilizado um governo Rajoy (diferente de associar-se) logo em Março permitiria ao PSOE não ter que submeter-se a outro acto eleitoral e ganhar tempo para se recompôr por forma a conseguir conquistar o seu eleitorado tradicional ali entre o 3 e o 5 e fazer frente ao Podemos denunciando-o como a extrema-esquerda que realmente é o que, a seu tempo, talvez conseguisse atira-lo para uma votação semelhante àquela que a IU tinha, eventualmente pouco mais, recuperando assim o PSOE o seu espaço também nos votantes à roda do 1-2.

      Seria uma estratégia de longo prazo, naturalmente. Mas com o mal já feito não restava muito mais. A alternativa viu-se no que está a dar. Ver o PSOE a aparecer com 18,6% numa sondagem é mau demais para ser verdade. Embora, vendo por outro lado, torna muito mais possivel um governo PP-Ciudadanos agora. O problema é o futuro...

      O meu ponto acima de tudo é placar o Podemos mas isso só em muito pequena medida, quase negligenciavel, pode ser feito pelo PP ou pelo Ciudadanos. Só o PSOE pode faze-lo como, antanho, placou o PCE. Claramente não é tentando ser uma cópia do Podemos que consegue desinsuflar este. Vendo a questão apenas por uma prisma partidário de curto prazo tudo isto beneficia, evidentemente, o PP. O problema pode vir (e virá certamente) no futuro. Não podemos pensar que haverá governos PP eternamente e se o Podemos se constitui como a única alternativa de governo pois é muito certo que um dia chegará lá. E isso será uma tragédia para Espanha. Há tempos respondi a alguém, perguntado directamente sobre se preferia um governo Podemos ou guerra civil, que então a guerra civil. Que, de resto, não penso, de todo em todo, que venha a existir mas perante um governo Podemos não excluo uma intervenção das forças armadas num prazo relativamente curto, 2-3 anos.

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    7. Agora percebo a divergência de fundo. Eu simplesmente acho que o PSOE nunca se vai recompor se viabilizar Rajoy. Não ganhará grande eleitorado ao centro e perderá a esquerda, fará sim um grande favor ao Podemos que ultrapassará a sua própria crise interna com a possibilidade de um novo sorpasso. os votos que possa recuperar ao Cs, uns 5% no máximo, não compensam a fuga de outro tanto para o Podemos porque simplesmente, com isso, haverá sorpasso.

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    8. Essa visão é muito fatalista e, devo dizer, tenebrosa.

      O que o Nuno diz equivale a assumir que o Podemos está para ficar e que vai para percentagens acima dos 35-40%. Não consigo ver esse cenário. Uma votação tão maciça na extrema-esquerda é algo que não consigo ver, em absoluto, na sociedade Espanhola. Penso que a seu tempo o Podemos irá desinsuflar. Aliás, das eleições de Dezembro para as de Junho a soma de Podemos com as suas filiais e mais a Izquierda Unida redundou em menos um milhão de votos que foram engrossar a abstenção. As sondagens, ainda que de forma algo ténue por hora, indicam que o Podemos chegou ao seu tecto e já não terá muito mais por onde subir. Pessoalmente penso que o que pode é cair dependendo do que faça o PSOE.

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  8. Acho bastante deslocado, Zuricher, alguém se referir ao assassino Francisco Franco, "Paquito", como Don Francisco. E acho também um devaneio pensar-se que Paquito sabia que João Carlos iria tentar democratizar o regime. Paquito terá dado voltas na cova quando isso aconteceu. Os tipos do PSOE eram melhor tratados que os do PCE do mesmo modo que Mário Soares & Associados eram melhor tratados que os tipos do PCP, o que não significava que Salazar ou Caetano o fizessem por acharem que alguém iria democratizar o país.

    Só nos faltava agora eregir-se, a título póstumo, Francisco Franco como protozoário da democracia espanhola, ou do "Reino", como você gosta de dizer.

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    1. Alexandre, dou ao Generalíssimo o Don porque reconheço vários e diversos méritos à pessoa pelo que foi, pelo que fez e pela Espanha que deixou comparada com a que encontrou. Não irei aprofundar porque faze-lo não seria um comentário num blog mas sim um livro inteiro mas, se quiser, podemos falar de aspectos específicos.

