quinta-feira, 20 de outubro de 2016

Os génios

Barack Obama é um político com um instinto genial. O maior erro dos Republicanos é terem tanto desprezo pelo que ele representa que não prestam atenção ao que ele faz e, por isso, têm vários anos de atraso em termos de gestão de marketing político -- subestimaram um oponente, mesmo depois de ele os derrotar duas vezes. Dado que Obama ainda é um homem relativamente jovem e saudável, se ele continuar envolvido nas campanhas dos Democratas, os Republicanos terão cada vez mais dificuldade em ultrapassar a vantagem comparativa da organização de Obama.

Obama é o editor convidado da edição de Novembro da revista Wired. Facilmente, ele consegue impressionar americanos de diferentes gerações e origens. Bill Clinton também tem o instinto político e o allure, como podem ver num perfil de 2006 elaborado pela The New Yorker. Alan Greenspan acha que Bill Clinton foi o melhor presidente republicano que os EUA tiveram recentemente, mas toda a gente se recorda de Clinton a tocar saxofone em programas como o de Arsenio Hall e de, no seu Baile de Inauguração, reunir uma banda fracturada, os Fleetwood Mac, em palco para tocar "Don't Stop", o hino da sua campanha. Ao fazer uma campanha "suja" contra Obama em 2008, Bill Clinton ficou manchado e perdeu algum do estatuto de "rock star" que tinha. Hillary Clinton nunca possuiu carisma, ela não é tanto uma figura que inspira, é mais uma que transpira: o que os americanos chamam um "workhorse", arregaça as mangas e trabalha, mas não o faz com graciosidade.

Obama, ao escolher Clinton para sua Secretária de Estado, ajudou-a a tornar-se no candidato a Presidente mais qualificado de sempre, nas palavras que ele próprio usou na Convenção dos Democratas, em Julho passado. Não é completamente clara a motivação de Obama para a escolher em 2008. Será que tinha apenas o valor simbólico de reunir uma equipa de rivais, tal como tinha feito Abraham Lincoln? Ou será que ele achou que, ao tê-la a seu lado, o génio político de Bill Clinton poderia ser-lhe útil, como foi durante a campanha para o segundo mandato, na qual Bill Clinton foi a pessoa que conseguiu formular a apologia mais forte para Obama ser reeleito? Talvez passados oito anos, Obama precisasse de alguém que continuasse a sua visão para os EUA e assegurasse que, nos livros de história, ele tivesse a mesma auréola que hoje tem FDR?

Os Clintons são considerados uma pseudo-família real americana, o que ficou claro pela forma como o casamento de Chelsea Clinton, transformada de pato feio num magnífico cisne, foi seguido na Comunicação Social. O nascimento dos filhos de Chelsea têm direito a cobertura mediática semelhante aos de William e Kate, da família real inglesa. Num futuro próximo, serão as filhas de Obama que irão alimentar estas fantasias. As filhas de George W. Bush, que eram muito mais vistosas do que Chelsea Clinton, cuja aparência física foi gozada publicamente por pessoas como Rush Limbaugh e John McCain, não fazem os americanos sonhar.

Antes de Obama, foi Bill Clinton que deu um abanão no Partido Democrata e afastou os tradicionalistas do partido. Tanto Clinton, como Obama, eram pessoas estranhas ao aparato partidário: o mesmo papel que Donald Trump teve no Partido Republicano nestas eleições. No entanto, o efeito que Trump está a ter no Partido Republicano é oposto aos que Clinton e Obama tiveram nos Democratas. Trump destroi, mas não constroi, levando o partido para um beco sem saída; Obama e Clinton são destrutores criativos, abrem novas possibilidades dentro do partido. Agora são ambos insiders em Washington, D.C., o que irá dar uma outra dimensão mediática a uma Presidência de Hillary Clinton.

P.S. Alan Greenspan é outro homem com um instinto político muito aguçado. Podem apreciar a sua argúcia na nova biografia de Greenspan, escrita por Sebastian Mallaby, que foi publicada no dia 11 de Outubro.

9 comentários:

  1. Desde onde vejo a coisa não fizeste favores nenhuns a Obama. De que serve um génio político sem ser um governante genial, também?

    Um dos problemas do Ocidente em geral (não é exclusivo dos US) é haver políticos a mais e governantes a menos. Já nem sequer peço estadistas. Apenas governantes.

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    1. Acho que ele governou bem, dado o país que recebeu. Julgo que, neste momento, ele está a posicionar-se para ser uma das figuras mais marcantes da história dos EUA, no século XXI. Se continuar a influenciar os Democratas, o rumo do país vai ser a visão de Obama e, sim, há a possibilidade de, daqui a 50, 100 anos, ele ser visto como um grande estadista.

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    2. Como um grande estadista... ou como um desastre ainda maior que o Jimmy Carter.

      ;-)

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    3. Jimmy Carter, "cujo", se fosse português, teria tido fortes hipóteses de ter chegado a Secretário-Geral das Nações Unidas.

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    4. Nota-se que vocês os dois são mesmo Republicanos; não teriam feito melhor do que o Paul Ryan em proteger o partido de Donald Trump. Como eu disse no início, o vosso maior erro é desprezar tanto a ideologia que ignoram a metodologia.

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    5. Se é por causa do que digo do Jimmy Carter, descubro agora, portanto, que Edward Kennedy, que o desafiou nas primárias democráticas de 1980, era afinal um "closet Republican".

      E longe de mim desprezar a ideologia.

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    6. Rita, nem sequer é questão de Republicano ou Democrata. É, acima de tudo, Hillary N-Ã-O !

      Quanto ao Obama, não é uma questão ideológica e já falámos mais aprofundadamente sobre isso. Há várias questões internas mas, acima de tudo, o orelhudo deixa um mundo mais perigoso do que antes dele lá chegar. E por culpa sua. Não tenho quaisquer dúvidas que Hillary irá continuar o caminho. Com Trump tudo isto se dissiparia muito. Este é, acima de tudo, o grande motivo para eu dizer directamente que Hillary não.

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  2. «(...)
    Hillary Clinton nunca possuiu carisma, ela não é tanto uma figura que inspira, é mais uma que transpira: o que os americanos chamam um "workhorse", arregaça as mangas e trabalha, mas não o faz com graciosidade.
    (...)
    Então Obama recebe uma tabuleta de classe e dignidade enquanto Hillary recebe uma tabuleta de matrona o que acaba por ser uma pouco subtil forma de discriminação realizada pelos Meios de Comunicação: "Ladies are scaring. A man is a model of class and dignity".

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    1. Não tem nada a ver com os Meios de Comunicação Social. Tem a ver com a capacidade que Hillary Clinton tem de se ligar a uma audiência. Por exemplo, Elizabeth Warren é carismática, consegue inspirar pessoas no geral. Tanto Obama como Bill Clinton conseguem dar a aparência que percebem a luta das pessoas do povo Hillary Clinton tem uma aparência demasiado cosmopolita e projecta ser muito racional e inteligente, o que antagoniza as pessoas porque se sentem inferiores intelectualmente.

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