segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

Leis da natureza na política portuguesa

De tão regular, parece uma Lei da Natureza: sempre que o governo muda de cor, o défice atribuível ao governo anterior é revisto em alta. Durão Barroso, eleito em 2002, mandou fazer uma auditoria às contas Guterres de 2001, concluindo que estávamos de tanga. Em 2005, o governo adoptou tons rosa e logo José Sócrates pediu ao Banco de Portugal que calculasse o défice que teríamos caso o governo PSD/CDS da altura tivesse continuado em funções. Foi o ano em que Constâncio calculou que se o país tivesse ficado nas garras de Santana Lopes o défice seria de 6,83%. Em 2011 a cor de governo mudou. O novo primeiro-ministro, Passos Coelho rapidamente informou o país do “desvio colossal” que encontrou nas contas públicas. Chegados a 2015, uma nova cor de governo toma posse e logo se descobre que afinal as contas públicas não eram tão folgadas como se alardeava. A devolução da sobretaxa desaparece, a almofada financeira encolhe e a meta do défice deteriora-se.

Cada novo governo tem todas as vantagens em destapar as contas do anterior. Nada como mostrar as contas reais do governo anterior para criar uma boa almofada para o novo mandato. Este ano vai ser igual, mas com uma diferença. Como o novo governo vai querer ver-se livre do “procedimento dos défices excessivos” (ou, pelo menos, ver as restrições impostas um pouco aliviadas), o destapar de contas não pode ultrapassar os 3% do PIB. O que ficar acima disso será empurrado para 2016. Tenho assim o prazer de anunciar em primeira mão aos meus leitores na Destreza o valor do défice orçamental de 2015: 2,97%, mais coisinha, menos coisinha.

9 comentários:

  1. Acho que falta uma casa decimal, às milésimas. Nem que seja o zero: 2,970%. É claro que o denominador nem às unidades é definido.

    ResponderEliminar
  2. Convém não confundir os outros com a imensa fraude de Sócrates/ Banco de Portugal com a conivência da comunicação social. Nesse caso tratou-se de inventar um número que permitia ao governo de então subir o défice dizendo que o estava a descer, com base num défice que nunca existiu.

    ResponderEliminar
  3. Como disse o Fernando Alexandre aqui: nunca um governo esteve sob tanta vigilância externa como o anterior; se bem que os portugueses arranjam sempre maneira de fazer uns desvios nas contas. No entanto, entre meter a mão no fogo por Pedro Passos Coelho ou por António Costa, eu meto-a por Pedro Passos Coelho. António Costa não tem qualquer credibilidade.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Mais uma lei da natureza: se meteres as mãos no fogo, queimas-te.

      Eliminar
  4. Concordo. Fez bem o Luís lembrar a previsão que o dr. Constância fez em 2005, a pedido do 1º governo de Sócrates, em que fixou em 6,83% o défice daquele ano, caso nada fosse feito para o evitar. Na época, surpreendeu-me aquele rigor às centésimas - ele podia ter previsto um défice entre 6,5% e 7% e eu teria engolido, agora 6,83% era uma previsão demasiado "fina" e não passou. E, pelo que diz, agora a história não vai repetir-se. Felizmente.

    ResponderEliminar
  5. A desgraça que o último goveno provocou na economia portuguesa não se mede pelo défice do último ano. Vai medir-se, entre outras coisas, pelo sangue arrancado nas suas actividades vitais, os dividendos dos próximos anos das empresas que gerem o fornecimento de serviços básicos, electricidade, telecomunicações, aeroportos, saneamento, serviços postais, serviços bancários, seguros,..., vendidos por tuta e meia a regimes comunistas e outros especuladores. Duas fábricas de papel, uma fábrica de rolhas de cortiça e uns miradouros com turistas não chegam para sustentar um país.

    ResponderEliminar
  6. Luís, se a notícia "viesse" do Governo ou do PS, isso seria verdade. Mas veio da UTAO que, até ver, é insuspeita. Também não me parece que tenha sido "jogada" do anterior Governo, mas uma consequência natural de medidas para retenção de emprego que foram tomadas. O que se passou com o défice é a aplicação do program do PS (não me perguntes se a versão Centeno ou a versão marxista).

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Mas eu não acho que seja jogada. Nem dum, nem de outro.

      Eliminar
    2. Não estou a dizer que achas, apenas que o que passa para fora é isso. Aliás, acham todos que é jogada/desinformação - discordam é de quem a faz.

      Eliminar

Não são permitidos comentários anónimos.