      Quanto ao conhecimento de que Don Juan Carlos iria democratizar o regime, há vários indícios que apontam nesse sentido. Acima aludi à tolerância com o PSOE que, no contexto Espanhol, é bastante significativa. Não pode comparar com a tolerância ao Soares & Amigos em Portugal dado a repressão política em Espanha ter sido substancialmente diferente daquela levada a cabo durante o Estado Novo tanto em termos metodológicos como de abrangência. Há ainda outros factores. Um, primordial, as próprias conversas do então sucessor, Don Juan Carlos, com o Generalíssimo, aquele perguntando a este porque não abria um bocadinho a mão e este respondendo que isso era para ele, Juan Carlos, porque ele, Franco, já não podia mudar. Conversas semelhantes houve também com, por exemplo, Miguel Primo de Rivera (filho do ditador e irmão de José António), respondendo o Generalíssimo que isso eram coisas para eles, jovens e não para um velho. Acabou por ser precisamente este Primo de Rivera quem apresentou nas Cortes a Lei para a Reforma Política, oitava e última das Leyes Fundamentales del Reino, que abriu o caminho para a transição política em Espanha. Não uma transição rupturista mas sim "de la ley a la ley a través de la ley" como muito bem explicou Don Torcuato Fernández-Miranda. Ainda nesta linha a frase de Franco dizendo a Don Juan Carlos que ele teria que fazer coisas diferentes é muito significativa. Indo agora ao Movimiento Nacional, pilar de sustentação do regime, Franco não só nunca tentou vincular Don Juan Carlos com o Movimiento como, a partir de 1969 após tê-lo nomeado seu sucessor como Rey, tentou mesmo afasta-lo, declinando a presença do então Príncipe de España nos eventos associativos. Tocando agora noutro ponto, Franco nunca pediu a Don Juan Carlos que mantivesse o regime. A única coisa que lhe pediu - em palavras do próprio Rey Emérito - foi que preservasse a unidade de Espanha. Nada mais do que isto. Há alguns aspectos mais mas parece-me que estes bastam para se conseguir perceber um pouco o conhecimento de Franco quanto ao futuro após a sua morte e a sua conformidade com esse futuro. Contrariamente ao que a propaganda tenta fazer passar, o Generalíssimo não era um burro inepto. De todo, mesmo. Era extremamente lúcido e, isto já dos seus tempos militares, tinha uma intuição muito forte que, não raro, desarmava os seus inimigos e detractores antes destes poderem levar a cabo os seus intentos. Isto aconteceu tanto enquanto militar, no Rif, como posteriormente tanto no plano militar, durante a Guerra Civil, como no plano político que o levou à Chefia de Estado e do Governo e a manter-se aí pese os obstáculos que havia, mesmo dentro do Regime e da própria instituição militar, mormente nos momentos, primeiro logo a seguir ao final da Guerra Civil e, segundo, após o final da Segunda Guerra.

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    2. Na realidade não era só o Generalíssimo que tinha noção da abertura que aí vinha. O próprio bunker, constituído por alguns indefectiveis como Blás Pinar, Girón de Velasco, José Luís Arrese, o próprio Presidente do Governo, Carlos Arias e outros do mesmo género, também intuia algo do género e daí adveio, após a morte de Franco, as suas tentativas para sabotar Don Juan Carlos que culminaram, em 1981, com o 23-F, descontando já as tentativas anteriores, todas abortadas, e uma posterior, em 1985, sobre a qual não se sabem pormenores mas foi enunciada há uns anos por Felipe Gonzalez. De resto, pelo circulo de amizades políticas que foi congregando à sua volta a partir de meados/finais dos 1960s, Don Juan Carlos foi sinalizando para onde caía o seu projecto para Espanha. Rodeou-se precisamente daqueles dentro do Movimiento que preconizavam a abertura que veio a acontecer. Gente com outras ideias como Torcuato Fernández-Miranda ou Adolfo Suarez e militares como o General Gutierrez Mellado. Ao mesmo tempo que declinava a presença dos ultras, principalmente dos Falangistas, mais do que no estritamente necessário.

      Em resumo, caro Alexandre, há vários aspectos que me levam a crer que Franco sim, tinha consciência de que Don Juan Carlos iria abrir o regime e acabou por conformar-se com esse porvenir. A Espanha dos 1970s não era a Espanha dos 1930s e o Generalíssimo sabia-o. Provavelmente não teria ideia da extensão dessa abertura e, principalmente, que ela iria acabar por incluir também os vermelhos, algo que mesmo alguns dos aberturistas dentro do Movimiento (Don Torcuato, por exemplo) não pensavam que viesse a acontecer. Mas sabia que alguma abertura viria, indubitavelmente e dela um regime de alguma forma democrático.

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    3. Pois bem: toda essa suposta noção que Franco teria da evolução após a sua morte nunca amorteceu os seus mais baixos instintos, que permaneciam os da Guerra Civil. Trinta anos depois do final desta, ainda ele mandava executar pessoas apenas por terem combatido do "lado errado".

      E, não, não seria burro: era militar e galego.

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    4. A que se refere especificamente, Alexandre?

      A pena de morte em Espanha vigorou até à Constituição de 1978 tendo as últimas execuções acontecido em 1975. Nem sequer foi o país com a pena capital até mais tarde. Em França só foi abolida em 1981 e a última execução tinha sido em 1977.

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    5. Refiro-me especificamente àquilo que acima escrevi, Zuricher: trinta anos após o final da Guerra Civil, ainda combatentes do "lado errado" eram executados. Não tenho aqui nomes, nem locais, mas pode consultar o livro que deixo referido no link abaixo.

      A sua justificação com o facto de a pena de morte em Espanha ter vigorado até 1978 é uma habilidosa dissimulação. Sabe muito bem que não me refiro a crimes de delito comum. A seguir essa "lógica", poderíamos desde já absolver Staline de muitos dos seus crimes, pois a pena de morte vigorava na União Soviética.

      http://www.nytimes.com/2012/05/13/books/review/the-spanish-holocaust-by-paul-preston.html?_r=0

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    6. Alexandre, nem sequer abri o link mal vi "Paul Preston" ou, como um amigo se lhe refere, "aquele camelo do Paul Preston". Muito pouco se aproveita do que tem escrito sobre Espanha embora seja profícuo no tema. E tem uma discípula, Shelagh Ellwood, que lhe segue as pisadas plenamente. Os livros de Preston têm erros factuais e distorções graves. Paul Preston, para sustentar as suas teses consegue o prodígio de inverter a ordem de factos durante a II Guerra. Além de que os seus livros têm demasiados considerandos pessoais para o meu gosto. Directamente é um autor que não leio. Li um livro dele e chegou. Serviu-me para rapidamente perceber o calibre do personagem mas aceito que quem ler aquelas coisas sem conhecimentos prévios da história de Espanha engula tudo certinho, direitinho.

      Em todo o caso não faz, sequer, muito sentido que em 1969 ainda fosse condenada à morte gente por coisas passadas durante a guerra civil. Aliás, nesse ano foi publicada uma amnistia geral para tudo o que aconteceu antes de 1 de Abril de 1939. E, por outro lado, também não faz sentido dado o que aconteceu após a guerra aos membros do bando republicano. Primeiro, não é, de todo em todo, certo que todos os combatentes do bando republicano tenham sido presos ou executados. Passaram, sim, por campos de triagem para ver quem tinha cometido crimes fora do âmbito da guerra mas a esmagadora maioria dos que por lá passou foi libertada sem mais trâmites. Os que foram julgados foram-no por assassinatos, roubos, destruição de monumentos e coisas do género. Os que se encontravam nestas condições foram realmente julgados e condenados. Houve cerca de 50000 penas de morte ditadas pelos tribunais militares das quais foram executadas cerca de metade. As restantes comutadas em prisão perpétua mas de perpetuidade muito reduzida dado entre amnistias e perdões vários a média de cumprimento de penas fosse de escassos seis anos. Houve uma primeira amnistia para os condenados até 20 anos de prisão. E depois foram-se seguindo a tal ponto que nos finais dos '40s já poucos restavam nas prisões dos tempos da guerra. Havia ainda uma forma de reduzir bastante as penas de prisão que era a redênção pelo trabalho com cada dia de trabalho a reduzir de dois a cinco dias à pena de prisão. As penas de morte ditadas logo a seguir à guerra foram imediatamente executadas. Em meados dos 1940s já nem se pensava nisso e nem tenho notícia de ainda haver julgamentos por coisas passadas durante a guerra nessa altura. Seria, portanto, particularmente estranho que em 1969 ainda algum tribunal em Espanha andasse a julgar e a condenar a penas de morte gente por o que quer que seja passado durante a guerra. Mormente tendo em conta a amnistia desse ano. Decreto-ley 10/1969 de 31 de Março.

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    7. Não fico surpreendido com o seu azedume perante a referência a Paul Preston: ele está para os franquistas como Aleksandr Solzhenitsyn está para os adoradores do "sol que nos aquece".

      Quase que ouvia, em fundo, o "Cara al Sol", enquanto o lia debitando friamente os números da matança franquista no pós-Guerra, sem esquecer os campos de reeducação (a "redenção pelo trabalho" - essa quase me gelou, pois lembrei-me do portão de Auschwitz).

      Parecendo-lhe ou não estranho, reitero que, trinta anos depois da Guerra Civil, ainda se executava combatentes do lado republicano . Presumo que isso metesse tribunais - mais ou menos fantoches - pelo meio.

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    8. Não é azedume, Alexandre. É pura realidade. Compare o trabalho de Preston com o de Stanley Payne, Khamen, Thomas ou mesmo Pío Moa. Onde Preston fala, fala, fala que nunca mais se cala, estes que citei apresentam dados e as fontes primárias a partir de onde os obtiveram. Onde Preston se limita a debitar ideias suas, meias verdades e factos sesgados, os outros mostram números, gráficos, citações de fontes primárias, testemunhos, etc, etc. Compare a lista bibliográfica dos livros de Preston com a lista bibliográfica do que tem sido escrito por aqueles que citei. Verá uma diferença tanto quantitativa como, sobretudo, qualitativa muito notória.

      O que esperava que eu fizesse mais do que debitar números? As coisas contam-se em números. Até os mortos. 1 morto, 2 mortos, 3 mortos, 0 mortos.

      Cada um é livre de escrever o que quer, caso de Paul Preston, tal como cada um é livre para fazer as profissões de fé que bem entender. Querendo isto dizer que o Alexandre é livre para acreditar em Paul Preston mesmo no que ele diz sem substanciar e corroborar. Eu não sou nem nunca fui assim tão crédulo.

      Paul Preston não causa azedume nos Franquistas. Paul Preston causa azedume em toda a gente séria que conhece um bocadinho da história de Espanha, gosta de Espanha e lamenta ver a sua história tão assassinada por um Inglês para gáudio da Academia de Madrid. O que não é de admirar dado serem na sua generalidade gente de esquerdas que baba ao ver um Britânico a escrever o que Preston escreve. Ser certo ou não é irrelevante. Mas, claro, a qualidade dessa gente vê-se quando atacam Pío Moa, o seu ódiozinho de estimação. Como não podem atacar o que ele escreve e contrapôr aos dados que apresenta outros (isto porque uma parede branca é branca por muito que queiram que ela seja negra) atacam a pessoa até já tendo chegado ao ponto dum qualquer (nem sei quem mas ao fazer um ataque destes será certamente alguém insignificante) ter dito que Pío Moa não tinha credibilidade por não ser catedrático... Eloquente qb!

      Seria tudo tão mais fácil se, já que não podemos correr com a propaganda no presente, pelo menos conseguissemos ver-mo-nos livres dela em relação ao passado...

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    9. Além do Paul Preston, Zuricher, li o Hugh Thomas - que refere - e o Anthony Beevor, acerca da Guerra de Espanha. Não me cinjo às opiniões do Preston - cuja biografia de Franco, ao contrário do que diz, está repleta de notas e referências às fontes.

      Mais difícil do que vermo-nos livres da propaganda é vermo-nos livres dos factos.

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    10. Alexandre, foi precisamente a biografia de Franco o que li do Preston e deu para facilmente perceber por onde andam os seus interesses. Factos, poucos. Considerandos pessoais, demasiados. Até a "Autobiografía do General Franco" de Manuel Vázquez Montálban lhe é vastamente superior. E não me insulte quando diz que esse livro está repleto de fontes bibliográficas. É que foi precisamente um dos aspectos que reparei e registei a lacuna no livro o que, de resto, explica porque é tão fraco e pouco pormenorizado. Não apenas eram em larga medida muito fracas como bastantes delas (que conheço) serem postas totalmente descontextualizadas e citadas sesgadamente. Fontes primárias, muito poucas. Se a memória me não atraiçoa uma peculiaridade desse livro era o usar e abusar de citações do Arriba que não era mais do que o jornal de propaganda do regime Franquista. Muito fraco para um historiador, não é?

      Em três palavras do seu escrito, porém, o Alexandre resume o problema: "opiniões do Preston". Pois o problema é precisamente um historiador tê-las ou, pelo menos, expressa-las e nisto Preston é muito transparente: não esconde ao que vem e a posição pessoal que tem sobre Franco. E, por mim, prefiro aqueles que se limitam a expôr os factos fazendo eventualmente alguma contextualização onde necessária, deixando as opiniões para os leitores. Aqueles que sabem anular-se e às suas convicções deixando a história falar. É por isto que aprecio muito Pío Moa e Stanley Payne, principalmente. E aqui se nota uma das grandes diferenças. Payne e Moa são atacados como pessoas dado a sua metodologia (sobretudo a de Moa) tornar impossivel atacar o seu trabalho. Já com Preston é relativamente fácil desmontar o que escreve dado ser algo tão grosseiro e vários autores o têm feito não só em livros como também em meras teses académicas. Não causa estranheza, portanto, que Stanley Payne seja membro da Real Academia de História e Paul Preston não consiga lá chegar.

      Num post atrás aludiu a que não pode precisar nomes nem datas. O que é normal em quem lê Paul Preston. Se lesse Stanley Payne ou Pío Moa certamente conseguiria citar todas essas coisas porque os livros destes estão pejados desse tipo de listagens. Mormente numa coisa que seria tão atípica como em 1969 ainda haver julgamentos por factos passados durante a guerra civil. Qualquer destes dois (e outros) não se limitaria a enunciar o facto sem muito sólida corroboração. Não tenho tido vagar e, sinceramente, nem vontade, mas estou certo que se procurar por aí críticas a esse livro vindas de historiadores hispanófilos irei encontrar «boas coisas». No ano, repito, da amnistia geral e altura em que já não se pensava na guerra civil há bem 20 anos e no contexto da Espanha do momento haver ainda algum julgamento e condenação à morte por coisas passadas durante a guerra civil seria algo muito, muito, muito atípico no Franquismo. E, convenhamos, uma compilação destas é relativamente fácil de apresentar dado esses arquivos estarem abertos há vários anos o que, por outro lado, elimina a necessidade de especulação e permite desmontar facilmente os cozinheiros da história.

      Tenho pena de não ter a minha biblioteca comigo e, de memória, não ter vários valores que seria importante ter neste momento. É que um dos que poderia dar-lhe era o número de presos em Espanha em 1949 e desses quantos presos de delito comum e quantos presos políticos. Seria algo eloquente qb também.

      Termino com uma sugestão, o livro "Franco para Antifranquistas" de Pío Moa. Já sei que não irá gostar de o ler, naturalmente. Mas o desafio que lhe lanço, Alexandre, é lê-lo e contrariar objectiva e factualmente os dados que o autor apresenta. Em simultâneo, ao lê-lo poderá contrastar a quantidade enorme de dados objectivos e listas disto e daquilo em que Moa é profícuo com a prosa extensa e opinionativa de Preston.

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    11. "E não me insulte quando diz que esse livro está repleto de fontes bibliográficas."

      Bem, eu falei em notas e referências às fontes (documentais), e estas, num total de 1024 páginas, sã0 3114! Mas as fontes bibliográficas são também numerosíssimas. Não as contei, porque seria mais trabalhoso, já que as notas estão numeradas capitulo a capítulo.

      É claro que o Preston tinha grande antipatia pelo Franco, infelizmente para este debate, pois isso permite-lhe atacar o mensageiro.

      E deixe-me que lhe diga que é um bocado bizantino andarmos aqui às voltas com os supostos executados de trinta anos após o fim das hostilidades (com tempo procurarei isso)quando você mesmo, no seu rol das barbaridades (incompleto)refere 20.000 executados a seguir ao fim da Guerra Civil, o que, presumo, acha naturalíssimo. Foi esse o grande problema de Franco: dividiu a Espanha entre vencedores e vencidos. Por alguma razão o Conde de Barcelona não "ia à missa com o Franco", que caracterizava de "usurpador ilegítimo" e, já agora, foi preterido a favor do filho, precisamente por Franco temer as suas "ideias liberais".

      Ao contrário do que diz, não me causará desgosto algum ler o livro que me reocmenda, pode crer.

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    12. Alexandre, Preston é atacado pela fraca qualidade do seu trabalho. E é tão fácil atacar o trabalho (que não a pessoa em si, enfatizo!) precisamente por ser este de tão fraca qualidade quando não mesmo pior. Algo mais robusto não seria tão facilmente atacado como é evidente. E não é atacado por Franquistas ou só por Franquistas como supõe. É atacado também e em geral por gente que não é afecta ao Generalíssimo. O trabalho de Preston é, sobretudo, atacado pelas pessoas sérias que conhecem um bocadinho da história contemporânea de Espanha. A quantidade de ataques fundamentados (o que directamente exclui logo o cidadão médio e reduz o universo a pouco mais que um punhado de pessoas) que Preston tem sofrido seria incompativel com ter o seu trabalho demolido só por Franquistas. Não há tantos assim, não é?

      Em relação ao resto, Alexandre, tenha paciência mas nem sequer vou abrir novas frentes de conversa. Para disparate já basta o que basta. Essa da divisão de Espanha entre vencedores e vencidos (presumo que o Vale dos Caídos seja a expressão visual dessa história, certo?) e a bizarra simplificação da preferência de Don Juan Carlos em relação a Don Juan a "ideias liberais" deste último ignorando como evoluíram as relações entre Franco e o Conde de Barcelona entre 1936 e 1945, as conspirações deste com Alemães, primeiro, e com os Ingleses quando viu a volta que a guerra estava a dar, o manifesto de Geneva e, sobretudo o Manifesto de Lausana em que Don Juan corta relações com Franco, o Manifesto do Estoril, as conspirações monárquicas fomentadas por Don Juan com alguns oficiais generais com o General Alfredo Kindelán à cabeça, enfim, tudo isto e muito mais é ignorado e simplificado a "ideias liberais" de Don Juan. Pois, Alexandre, tenha paciência mas para esse peditório não dou. Já basta o que basta.

      Perdoe-me a franqueza, Alexandre, mas demonstra claramente não ter nem o conhecimento histórico nem o conhecimento da sociedade Espanhola necessários a sustentar uma conversa destas ao nivel onde pretende mantê-la. E eu, sinceramente, para conversas de café não estou. Folgo muito em ver que aceita ler o livro que lhe sugeri. Cá espero as suas críticas fundamentadas e objectivas (ênfase em fundamentadas e objectivas!). Talvez aí consiga começar a ter uma pequena luzinha (pequena, note, porque para perceber mais aprofundadamente é preciso ler muito mais e de vários autores mais) da evolução da sociedade Espanhola desde os anos '30 e talvez perceba porque é que, em 1969, haver gente condenada à morte por coisas dos tempos da guerra civil é algo tão absurdo no contexto do regime Franquista que, a ter acontecido, teria que ser muito bem corroborado.

      Bem Haja!

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    13. Zuricher,

      Já deixei claro que o meu conhecimento sobre a Guerra Civil de Espanha, seus antecendentes e sequelas, se não resume às leituras que fiz de Paul Preston. Tal como o meu conhecimento, mais geral,da História de Espanha contemporânea.

      Não sou, de facto, um especialista no assunto (mesmo quando falo de temas em que poderei ser considerado "especialista", contudo, nunca uso o "argumentum ab auctoritate", mesmo que inviamente), nem sabia que estávamos a travar um debate de estilo académico e que o meu opositor era, por inferência do que escreve, uma sumidade no assunto, perante a qual eu nem uma pequena luzinha possuía acerca da matéria.

      O seu esforço de branqueamento das atrocidades praticadas pelas forças nacionalistas, primeiro, e pelo regime franquista, depois, não se eleva, contudo, muito acima da conversa de café, motivo pelo qual não entendo que diga que não suporta esse tipo de debate. Essas atrocidades estão na origem desta nossa conversa, e são públicas e notórias, não sendo necessário possuir um PhD em História de Espanha para as discutirmos.

      E agora, se me permite, vou até ao café.

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  9. Caro Nuno Garoupa:
    Penso que não estará a entrar em linha de conta suficientemente com as radicais diferenças entre Espanha e Portugal.
    Em Espanha sempre houve um ancestral radicalismo (teve uma guerra civil violentíssima), o que justificará em boa parte o Podemos como alternativa radical.
    Nós temos os «brandos costumes», que toleraram a Ditadura Salazarista durante 48 anos. Os nossos ancestrais atavismo e conservadorismo, por sua vez, justificam, por um lado, o «fenómeno» da vitalidade do PCP (ele próprio muito conservador e não revolucionário) e por outro lado a contenção eleitoral do BE (penso que estará esgotada a sua progressão eleitoral, dado o carácter urbano do seu eleitorado, o desenraizamento autárquico e a sua inconsistência teórica: ouvir a maior parte daquela gente falar até assusta ou faz rir).
    O PS, apesar de praticamente não ter grandes figuras de referência influentes, apesar das debilidades de vária ordem, apesar da bomba de fragmentação do altamente presumido corrupto Sócrates (bomba que será como as pilhas Duracell, administrada parcimoniosamente pela nossa mais do que duvidosa Justiça no que respeita à isenção e «cegueira julgadora») não terá nem o fim do PASOK nem o caminho do PSOE.
    A não ser que o contexto internacional se degrade de tal modo e as nossas mais do que débeis condições financeiras exijam novo regate.
    Mas nesse caso as razões dessa futura debilidade do PS pouco terão que ver com a sua tese. As sondagens, valendo o que valem, mostram outro caminho.
    E a Direita fanatizada e radical que temos não atrai os eleitores moderados do centro político, outra potencial área de erosão do PS.
    Voltando a Espanha, o crescimento do Ciudadanos ter-se-á feito também à custa de franjas do PSOE, não só à custa do PP, é isso que o PSD actual, do fanático-fundamentalista neoliberal Passos Coelho (e da sua trupe de oportunistas de última hora, Relvas, Marcos Antónios, etc.), terá muita dificuldade em fazer.

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    1. "Nós temos os «brandos costumes»,"

      Maria da Fonte, Patuleia, Noite Sangrenta...

      Eu suspeito que a razão porque em Portugal não houve guerra civil foi sobretudo porque em 1926 a politica europeia (e a portuguesa em particular) ainda não estava tão polarizada numa linha esquerda-direita como em 1936 (p.ex., o Partido Democrático - que pode ser visto como o equivalente da Esquerda Republica de Azaña - era considerado um partido "racha-sindicalistas"; e antes do golpe Gomes de Costa acho que até tinha fama de ser de esquerda; ou seja, não havia "clima" para anarquistas, socialistas e republicanos anti-clericais pegarem em armas para um lado e republicanos conservadores, católicos, monárquicos e fascistas pegarem em armas para outro - isso foi o que depois veio a acontecer nas várias revoltas e conspirações contra a ditadura nos anos 20 e 30, mas aí a relação de forças já era outra).

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    2. A própria I República, Miguel, é toda ela um exemplo de "brandos costumes", e não apenas a "Noite Sangrenta". E podíamos recuar ao Marquês de Pombal, provavelmente o maior facínora da História de Portugal.

      "Portugal, país de brandos costumes" foi uma expressão e invenção de Salazar, que muitos citam sem saber quem foi o seu autor.

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  10. " é isso que o PSD actual, do fanático-fundamentalista neoliberal Passos Coelho (e da sua trupe de oportunistas de última hora, Relvas, Marcos Antónios, etc.), terá muita dificuldade em fazer. "

    Se for para ter piada, aceito, caso não seja, parece-me que quem analisa assim Passos não pode sequer esperar que o levem a sério.
    Passos é apenas teimoso, o Relvas e os Marcos António são caciques como há em todos os partidos. O resto é conversa da treta. Neo-liberalismo em Portugal com um Estado do tamanho do mundo, que piada.

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  11. «A não ser que o contexto internacional se degrade de tal modo e as nossas mais do que débeis condições financeiras exijam novo regate.»

    Não será necessário o "contexto internacional". O contexto nacional chegará perfeitamente, para mal de nós todos.

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    1. Vivemos num país onde demasiada gente vê tudo o que acontecerá no futuro nmas se recusa a ver o que acontece no presente.
      http://pedrolains.typepad.com/pedrolains/2016/10/o-pa%C3%ADs-das-certezas-sobre-o-futuro.html

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